Indígenas guarani kaiowá denunciam pulverização de veneno ao lado de escola
Etnia, que reivindica território tradicional, é alvo de ataques recorrentes de fazendeiros
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Brasil de Fato - Indígenas da etnia Guarani Kaiowá, da terra indígena Guyraroka, em Caarapó (MS), tiveram aulas da escola da comunidade comprometidas nesta semana por conta da pulverização de veneno agrícola despejado por fazendeiros ao lado da instituição.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), um trator passou despejando veneno em plantações próximas à comunidade indígena. Indígenas registraram o fato com fotos e vídeos.
A área pulverizada fica perto da escola da aldeia. A ação, além de impedir o andamento normal das aulas, é capaz de adoecer a comunidade, contaminar o solo e matar animais.
Segundo o Cimi, apesar de a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ter emitido ao Estado brasileiro, em setembro de 2019, medidas cautelares para a proteção dos guarani kaiowá, na terra indígena Guyraroka, nada foi feito por parte do governo. O Cimi denuncia que ações do governo de Jair Bolsonaro (PL), na verdade, permitiram que fazendeiros voltassem a pulverizar plantações próximas aos indígenas.
Em maio de 2019, o próprio Cimi denunciou que crianças e jovens apresentaram asma, tosse seca, falta de ar, vômito, dores no tórax, no estômago e na cabeça após tratores passarem, na mesma área próxima à escola, derramando litros de veneno.
Naquele episódio, seis cachorros também foram intoxicados, sendo o principal sintoma inchaço na barriga. Dois morreram.
Os guarani kaiowá, da Terra Indígena Guyraroka, estão concentrados em uma área de um pouco mais de 50 hectares. De acordo com o Cimi, eles teriam direito a 12 mil hectares. A terra indígena está rodeada de lavouras de monocultivo de soja, cana e milho.
Ataques e mortes
Os guarani kaiowás têm sido alvo de ataques no sul do Mato Grosso do Sul, região na qual eles reivindicam territórios ocupados hoje por fazendas.
Na segunda-feira (1), o comerciante Vitorino Sanches, indígena, sofreu uma emboscada no final da manhã, quando entrava na terra indígena de Amambai (MS). Ele foi atingido por dois tiros, mas sobreviveu.
Pelo menos 10 marcas de balas foram encontradas no carro do indígena, segundo denunciou pelas redes sociais a Aty Guasu, que representa os Guarani Kaiowá.
A Defensoria Pública da União (DPU) tenta descobrir se existe relação entre o ataque ao comerciante e as ofensivas recentes aos indígenas que organizam retomadas de terras tradicionais na região. O Ministério Público Federal (MPF) afirmou que está atuando de maneira ininterrupta, mas não pode revelar informações, pois o processo corre sob sigilo.
Antes de Sanches, três guarani kaiowá foram assassinados no estado nos últimos meses. Segundo a Aty Guasu, as mortes foram provocadas por pistoleiros e policiais militares.
Em julho, uma emboscada contra cinco indígenas do povo Guarani Kaiowá, também em Amambai, resultou na morte a tiros de Márcio Moreira. Ele era liderança do Tekoha Gwapo’y Mi Tujury, território ancestral que está no nome da Fazenda Borda da Mata da empresa VT Brasil Administração, da família Torelli, e que foi retomado pelos indígenas em junho.
O assassinato de Márcio Moreira aconteceu três semanas depois do que ficou conhecido como Massacre de Gwapo’y, quando policiais militares invadiram a área, feriram 15 pessoas e mataram o outro indígena, Vitor Fernandes.
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