Garimpeiros armados invadem aldeia dos indígenas Xipaya no Pará
A líder indígena Juma Xipaya disse que seu pai foi agredido pelos homens, que chegaram a levar uma balsa com maquinário para o rio que margeia a região
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Por Cicero Pedrosa Neto, Amazônia Real - A cacica Juma Xipaya denunciou na noite de quinta-feira (14), em vídeo publicado em uma rede social, que a aldeia Karimaa, na Terra Indígena Xipaya, foi invadida por garimpeiros armados. Segundo a liderança, uma balsa de grande porte, com maquinários para a extração de ouro, desceu o Rio Iriri em direção ao território. Seu pai, Francisco Kuruaya, foi agredido com socos e empurrões. O território Xipaya, onde vivem cerca de 200 pessoas, fica distante a 400 quilômetros de Altamira, no sudeste do estado do Pará.
“A gente nunca tinha visto um maquinário desses por aqui’, declarou Juma, contando temer a destruição ambiental do território Xipaya com o possível incremento da atividade ilegal de garimpo.
De acordo com declarações de Juma, seu pai tentou dialogar com os garimpeiros ilegais, pedindo para que se retirassem da área, por se tratar de uma Terra Indígena. “Meu pai tentou filmar a ação dos garimpeiros, que já chegaram lá operando as dragas, mas foi agredido por oito homens armados que tentaram tomar o celular dele. A sorte foi que ele conseguiu sair e voltar para avisar as outras aldeias”, declarou a líder.
Juma disse que o pai conseguiu retornar para sua aldeia e, utilizando a rede social Whatsapp, convocou outras lideranças para irem atrás dos garimpeiros e impedir a invasão. “Quando chegaram, os garimpeiros, a balsa de três andares, as voadeiras e jet skis – que também faziam parte dos equipamentos dos invasores – já não estavam mais”, contou ela.
A reportagem apurou que outras lideranças indígenas da região viram a balsa dos garimpeiros navegando no Rio Iriri em direção à Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio, fronteira com a Terra Indígena Xipaya e a Terra Indígena Cachoeira Seca, do povo Arara.
Juma afirmou ter denunciado a invasão dos garimpeiros ilegais aos órgão federais, inclusive à Polícia Federal. “Estamos no meio de um feriado, eu já fiz contato com a Funai local, com o Ministério Público […] estamos com muito medo. Pedimos ajuda para que as Forças Armadas [e] a Polícia Federal cheguem no território, que possam nos ajudar, porque é agora, não é amanhã e nem depois. Estão destruindo o nosso território, estão com máquinas pesadas e nós não sabemos os tipos de armas que eles tem”.
“A gente tem medo que eles tenham se escondido nas ilhas próximas ao território e que possam atacar as aldeias durante a noite”, disse Juma em entrevista exclusiva à Amazônia Real, na madrugada de sexta-feira (15).
A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas na Câmara dos Deputados, encabeçada pela deputada indígena Joênia Wapichana (REDE/RR), acionou o Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, alertando para para a iminência de um conflito na região e ameaças de morte do líder FranciscoKuruaya.
O ofício encaminhado pela deputada, também foi endereçado ao diretor da Polícia Federal, Márcio Nunes de Oliveira, e ao superintendente da Polícia Federal no Pará, Carlos André da Conceição Costa, pedindo que investigassem o caso e garantissem a proteção das cinco aldeias Xipaya que estão sob ameaça.
À deputada Federal Vivi Reis (PSOL/PA), o superintendente da PF no Pará informou que está acionando a operação Guardiões do Bioma, composta por agentes federais, membros do Ministério da Justiça, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Força Nacional, que devem chegar ao local em breve para combater a invasão e proteger a integridade física dos indígenas do território Xipaya.
Com 179 mil hectares, a Terra Indígena Xipaya foi homologada em 2012. Juma Xipaya luta há uma década pelos direitos dos indígenas impactados pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Em 2021, ela participou da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), em Glasgow, na Escócia.
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