"Mentira faz parte do DNA de Bolsonaro", diz especialista ambiental sobre discurso na ONU

'A gente sabe que mentira faz parte do DNA de Bolsonaro. Então o mesmo discurso que ele usa aqui, acaba fazendo lá fora', diz Marcio Astrini, membro do Observatório do Clima

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)


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Brasil de Fato - Uma nova coletânea de mentiras. Assim pode ser classificada a participação de Jair Bolsonaro (PL) na abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (20) na análise do secretário-executivo do Observatório do Clima Marcio Astrini.

 "A gente não se impacta mais com o Bolsonaro. Eu lembro que das primeiras vezes que ele falou na ONU, ou em outras audiências internacionais, tinha um impacto muito grande. Porque esse comportamento de mentir descaradamente era algo com que agora a gente foi se 'acostumando' com o tempo. Mas lá atrás causava ainda uma espécie em todo mundo, todo mundo ficava aterrorizado", contextualiza o quarto discurso do atual presidente.  

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Nas palavras de Bolsonaro, o Brasil foi desenhado como um país que "salvou vidas diante da pandemia de covid-19" e que vê uma diminuição da violência no campo. Na fala, o país ainda teria um presidente entusiasmado com a produção de vacinas no território nacional e que "cuida do meio ambiente".   

"A gente já sabe que mentira faz parte do DNA de Bolsonaro. Então o mesmo discurso que ele usa aqui no Brasil, acaba fazendo lá fora", definiu Márcio Astrini, na edição do Bem Viver desta quarta-feira (20). 

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O secretário do Observatório do Clima afirmou que, ao contrário do discurso de Bolsonaro, "todos os números ambientais pioraram no Brasil", destacando o aumento do desmatamento na Amazônia (73%) e no Cerrado (17%) com os dados anuais mais atualizados, além da Mata Atlântica (66%), no ano passado.   

Bolsonaro chegou a falar no discurso que 2/3 de todo o território brasileiro permanece com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi invadido por Portugal, em 1500.  

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"É mentira. Temos vários sistemas, os oficiais do governo e vários outros sistemas de satélite, que mostram a evolução de tomada de terras. O Brasil tem uma grande área de preservação ou de floresta ainda remanescente. A Amazônia é o caso mais citado, mas essa região não está intacta. Temos 20% de desmatamento na Amazônia e mais 20% da Amazônia que não está desmatada, mais ou menos esse número, mas que já foi, de alguma maneira, mexida, alterada. É praticamente a metade da floresta [amazônica] que encontra-se numa situação impactante. E isso é diferente de estar protegido, como ele fala. Intacta pode ser uma região abandonada, que o governo não toma conta, não dá destino, não tem um plano para a região e o crime ambiental ainda não chegou lá por questões geográficas ou por outro tipo de situação. Mas são áreas que estão prontas para serem vítimas do crime ambiental", pontua.

O especialista ambiental lembra ainda que pesquisas da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) sugerem que o Brasil pode dobrar a produção de alimentos no Brasil sem mexer em novas áreas de floresta. 

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"Essas áreas deveriam ser destinadas ao uso coletivo, de assentamentos, de reservas extrativistas, atendendo inclusive a população que necessita de terra no Brasil, que não são os grandes proprietários de terra, mas os pequenos proprietários de terra, que muitas vezes estão a espera de uma ação do governo para ter o seu título reconhecido", defende.  

Como consequência da política ambiental do atual governo federal, Astrini contextualiza a violência contra os povos do campo, das águas e das florestas.   

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"Não é só de derrubada de árvores que estamos falando. Há um aumento de violência no campo. As populações indígenas estão sendo vítimas de um verdadeiro massacre, promovido pelo governo federal, e liderado pelo Presidente da República. Tanto que os indígenas denunciaram o Bolsonaro no Tribunal de Haia por crimes contra a humanidade", ressaltou ressaltando que os valores das multas ambientais não estão cobrados e o orçamento para o setor ambiental sofreu cortes consideráveis.  

Astrini afirma ainda que as invasões de terras indígenas triplicaram no país e o território do Cerrado passa por uma contínua disputa por terras como um governo que está "no jogo do crime".  

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"A violência, principalmente por disputa de terras na região norte do país, cresceu quase 8%.Isso está muito ligado a esse quadro todo de devastação ambiental, de invasão de terras públicas, que é a grilagem de terras promovida pelo governo, da distribuição em massa de armamento daquela região. Quer dizer, é como você jogar gasolina na fogueira. Você já tem um ambiente estressado, um ambiente em que não existe lei e foi entregue ao crime, a Amazônia. Isso não foi por omissão do governo, foi por parceria do governo a esse crime ambiental, esse crime ficou mais armado, mais poderoso, com mais dinheiro, e isso fez crescer a violência", afirma. Esta pode ser a última participação do Brasil no evento sob o comando de Bolsonaro, que é o segundo colocado nas pesquisas de opinião sobre a disputa pela reeleição. 

Astrini ainda afirmou que o chefe do Executivo "mentiu sobre a vacinação no Brasil quando disse que salvou vidas", ressaltando que "diversos levantamentos e pesquisas mostram que a negação de Bolsonaro ao vírus e a [demora na] compra da vacina levaram à morte de pessoas".  

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Outra falta de sincronia entre teoria e prática na avaliação do entrevistado do Bem Viver foi a declaração entusiasmada de que Bolsonaro com a produção nacional de vacinas contra a Covid-19.  

"Ele chegou ao cúmulo de se gabar de dizer que o Brasil chegou a produzir vacinas, devia estar se referindo ao Butantã, que ele mesmo falou que era contra e que não daria nenhum centavo para a produção de vacinas no Brasil", recordou.  

Com exclusividade, o Brasil de Fato aponta que o número de homens da Força Nacional escalados para proteger funcionários da sede da Funai em Atalaia do Norte (AM) está em queda livre desde as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Enquanto isso, cresce a sensação de insegurança em uma região marcada pela associação entre o crime ambiental e o narcotráfico.   

Já no tema Eleições de 2022, o Bem Viver destaca que, além de marcada pela disputa polarizada entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL), tem a característica de ser aquela em que, desde a redemocratização, mais movimentos populares lançam, de forma coordenada, candidaturas próprias. Buscando ocupar espaço na Câmara dos Deputados em Brasília, em Assembleias Legislativas Estaduais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem 15 candidaturas neste pleito. 

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