Mobilização popular barra projeto de megamineração em Chubut, patagônia argentina

Do lado de fora da Legislatura, manifestantes foram reprimidos pela polícia local

"Traidores": população chubutense resiste há anos ao avanço extrativista e denuncia o descaso do governo, que aprovou a mineração na província mesmo com rejeição popular
"Traidores": população chubutense resiste há anos ao avanço extrativista e denuncia o descaso do governo, que aprovou a mineração na província mesmo com rejeição popular (Foto: Resumen Latinoamericano)


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Brasil de Fato - Após uma semana de protestos massivos da população da província de Chubut, no sul da Argentina, a Lei de Zonificação que autoriza a mineração na região chamada "meseta central" foi revogada nesta terça-feira (21). Os deputados tomaram a decisão na manhã de ontem por unanimidade, após duas horas de debate em uma sessão virtual, dada a urgência de acalmar as tensões que culminaram no incêndio da redação do jornal El Chubut na noite desta segunda (20), em Trelew.

O governador da província, Mariano Arcioni (Chubut Somos Todos), anunciou já na tarde de ontem (20) que a lei seria revogada, afirmando que irá convocar uma consulta popular sobre a instalação de empresas de mineração na província para "escutar todas as vozes do povo".

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Em uma sessão "surpresa" na última quarta-feira (17), o projeto de lei, a ponto de perder estado parlamentar, entrou em pauta na Legislatura Provincial de Chubut. Foi aprovado com 14 votos a favor e 11 contra, com maioria de votos favoráveis provenientes do Partido Justicialista (PJ). Impulsionada por Arcioni e pelo Poder Executivo do país, a regulamentação permite a mineração metalífera química de prata, cobre e chumbo.

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Do lado de fora da Legislatura, manifestantes foram reprimidos pela polícia local. A reação instantânea da população reflete a rejeição contundente aos projetos extrativistas na província, ignorada pelo governo local – até então.

A reação de Chubut

Há tempos, a região da Patagônia argentina resiste aos avanços extrativistas no território, desde os povos originários às comunidades e ativistas locais. Amplamente conscientizados dos efeitos do fracking e da atividade mineira, todas as consultas populares revelam altos índices de rejeição a projetos, vendidos pelos políticos como oportunidades de progresso e trabalho. Assim, após a aprovação da Lei de Zonificação na semana passada, os protestos foram constantes e contundentes em diversas cidades da província.

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Com os lemas "Não é não: a água não se negocia, a água é dos povos" e "Megamineração = morte", a população expressou seu repúdio fechando estradas, atacando prédios da legislatura e bancos e pintando mensagens de "não à mineração" nas ruas, e em memória a companheiros mapuches assassinados por forças policiais da região – como foi o caso de Elías Garay Cayicol, em uma recuperação de terras do Lof Quemquemtrew, no mês passado.

O principal foco de protestos foi em Rawson, capital da província. Os manifestantes atacaram os edifícios do Superior Tribunal de Justiça, da Procuradoria Geral, da Legislatura da província e do Banco de Chubut. A polícia reprimiu com balas de borracha, gases lacrimogêneos e detenções.

No marco dos 20 anos de 2001, a tradicional marcha na Praça de Maio fez um chamado ao que chamam de "Chubutazo", em apoio à resistência da população da região ao avanço extrativista.

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Por enquanto, a decisão é de que, nos próximos 180 dias, o governo de Chubut convocará um plebiscito que confirme ou ratifique a proposta de demarcar a província para a exploração mineira.

O projeto causa controvérsias dentro dos próprios blocos. Na sessão de ontem, a deputada Mónica Saso (Frente de Todos - FdT), que inicialmente votou a favor do projeto, considerou ser "legítimo que a meseta, que conta com a possibilidade de desenvolvimento mineiro, possa fazê-lo de maneira sustentável", ressaltando a "importância do diálogo". Por outro lado, Belén Baskov (FdT), integrante da mesma coalizão, foi enfática: "Isso que aconteceu hoje é o triunfo da luta de um povo. Essa lei nunca teve licença social. A política nunca mais pode estar distante da vontade da população."

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