MST completa 20 anos de investimento em arroz orgânico, do qual é o maior produtor na América Latina
Produto é conhecido nacionalmente e atende vários estados brasileiros
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Por Hélio Rocha, especial para Plurale - Há duas décadas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começava seu investimento de maior sucesso desde a sua fundação, em 1984. O conhecido “arroz orgânico” do MST tem suas origens nas necessidades da população rural de superar, na época, a crise na produção desta cultura, em função do alto custo dos insumos e das oscilações nos preços. Não sabiam seus idealizadores que, em 2022, o movimento seria o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, segundo o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), entidade gaúcha fixada no estado que responde por 70% da produção deste alimento no Brasil.
Segundo o produtor Nelson Krupinsk, responsável pelo setor de comercialização, para os agricultores do MST era mais difícil trabalhar com o arroz tradicional, visto que a demanda por venenos contra pragas, muitas vezes, atingia as demais culturas dos trabalhadores.
- O produtor do MST não trabalha com a monocultura. Há também o que ele planta e cria para a sua subsistência, e essas outras culturas acabavam sendo atingidas. Como foi um período em que se iniciou a onda da agroecologia, houve essa discussão no conjunto do movimento, de produzir alimentos saudáveis. Ou seja, tem um princípio estrutural e ideológico – revela.
As famílias camponesas, segundo o MST, pretendem colher, na safra 2022, 15,5 mil toneladas – algo em torno de 310 mil sacas com 50 kg do produto cada, em aproximadamente 3000 hectares. Isso coloca o desafio do escoamento. Atualmente, os principais destinatários são escolas; o programa já atinge os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e alguns estados do Nordeste, além do próprio Rio Grande do Sul.
- O arroz que produzimos também vai para feiras ecológicas e lojas especializadas. Algumas grandes redes também comercializam, mas com marca própria, e temos parcerias com indústrias que colocam suas marcas. Ainda aparece pouco nos grandes supermercados, por conta de mercado e da estruturação dos negócios. É um desafio importante, pelo volume de consumo e abrangência - completa Nelson.
Outra frente importante na produção do arroz orgânico do MST é a parceria com universidades e institutos de pesquisas, que permite não somente a difusão do produto, mas também o seu aprimoramento. - O Irga, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) trabalham na melhoria da viabilidade econômica e da qualidade desta cultura neste modelo, baseada nos princípios da vida, da produção familiar e da agroecologia – destaca.
Com o avanço da produção e da qualificação do arroz orgânico, resta ao MST proporcionar aos seus agricultores formas de difusão do produto, tornando-o recorrente na mesa dos brasileiros. Se, por hora, ele ainda depende de convênios com escolas e universidades, ou fica restrito a lojas especializadas em alimentos orgânicos, o que se espera é que novas parcerias o tornem mais acessível, dos pontos de vista logístico e econômico.
- É o grande desafio – continua Nelson. - A forma como olhamos para o alimento e os princípios ao produzi-lo. A sociedade ainda se conforma com alimentos feitos com veneno, com a agressão ao solo. Quando alinharmos a produção rural com o compromisso ambiental e nutricional para com os brasileiros, teremos alcançado um dos principais objetivos da produção do arroz orgânico pelo MST.
Krupinsk aponta, ainda, a questão dos custos como uma barreira para a inserção do produto no mercado.
- O arroz convencional tem um custo até superior ao do arroz orgânico; mas a produção, por sua vez, também é superior. A produção agroecológica ainda tem menor produtividade por hectare. Temos um grupo, chamado Grupo Gestor do Arroz Orgânico, que atinge umas 300 famílias e tem 3200 hectares certificados, que discute essa questão da luta pela terra, que ainda é latente, por exemplo, com a deriva do agrotóxico de outras terras, do agronegócio.
Experiência prévia ajudou na estabilização do projeto
Quando a iniciativa de produzir o arroz orgânico se iniciou, o trabalho que os sem terra já tinham com a produção familiar - e portanto orgânica - foi a pedra fundamental para que eles partissem para um trabalho mais elaborado e abrangente que, vinte anos depois, seria a maior produção do Brasil. Segundo o coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, Celso Alves da Silva, a relação com os clientes, nas feiras populares, colocou o desafio aos agricultores.
- Num primeiro momento, outros camponeses pequenos do Rio Grande do Sul nos fortaleceram com seus conhecimentos e fomos buscando nossa autonomia na produção, para cultivar e produzir sob o controle dos nossos assentados - explica Celso.
O coordenador lembra que os ganhos sentidos pela população do entorno dos assentamentos foram sendo percebidos. - A agricultura do veneno é uma agricultura em crise profunda, porque agride, destrói e degrada o meio ambiente. E busca, através de transgênicos, outros artifícios de manipulação para se manter, mas vive uma crise de manejo, porque não controla nem os insetos, nem as doenças, nem as plantas espontâneas. E se mostra insustentável dos pontos de vista econômico, da saúde e do meio ambiente – analisa.
Celso espera que o crescimento desse projeto faça crescer o debate sobre a necessidade de produção dentro dos princípios da agroecologia, visto que esta é uma forma de garantir segurança alimentar com sustentabilidade ambiental, dois desafios assumidos pelo Brasil. - É um grande potencial de produzir alimento diversificado em boa escala, para atender às demandas da população, com qualidade orgânica e obedecendo aos princípios da preservação ambiental – aponta.
O componente social também é lembrado por Celso, já que não é empregado maquinário em larga escala; a produção é exercida por camponeses, o que também gera emprego e renda para as localidades em que os assentamentos estão inseridos. São ao todo nove cooperativas, 296 famílias e 14 assentamentos, que se dividem por 11 municípios do estado do Rio Grande do Sul.
- Quem tem relação com terra, gestão, custos, meios de produção, com a comercialização dos seus produtos, ter a sua renda, ter os acertos, os erros, avaliar e planejar, são os camponeses. Numa relação próxima com a natureza e enfrentando todos os desafios. Esta é a grande diferença do ponto de vista social. Um processo cooperado, na cadeia produtiva, entre as famílias, grupos produtivos, assentamentos e cooperativas. Isso nos fortalece como organização para a produção do alimento saudável – orgulha-se.
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