Movimentos pedem "integração cultural" da Amazônia em carta a Lula e Petro

Entre as reivindicações dos grupos está a inserção das manifestações interculturais e a diversidade cultural como temáticas estratégicas

Lula e Gustavo Petro 8/7/23
Lula e Gustavo Petro 8/7/23 (Foto: Cláudio Kbene/PR)


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247 - Uma série de movimentos sociais dos países latino-americanos entregaram uma carta aos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Gustavo Petro, da Colômbia, defendendo a integração da Amazônia a partir das bases culturais da região. Entre as reivindicações dos grupos está a inserção das manifestações interculturais e a diversidade cultural como temáticas estratégicas de desenvolvimento sustentável nas reuniões de Cúpula dos Países da Amazônia.

"Hoje, a Amazônia grita pela nossa existência e percebemos a necessidade urgente de políticas de integração cultural que reconheçam, valorizem e promovam as diferentes iniciativas regionais, com suas singularidades, visões, valores tradicionais e contemporâneos, com respeito à natureza e todas as formas de vida e bem-viver que co-habitam os territórios amazônicos", escrevem os ativistas.

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Na cidade de Letícia, na Colômbia, o presidente Lula participou neste sábado (8) da  Reunião Técnico-Científica da Amazônia. Em seu discurso, o mandatário expôs sua visão para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, passando pela relevância da região como eixo da integração regional. Leia abaixo a íntegra do documento:

Sr. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

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Exmo Sr. Presidente da República Federativa do Brasil

Sr. GUSTAVO PETRO URREGO

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Exmo Sr. Presidente da República da Colômbia

 Assunto:  Integração cultural a partir das fronteiras amazônicas

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 Saudações fronteiriças aos Senhores Presidentes!

Somos cidadãos e cidadãs da Amazônia. Somos artistas, produtores, educadores populares, pesquisadores e ativistas, que reunidos viemos expressar a necessidade de promover a integração cultural entre os países amazônicos, sobretudo na Faixa de Fronteira, onde a cultura é volumosa como os nossos rios, diversa como as nossas florestas e originária/tradicional/contemporânea como os povos que a habitam.

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Lembramos que somos amazônidas, mulheres e homens que coabitam territórios de belezas, majestades e ritualidades ancestrais singulares e plurais. Ao sentir e agir culturalmente, queremos contribuir para a promoção da integração cultural entre os povos que vivem nos territórios-nação que fazem parte da nossa grandiosa Amazônia e de uma rede intercultural latino-americana. Somos milhões de pessoas que convivem em comunidades vizinhas, e temos muitas “confluências” que nos aproximam e até nos unem por meio dos territórios, das artes, das culturas, das línguas e dos saberes.  Somos parte dos povos indígenas, afrodescendentes, e tradicionais que vivem nesta Amazônia de diferentes lugares, e como seres encantados somos árvores, rios e seres sencientes, circulamos no território amazônico da vida.

Hoje, a Amazônia grita pela nossa existência e percebemos a necessidade urgente de políticas de integração cultural que reconheçam, valorizem e promovam as diferentes iniciativas regionais, com suas singularidades, visões, valores tradicionais e contemporâneos, com respeito à natureza e todas as formas de vida e bem-viver que co-habitam os territórios amazônicos.

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Neste sentido, como ativistas brasileiros, colombianos, peruanos, bolivianos, guianenses, venezuelanos e dos demais países, há muitos anos viemos realizando articulações pela integração cultural de povos irmãos, com o propósito de ressignificar e fortalecer as dimensões culturais transfronteiriças. Enquanto ativistas socioculturais expressamos nossos anseios por acordos, tratados e políticas internacionais transfronteiriças que venham a valorizar a nossa diversidade cultural, o nosso ambiente, a nossa história e a nossa gente transamazônica, dentre elas:

1. Inserir as manifestações interculturais e a diversidade cultural como temáticas estratégicas de desenvolvimento sustentável nas reuniões de Cúpula dos Países da Amazônia;

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2. Envolver, de forma participativa os artistas, produtores, mestres populares, representantes de coletivos culturais, comunidades indígenas, pesquisadores das universidades, institutos e escolas, além dos governos municipais, estaduais e nacionais na elaboração de um Plano de Integração Cultural da Amazônia, com vistas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS, que impacte na promoção social, econômica e ambiental da região;

3. Reconhecer e promover as iniciativas e projetos culturais que são realizados nos territórios de integração cultural existentes nas fronteiras Amazônicas;

4. Construir e fortalecer as redes e temáticas de integração promovidas pelos coletivos culturais, para além das fronteiras nacionais;

5. Estabelecer Tratados de Integração Cultural entre os países que formam parte da Amazônia, estabelecendo diretrizes para as regiões de fronteira e os corredores de integração cultural, como circuitos culturais, redes de intercâmbio, cooperação e convivência entre povos;

6. Criar um Fórum Permanente, com representação dos municípios de fronteira amazônica, para elaboração e implementação de políticas públicas de integração cultural e interlocução com os governos municipais, regionais e nacionais;

7. Viabilizar planos e programas governamentais que garantam suporte e recursos para elaboração de projetos culturais transfronteiriços, com ênfase nas práticas interculturais e socioeconômicas sustentáveis dos povos indígenas e tradicionais que habitam a Amazônia;

8. Valorizar e/ou criar mecanismos de reconhecimento e proteção do patrimônio cultural, material e imaterial, da Amazônia;

9. Valorizar o trabalho das lideranças espirituais indígenas, dos mestres griôs e demais mestras e mestres de saberes ancestrais de povos indígenas e comunidades quilombolas que vivem na Amazônia;

10. Reconhecer e estimular as manifestações de resistência que estão presentes nas florestas, nas savanas e nas periferias das cidades, e assim como a contribuição dos povos indígenas, ribeirinhos, seringueiros e quilombolas, para a diversidade cultural e para a formação da singularidade de cada território.

11.  Fomentar projetos como “Pontos de cultura, Feiras do Livro, Festivais de Cinema, de teatro e de outras expressões que possam (re)ativar espaços e processos, que desenvolvam a criatividade, a circulação e apropriação das artes, dos saberes e da cultura viva comunitária;

12. Retomar e implementar o programa Escolas Interculturais de Fronteira, que prioriza as culturas, as artes, as línguas e os saberes;

13. Incentivar os Observatórios de Estudos Fronteiriços que promovem pesquisas científicas e a valorização dos saberes ancestrais e fomentar as pesquisas, publicações, a partir de editais de fomento (bolsas, recurso financeiro) específicos para estudantes e pesquisadores que vivem nas regiões de fronteira.

 Presidentes Lula e Petro, a nossa rede de ativistas, assim como o planeta e quase toda a humanidade, confia e deposita muita esperança na capacidade e criatividade dos seus governos neste novo período de construção e reconstrução de laços e rotas de integração cultural, social, econômica e política entre os países, governos, cidadãos e povos que formam a Amazônia.

Agradecemos a compreensão, na certeza de que vossos governos atenderão o teor desta carta em nome do diálogo e da integração cultural da Amazônia.

Saudações cordiais,

Assinam:

-Agrupación Cultural y Ambiental Luciérnagas. Bogotá. Colombia

-Associação Cultural Waraji, (Fronteira Brasil/Bolívia)

-Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos – APITSM (Fronteira Brasil/Venezuela/Guiana)

-Asociación Chacras para Todos. Mendoza. Argentina

-Centro Cultural Amazónico Araracuara. Caquetá. Colombia

-Centro cultural Vidplan. Uruguay

-Colectivo Cultural Semiósfera, Medellín.  Colombia

-Colectivo EcoeBrasil

Colectivo Mestizo Cultural. La Paz, Bolívia

-Colectivo Tablarte teatro/danza. México

-Coletivo Indígena Mura de Porto Velho- COINMU. Rondônia, Brasil

-Comité Cívico Medellín innovation. Medellín, Colombia

-Comitê de Defesa da Vida Amazônica na Bacia do Rio Madeira – COMVIDA. Rondônia, Brasil

-Compañía Mulato Teatro AC. México

-Corporación Cultura La Cigarra/ El Colegio -Cundinamarca -Colombia

-Corporación cultural Barrio Comparsa

-Corporación Cultural El Totumo Encantado. Necoclí - Antioquia

-Corporación Cultural Nuestra Gente-Medellín. Colombia

-Corporación Cultural para el desarrollo Arlequín y los Juglares. Medellín. Colombia

-Corporación Cultural Teatro del Sur. Bogotá.  Colombia

-Corporación Somos: Arte y Cultura para Antioquia.  Colombia

-Curso de Licenciatura em Geografia - Campus Binacional UNIFAP - Oiapoque (Fronteira Brasil/Guiana Francesa)

-Dandô - Movimento de Arte e Saberes Dércio Marques (América Latina)

-Elemental Teatro • Casa Contenta • Corregimiento Santa Elena • Medellín - Colombia
-Festival Internacional de las Artes MINGA. Caquetá.  Colombia

Fundación Confiar Medellín/ Colombia

-Fundación Cultural Arte Comparte. Caquetá.  Colombia

-Fundación Cultural Kuri Pukuska. Caquetá.  Colombia

-Fundación Cultural Proyecto Maguaré. Caquetá.  Colombia

-Fundación FUNNINCULDE. Caquetá.  Colombia

-Fundación para Proyectos Sostenibles de la Amazonia Continental (Frontera Colombia/Brasil/Perú)

-Fundación Red de Mujeres Afroamazónicas-UBUNTU (FREMA)

-Fundación Tierra Caliente. Jamundi. Valle del Cauca. Colombia 

-Grupo Catalinas Sur. Buenos Aires. Argentina

-Grupo de Estudos e Pesquisa em cultura – GEPCULTURA/UNIR. Rondônia, Brasil

-Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas -GEIFA/ Universidade Federal de Rondônia /UNIR (Fronteira Brasil/ Bolívia)

-Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão sobre Estado e Territórios na Fronteira Amazônica - GEPE-Front/UNIR (Univ. Federal Rondônia)

-Grupo de Pesquisa e de Extensão Fronteiras Regenerativas na Amazônia - Universidade Federal do Acre (UFAC), Campus Floresta

-Grupo de pesquisa e extensão OBECAS - Observatório da educação do campo no Alto Solimões (INC/UFAM) Amazonas

-Grupo de Pesquisa Geografia, Natureza e Territorialidades Humanas – GENTEH. Rondônia, Brasil

-Instituto Amazônia Livre - Amazonia, Brasil

-Instituto Biriba - Capoeira & Arte. Boa Vista, Roraima. Região Norte, Brasil

-Instituto Casa Común. São Paulo, Brasil

-Instituto de Natureza e Cultura/Universidade Federal do Amazonas (Fronteira Brasil/Peru/Colômbia)

-Instituto Federal do Amazonas - IFAM - Campus Tabatinga (Fronteira Brasil/Peru/Colômbia)

-Instituto Fronteiras, Vale do Juruá (Fronteira Brasil/Peru - Amazonas)

-Instituto Madeira Vivo – IMV. Rondônia, Brasil

-Instituto Minhas Raízes/Baixo Rio Madeira (Fronteira Brasil/Bolívia)

-Instituto Pombas Urbanas, São Paulo, Brasil

-Instituto Transformance/Fórum Bem Viver, Marabá, Pará, Brasil

-IPHAN/RORAIMA – Amazônia, Brasil

-Kataz Nodos de Autoformación y Colectivo Comunitaria Cultura – Ciudad de México

-Movimento Fronteras Culturales (Fronteiras da América do Sul)

-Movimento Nacional de Luta pela Moradia – Brasil

-Movimiento de Cultura Viva Comunitaria Colombia

-Movimiento por el Derecho al Campo y la Ciudad. Medellín, Colombia

-Museu Magüta – O Primeiro Museu Indígena do Brasil (Benjamin Constant - Amazonas)

-Nicolas Losada Music / Música Medicina de la Amazonia. Caquetá.  Colombia

-Observatório Fronteiriço das Migrações Internacionais - MIGRAFON / Univers. Federal de Mato Grosso do Sul-UFMS (Fronteira Brasil-Bolívia)

-Plataforma Puente Cultura Viva Comunitaria Medellín Valle de Aburrá

-Programa de Pós-Graduação em Estudos de Fronteira, UNIFAP (Fronteira Brasil/Guiana Francesa)

-Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Geografia da UNIR/Porto Velho, Brasil 

-Programa de pos-graduação, Sociedade e Fronteiras da Universidade Federal de Roraima (PPGSOF/UFRR)

-Programa Especialização Educação do Campo e Escolar Indígena (INC/UFAM - Amazonas)

-Projeto Agrovida Naãne Arü Ma’ü – Terra e Vida (Alto e Médio Solimões – Fronteira Brasil/Peru/Colômbia)

-Pueblo Embera Chamí. Colombia

-Red Colombiana de Teatro en Comunidad

-Red Cultural Comuna 4.  Medellín. Colombia

-Red de Colectivos de Estudios en Pensamientos en Latinoamérica. Medellín, Colombia

-Red Latinoamericana de Teatro en Comunidad

-Red Nacional de Teatro Comunitario Argentina

-Red Urabá teatral. Antioquia. Colombia

-Rede dos Rios Pan-Amazónicos. Brasil

-Vichama Teatro. Lima, Perú

-Zunzún. Cuba/Brasil.

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