Em Paris, quilombolas denunciam racismo ambiental e genocídio negro no Brasil
Centenas de manifestantes se reuniram neste sábado (6) em frente à Prefeitura de Paris para celebrar o Dia Mundial de Ação pela Justiça Climática, entoando o grito de guerra: “Não existe justiça climática sem justiça social”. Genocídio negro no Brasil é denunciado
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Por Paloma Varón, da RFI - Centenas de manifestantes se reuniram neste sábado (6) em frente à Prefeitura de Paris para celebrar o Dia Mundial de Ação pela Justiça Climática, entoando o grito de guerra: “Não existe justiça climática sem justiça social”.
Dentre os militantes presentes na capital francesa está uma delegação brasileira formada por Thaís Santos e Eliete Paraguassu, quilombolas da Coalizão Negra por Direitos, que reúne 250 entidades do movimento negro brasileiro. As quilombolas estão na França enquanto outros cinco membros da coalizão estão na COP26, em Glasgow, para chamar a atenção sobre o racismo ambiental que afeta o povo negro que vive em áreas periféricas e sofre na pele os efeitos da contaminação ambiental. Estas áreas são muitas vezes depósito de dejetos industriais.
Eliete Paraguassu, que é catadora de mariscos na Ilha de Maré, em Salvador (BA), denunciou a falta de políticas públicas do governo brasileiro para estas populações diante da multidão estimada em 600 pessoas, de acordo com a polícia. Ela foi a única brasileira a se pronunciar durante o protesto e foi ovacionada ao terminar sua fala.
“A Coalizão Negra por Direitos tem denunciado o racismo ambiental que é praticado em nome do capital nas comunidades negras, periféricas e quilombolas de todo o Brasil”, revelou Paraguassu, que se apresenta como “uma mulher das águas”.
A quilombola e marisqueira Eliete Paraguassu, de Ilha de Maré, Salvador, Bahia, foi a única brasileira a discursar no evento pela Ação Climática em Paris.
Organizado por ONGs francesas e internacionais, o evento denunciou, entre outras coisas, dez líderes mundiais cuja inação em relação à urgência climática coloca o planeta em perigo. Jair Bolsonaro (Brasil), Emmanuel Macron (França), Joe Biden (EUA) e Xi Jinping (China) estão entre os chefes de Estado apontados como parte do problema.
Em seguida, manifestantes brasileiros e franceses ergueram as letras que formaram a frase “Bolsonaro ecocida” diante de uma bandeira do Brasil suja de sangue e de outras bandeiras de movimentos sociais.
Thaís Santos, que é educadora popular e coordenadora da Uneafro Brasil, explica o que é racismo ambiental: “O termo racismo ambiental foi cunhado nos Estados Unidos por um militante negro, aliado a Martin Luther King, que via em seu território o que sentimos também hoje: a ausência de políticas públicas efetivas nos bairros onde existe uma concentração maior de pessoas negras e a ausência de posicionamento político e inserção destes atores no discurso”.
"Não existe justiça climática se houver racismo ambiental”, enfatiza.
Para Santos, o racismo ambiental é uma das vertentes do racismo estrutural. "Ele mata até mais que a violência policial. É necessário que se enxergue este monstro invisível e que se tomem medidas efetivas para sanar este problema."
Para ampliar a explicação sobre o conceito, ela usa seu bairro, Perus, na cidade de São Paulo, como exemplo: "O nosso bairro recebeu durante 30 anos metade do lixo gerado pela cidade de São Paulo, isso num bairro que já teve uma fábrica de cimento histórica e que também gerou muita poluição. Hoje, nós não temos um hospital, não há nenhuma política de saúde para atender as pessoas que sofrem com problemas respiratórios, entre outros". "É um território predominantemente negro", conclui.
Eliete Paraguassu, que luta contra o racismo ambiental há 22 anos, conta que, na sua comunidade, esse problema se traduz pela contaminação por metais pesados: “Foi feito um estudo na UFBA em Ilha de Maré e encontraram metais como mercúrio, chumbo e cádmio em amostras de sangue de 116 crianças. Nós levamos isso às autoridades e fomos silenciados. O racismo ambiental é perverso, cruel e assassino", denuncia.
“Racismo ambiental é a sociedade jogar todo seu lixo no nosso território. É enxergar nosso território, que são as águas, como depósito de lixo. Todo o lixo químico do Polo Petroquímico da Bahia é jogado na Baía de Todos os Santos, que tem milhares de pescadores e pessoas que têm as águas como sua fonte de renda e de vida”, afirma a marisqueira.
"O racismo ambiental tira o direito de as pessoas viverem com dignidade", finaliza Paraguassu.
Os cinco integrantes da delegação que estão em Glasgow chegam a Paris neste domingo (7) e, na segunda-feira (8), participam de um encontro com o responsável pelas Relações Internacionais da Prefeitura de Paris, Jean-Luc Romero, e de um debate no Centro Internacional de Cultura Popular (CICP). De Paris, a delegação segue para Berlim, Munique e Madri.
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