Dia da Sobrecarga da Terra: um novo normal não tão novo assim

Isso quer dizer que voltamos a consumir 74% mais recursos naturais do que o planeta tem condições de regenerar em 1 ano

(Foto: NASA)


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Do Instituto Akatu, via Plurale

O Dia da Sobrecarga da Terra chegou. Após um cenário global de recessão econômica, ainda que mantido um alto nível de desemprego, a produção e o consumo começaram a dar sinais de recuperação e o dia voltou a cair exatamente na mesma data de 2019 — 29 de julho —, ano anterior ao coronavírus. Em 2020, com a chegada da pandemia, o dia atrasou significativamente para 22 de agosto, um alento em meio a tantas notícias ruins. Mas, veio 2021 e a data regrediu novamente.

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Isso quer dizer que voltamos a consumir 74% mais recursos naturais do que o planeta tem condições de regenerar em 1 ano. Quer dizer também que a corrida para recuperar a economia global trouxe de volta os níveis anteriores de emissões de gases de efeito estufa e de uso de recursos naturais. Esses dados mostram a necessidade de se pensar em um desenvolvimento econômico pautado por novos modelos de produção e consumo, que gerem menos impactos negativos ao meio ambiente e à sociedade e, idealmente, que gerem impactos positivos.

“Faltando ainda (quase) meio ano, já esgotamos a nossa cota de recursos naturais da Terra para 2021”, alerta Susan Aitken, líder da Câmara Municipal de Glasgow, na Escócia, e conselheira da Global Footprint Network, entidade responsável pelos cálculos de sobrecarga da Terra desde 1970. Traduzindo, a data indica que precisamos de 1,7 planeta para manter nossos padrões atuais de produção e consumo. Mas, obviamente, só temos um.

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Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu, destaca que a data precisa ser levada a sério por todos. “O adiantamento do Dia da Sobrecarga da Terra de 2021 ilustra a importância das ações coletivas e a urgência na revisão dos nossos modelos de produção e consumo. A recuperação econômica global frente ao coronavírus precisa levar em conta aspectos socioambientais e oferecer respostas à Crise Climática”, afirma.

Com muitas indústrias paradas e pessoas usando menos automóveis por causa da pandemia, o mundo reduziu em 14,5% sua pegada de carbono no ano que passou: queimamos menos combustíveis fósseis e, consequentemente, emitimos menos gases de efeito estufa (GEE). Paralelamente, a baixa demanda industrial poupou recursos naturais, o que fez com que o Dia de Sobrecarga da Terra regredisse de forma significativa pela primeira vez em 50 anos!

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Em 2021, mesmo ainda em um cenário de pandemia, diversos países retomaram suas atividades econômicas com ritmo de produção igual ou até maior que o anterior ao coronavírus. A pegada de carbono aumentou 6,6% em relação a 2020, em função de uma maior queima de combustíveis fósseis, e o mundo perdeu 0,5% de sua biocapacidade global (quantidade de recursos que a Terra pode regenerar em um ano), tendo o Brasil como mau exemplo: 1,1 milhão de hectares foram perdidos só no país em 2020 e as estimativas indicam aumento de até 43% no desmatamento este ano.

Diante desses dados, precisamos refletir sobre nossa forma de viver e nos mobilizarmos para pôr em prática a mudança desejada e necessária de padrões de produção e consumo. Segundo a Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2020, realizada por Akatu e GlobeScan, boa parte dos consumidores percebem essa necessidade. O estudo mostra que 71% dos brasileiros entendem que ao recuperar a economia pós-covid, a prioridade deveria estar em reestruturar a economia para lidar melhor com outros desafios, como a desigualdade e as mudanças climáticas, do que simplesmente recuperar a economia o mais rápido possível.

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Veja nossas dicas e entenda como consumir de forma mais consciente, contribuindo para que o Dia da Sobrecarga da Terra volte a regredir em 2022.

Como adiar o Dia da Sobrecarga da Terra

Reduza o consumo de carne: calorias animais, sobretudo carne bovina, são significativamente mais intensivas no uso de recursos na sua produção do que calorias vegetais. Para comprovar isso, basta ver que ao substituir a carne bovina por outra fonte proteica (frango ou leguminosas, como lentilhas, feijões, ervilhas e grão de bico) uma ou mais vezes por semana, você poupa as emissões de gases de efeito estufa relacionadas à produção da carne e, com isso, estará combatendo a Crise Climática. Enquanto a produção de um 1kg de carne bovina emite 27 kgCO2e, a produção de 1kg de frango emite quase 4 vezes menos (6,9 kgCO2e) e a de 1kg de feijão, quase 14 vezes menos (2 kgCO2e).

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→ Se toda a população mundial reduzir pela metade o consumo médio anual de carne, preferindo a ingestão de verduras e legumes, o Dia da Sobrecarga da Terra será adiado em 17 dias.

Evite o desperdício de alimentos: as perdas (na produção) e os desperdícios (no processamento e no consumo) de alimentos são responsáveis por cerca de 9% da pegada ecológica global.

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Se uma família de 4 pessoas desperdiçar 100g de arroz semanalmente, em 1 ano descartará mais de 5 kg desse alimento. A produção dessa quantidade de arroz gera emissões similares à da produção de energia elétrica suficiente para manter 2 lâmpadas de LED acesas 4 horas por dia ao longo de 2,5 anos! Para poupar essas emissões, prepare somente o que você vai comer, faça o uso integral dos alimentos (incluindo cascas e sementes) e, se for o caso, congele o que sobrou para comer depois.

→ Se reduzirmos pela metade as perdas e desperdícios de alimentos no mundo, o Dia da Sobrecarga da Terra será adiado em 11 dias.

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Prefira meios de transporte sem emissões: a redução no uso individual do carro em todo mundo contribuiu para o atraso do Dia da Sobrecarga da Terra em 2020, já que o transporte movido à combustíveis fósseis tem grande impacto ecológico. Se a distância é curta, use bicicleta e se desloque à pé. Para trajetos maiores, dê preferência ao transporte público, como metrô e ônibus.

Quer ver como essa troca faz a diferença? Se você deixar o carro de lado e se deslocar a pé ou de bicicleta em um trecho de ida e volta de 4 km, cinco dias por semana, em 1 ano evitará emissões similares às geradas na produção de energia elétrica que mantém 4 lâmpadas de LED acesas 6 horas por dia ao longo de 21 anos!

→ Se reduzirmos pela metade a pegada de carbono dos deslocamentos, assumindo que 1/3 das distâncias percorridas de carro são substituíveis por transporte público, bicicletas e caminhadas, o Dia de Sobrecarga da Terra será adiado em 13 dias.

Simplifique seu guarda-roupa: A pandemia trouxe a percepção a muitas pessoas de que é possível viver tendo menos roupas nos armários, focando só no que é necessário. Comprar e possuir menos roupas, adotando um estilo mais minimalista, também contribui para a preservação do meio ambiente, uma vez que as roupas representam 3% da pegada ecológica global, e a produção de todo e qualquer novo item emite gases de efeito estufa e consome recursos naturais.

Para se ter uma ideia, a produção de uma única calça jeans consome quase 11 mil litros de água, quantidade suficiente para suprir a demanda diária (beber, cozinhar, lavar louças, etc.) de uma pessoa por mais de 3 meses. Reflita antes de comprar uma nova peça e doe ou venda no mercado de segunda mão aquela que você não usa mais.

Calcule a sua Pegada Ecológica, por meio dessa ferramenta desenvolvida pelo WWF, e faça nosso Teste do Consumo Consciente, para identificar em quais áreas a sua consciência no consumo pode evoluir ainda mais, levando à adoção de práticas mais sustentáveis.

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