Dinamam Tuxá: Bolsonaro organiza ataque colonial contra indígenas

Líder de povos originários conta sua vida e descreve a resistência contra medidas em favor da mineração e do agronegócio; veja vídeo na íntegra

(Foto: Reprodução)


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Opera Mundi - No programa SUB40 desta quinta-feira (28/10), o jornalista Breno Altman entrevistou o advogado e coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Dinamam Tuxá, sobre a resistência indígena contra Bolsonaro.

Tuxá afirmou que, atualmente, a população indígena vive uma situação equiparável à da invasão colonial: “Vivemos um ataque à nossa existência. Esse governo não representa só o retrocesso, mas o genocídio dos povos indígenas e nós não temos a quem recorrer. Nossa única segurança está no judiciário, que não existia na época da colonização, mas é quem faz a barreira de contenção para que as violações não sejam ainda piores”.

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Segundo Tuxá, o governo busca “abrir as porteiras para o avanço do agronegócio”, tentando retirar o usufruto exclusivo das terras indígenas, entregando-as à chamada PEC da grilagem, que permite a invasão de terras públicas

Ele também citou especificamente o Marco Temporal, considerado pelas comunidades indígenas como o julgamento do século. O Marco Temporal determina que só serão reconhecidas como terras indígenas aquelas que puderem ser provadas que estavam em posse de comunidades tradicionais quando a Constituição de 1988 foi promulgada.

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“Isso significa que várias demarcações vão poder ser revisadas ou até mesmo anuladas. Além do dano social, de desmontar um direito já consolidado que é o da demarcação da terra indígena, vai representar um dano ambiental, porque as nossas terras são as mais preservadas do mundo, com a maior biodiversidade. Isso tem uma lógica, tem a ver com o nosso modo tradicional de lidar com o meio ambiente”, argumentou o líder.

APIB

Diversas organizações indígenas vêm protestando e resistindo contra a aprovação do Marco Temporal, mas a principal é a APIB, da qual Tuxá é o coordenador executivo. Ele contou que a organização foi criada em 2005, a partir da fusão de várias organizações indígenas, sob a reivindicação principal de garantir os direitos dos povos indígenas por meio da demarcação de terras.

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Com o tempo, a atuação da APIB foi se expandindo, denunciando o avanço do agronegócio e da mineração sobre terras indígenas, a criminalização de lideranças do movimento, ingressando ações no judiciário e “denunciando o crime de genocídio perante órgãos internacionais”.

Tuxá chegou na APIB após traçar já uma importante trajetória na militância e organização da juventude indígena. Aliás, tornou-se advogado por conta de sua atuação militante, que começou muito cedo, quando ele vivenciou o choque cultural de ter de ir estudar fora de sua comunidade durante a adolescência.

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“As pessoas não aceitam que você apareça pintado, com colares. O choque cultural está presente até hoje e você tenta se moldar àquela realidade e não consegue. Só que aí, quando você volta para a comunidade, você já não é mais recepcionado como antes, porque volta diferente. É por isso que a taxa de suicídio entre jovens indígenas é a maior do mundo, principalmente em terras não demarcadas, pela falta de políticas públicas e de perspectivas, seja dentro ou fora dos territórios”, revelou.

Relação com a esquerda

Tuxá celebrou, contudo, que as comunidades e a luta indígena vêm encontrando cada vez mais acolhimento, principalmente dentro da esquerda. Segundo ele, a aproximação foi natural, já que a luta dos povos indígenas passa pela superação do capitalismo.

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“Estamos lidando com o capitalismo selvagem. O impacto que o meio ambiente vem sofrendo é ocasionado pelo fomento do capitalismo, pela produção de commodities, pelo consumo desenfreado, então criticamos o capitalismo, precisamos rediscutir esse modelo. Queremos acessar os instrumentos do mundo moderno, mas viver como já vivíamos há anos, respeitando o meio ambiente e o outro”, discorreu.

Por isso, ele ressaltou, movimentos sociais, como os quilombolas, e as centrais sindicais abraçaram a causa indígena e ele disse que a relação só melhora e tem se estendido aos partidos de esquerda, muitos dos quais já contam com setoriais indígenas.

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Por outro lado, avaliando os governos petistas de esquerda, Tuxá argumentou que “deixaram muito a desejar”. Apesar do espaço de discussão ter sido fortalecido, a principal reivindicação dos movimentos indígenas, que é a demarcação de terras, não avançou. 

“Os governos do PT foram bons para o Brasil, mas, de forma específica, os povos indígenas não viram isso, não tivemos avanços. E também tivemos retrocessos, por exemplo com a construção da usina de Belo Monte e a transposição do rio São Francisco. Mas, evidentemente, comparados com a situação atual, foram maravilhosos”, ponderou.

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