Governo Bolsonaro bate próprio recorde e libera uso de 550 novos agrotóxicos em 2021
Total é o maior desde 2000. Pesquisadores e quilombolas alertam que produtos afetam saúde de seres humanos e animais, solo, ar e água
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Rede Brasil Atual - Desde 2016, o Brasil tem sido palco de uma enxurrada de novas liberações de agrotóxicos. Naquele ano ocorreu a liberação de 277 produtos. No ano seguinte, houve um salto para 404 novos venenos. Em 2018, mais 449 registros foram realizados. Mas o governo de Jair Bolsonaro conseguiu ser ainda mais condescendente com o veneno agrícola. Em seu primeiro ano, 474 pesticidas foram liberados. Já em 2020, o número subiu para 493. Ao final do ano passado, o Ministério da Agricultura bateu novo recorde, aprovando o registro de 550 novos agrotóxicos.
Engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, do Movimento Ciência Cidadã, alerta que todos sofrem com a utilização descontrolada desses pesticidas. De acordo com o pesquisador, não importa o quão longe as pessoas estejam, as consequências do uso desses venenos se espalham e chegam em todas as regiões do país.
“Veja os casos de deriva de agrotóxicos. O sujeito aplica o veneno na sua lavoura e a seis quilômetros de distância tem gente sendo intoxicada. Outro exemplo é que usamos no Brasil um bilhão de litros (desses produtos) por ano e tudo isso vai parar na água. (…) Os estudos realizados sobre a qualidade da água no Brasil apontam que pelo menos 25% dos municípios analisados têm até 27 tipos de venenos na água. Então, a possiblidade de se contaminar, mesmo estando longe das lavouras, é grande”, explica Leonardo Melgarejo
Veneno e morte
Quilombola do Quilombo Ribeirão Grande e Terra Seca, localizado no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo, Nilce Pontes vive de perto os impactos da expansão do uso desses produtos. Segundo ela, os bananicultores da região não estão preocupados e pulverizam no ar o veneno. O que prejudica o solo das famílias que vivem na região e ainda adoece os seres humanos e os animais, afirma.
“Como a gente sempre diz eles querem nos matar, mas a gente escolhe viver. E a forma de nos matar é através da contaminação de nossas águas, do envenenamento dos alimentos por meio da pulverização área. Para desenvolver a agricultura das grandes commodities usa-se muito o agrotóxico. E para nós, enquanto comunidade quilombola que resiste ao veneno, fica só as doenças. O nosso território todo fica comprometido”, lamenta.
Modelo do agronegócio
Melgarejo observa que os agrotóxicos, por serem substâncias que não existem na natureza, quando entram em contato com humanos e animais provocam “distorções de toda a ordem”. Levando inclusive a alterações nos sistemas corporais, prejudicando a capacidade de raciocínio e de reprodução. No caso de pessoas gestantes, também há risco de aborto espontâneo. Há ainda, conforme aponta o pesquisador, prejuízos ao meio ambiente que contribuem para o aquecimento global.
“O veneno jogado em um determinado território, mesmo que ele seja pouco frequentado por seres humanos, ele vai dificultar a sobrevivência de alguns insetos e bactérias. Dessa forma ele também prejudica a sobrevivência da rede da vida naquele ambiente. Esses insetos, bactérias e raízes que vão desaparecer, deixam de cumprir sua missão de estimular a vida naquele território. Então o uso de agrotóxicos está associado a uma homogeneização do planeta. A gente substitui áreas biodiversa por monoculturas que superaquecem o planeta”, critica.
Para Melgarejo, a única forma de reverter este quadro de abundância de pesticidas no meio ambiente com consequências nefastas para todos, é deixar de focar em uma economia de exportação de grãos. “O Brasil depende do envenenamento de seu território para gerar a renda dessas commodities que são exportadas”, contesta. “Ir contra o uso de agrotóxicos significa ir contra o domínio de grupos que não dão a mínima para os direitos humanos e para os problemas ambientais”.
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