Diferentemente da Otan, Rússia, China e Irã não questionam soberania do Brasil na Amazônia, diz militar
"Irã, Rússia e China nunca fizeram pressões nem questionaram nossa soberania na Amazônia", diz o Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil
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Agência Sputnik - Diante da crise econômica mundial gerada pela pandemia de COVID-19 e, logo em seguida amplificada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, as cadeias globais de valor estão sofrendo um grande impacto, levando diversos paíse a correrem contra o tempo para se reorganizarem diante do turbilhão.
No caso do Brasil não é diferente, o país busca fazer novas alianças ou fortalecer as existentes com aliados antigos a fim de manter seu fluxo de produção, principalmente agrícola.
No histórico de aliados brasileiros, os EUA sempre tiveram muita influência em no país e algumas vezes exerceram protagonismo tão profundo que impactaram políticas internas brasileiras. No entanto, essa parceria, mesmo após a Cúpula das Américas deste ano, se encontra enfraquecida.
Para Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil entrevistado pela Sputnik Brasil, o governo do presidente, Jair Bolsonaro, teve duas fases com Washington: a primeira aconteceu quando o ex-presidente, Donald Trump, ainda estava no comando do país. Pela ligação do mandatário brasileiro com o homólogo norte-americano, a relação Brasil-EUA estava mais fortalecida.
Após a entrada de Joe Biden começou uma nova fase, agora não tão próspera, uma vez que a agenda do democrata não se alinha com a de Bolsonaro. Na visão de Farinazzo, Biden só não está tão focado na Amazônia porque há outras questões em destaque.
"Biden só não está arrumando mais problemas com a nossa soberania na Amazônia porque está muito ocupado com a crise em Taiwan e na Ucrânia."
Ações que evidenciariam essa comunicação mais travada seriam as visitas feitas por autoridades-chave do governo estadunidense ao Brasil, como a do diretor da CIA, William Burns; do conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan; da subsecretária de Estado, Victoria Nuland, entre outras, toda essa movimentação em sequência e em poucos meses mostra que "de certa forma, o Partido Democrata, tem seus percalços em relação ao presidente Bolsonaro", afirma o comandante.
Com certos contrastes e oposições, o governo federal percebeu que precisava buscar outros mercados e novas alianças, e para o comandante, Bolsonaro acertou em fortalecer seus laços com Moscou.
"Ele [Bolsonaro] fez uma reaproximação com a Rússia de forma saudável e pragmática, não deixando os EUA de lado. Acredito que caso seja reeleito, ele mantenha esse pragmatismo até o final do governo Biden pelo menos [...], mas acredito que o governo Bolsonaro deve buscar afinar relações com a Rússia e o BRICS no geral", analisa.
Farinazzo também aponta que a parceira do Ocidente (EUA-Europa principalmente) é impositiva com o Brasil, faz pressão sobre a Amazônia, enquanto os países-mebros do BRICS não interferem em assuntos internos de seus integrantes.
"No dia 3 de dezembro de 2021, a Rússia vetou no Conselho de Segurança da ONU uma resolução climática que poderia gerar sérios problemas à soberania da nossa Amazônia", relembra.
Ao mesmo tempo, o comandante frisa que os países do Ocidente, "representados" pela OTAN na crise ucraniana, são as mesmas nações que questionam a soberania da Amazônia, portanto, o Brasil precisa ter cuidado e não identificar a aliança militar com sendo parceira.
"Não estou dizendo que devemos nos alinhar à Rússia na questão ucraniana [...], nós estamos mantendo uma posição de neutralidade como sempre tivemos diante de todos os conflitos, mas não devemos esquecer das pretensões dos países líderes da OTAN em relação à nossa Amazônia. Precisamos olhar esses interesses predatórios dos países-membros da Aliança Atlântica. Irã, Rússia e China nunca fizeram pressões nem questionaram nossa soberania na Amazônia."
Indagado sobre como os EUA podem reagir à visível aproximação entre países da América do Sul e da África com China e Rússia, Farinazzo acredita que, após anos de relegação norte-americana sobre essas regiões, agora, Washington precisa fazer "contrapartidas para esses países ou vai acabar perdendo a influência nessas duas regiões que estão cada vez mais ganhando notoriedade".
"Atualmente, no campo militar há a Rússia, mostrando todo seu poderio militar, tem também a China, mas sua relevância é ainda mais forte no campo comercial [neste tópico]. Pequim é um competidor fora de série, o qual os EUA não tiveram [igual] nem na época da União Soviética [...] portanto, o país norte-americano precisam encontrar alternativas ou vão perder estes mercados", analisa.
E se Lula for eleito?
Para o especialista, caso não haja uma reeleição do atual governo e entre o ex-presidente Lula para ocupar o cargo mais alto do Planalto, em matéria de política externa, como o petista pode vir a conduzir o assunto "é uma incógnita".
"Se formos lá atrás, foram durante os anos do PT [no poder] que o acrônimo BRICS começou a fazer sentido [...], mas temos que lembrar também, nos últimos meses, o ex-presidente teve uma aproximação muito grande com a União Europeia, então não sabemos para onde ele vai".
Contudo, o comandante acredita que pelo perfil mais pacificador do petista, "ele deve tentar tirar o que der de todos os lados".
"Acontecendo um continuísmo do governo Bolsonaro ou se o Lula voltar, acho que a relação com o BRICS não vai dar marcha à ré, ela só tem um caminho que é seguir em frente porque os fatos vão acabar se impondo", disse o especialista.
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