Brasil vai diminuir em 2 ou 3 anos meta de zerar desmatamento ilegal, diz Mourão
O Brasil tem sido acusado por críticos de chegar a COP26 com mais pedidos do que ofertas, mas os negociadores brasileiros tentam mostrar que pretendem sim levar metas mais ambiciosas, mesmo em meio a aumentos de desmatamento e queimadas na Amazônia nos últimos anos
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Reuters - A delegação brasileira vai anunciar na cúpula da ONU sobre o clima COP26 uma redução de dois ou três anos na meta de zerar o desmatamento ilegal, que atualmente é 2030, afirmou nesta segunda-feira (25) o vice-presidente Hamilton Mourão, que lidera o Conselho Nacional da Amazônia Legal.
"A nossa NDC (Obrigações Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês) inicial era que nosso desmatamento ilegal seria reduzido a zero até 2030. O que eu sei é que a delegação brasileira vai apresentar uma meta mais ambiciosa, baixando em relação a 2030 mais 2 ou 3 anos", disse o vice-presidente em entrevista a órgãos de imprensa internacionais.
"Ainda vai ser definido em últimas reuniões entre a equipe do ministro Joaquim mais o Ministério das Relações Exteriores e o próprio presidente. Mas já é uma meta mais ambiciosa."
Mourão pretendia chefiar a comitiva brasileira em Glasgow, a partir da próxima semana, mas perdeu o posto para o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro.
O Brasil tem sido acusado por críticos de chegar a COP26 com mais pedidos do que ofertas, mas os negociadores brasileiros tentam mostrar que pretendem sim levar metas mais ambiciosas, mesmo em meio a aumentos de desmatamento e queimadas na Amazônia nos últimos anos.
Segundo Mourão, o país irá reafirmar as NDCs propostas e apresentar um plano de como atingir esses objetivos.
"Nós vamos reafirmar nossas obrigações nacionalmente determinadas, que são reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025 e 45% até 2030 e a questão do desmatamento ilegal", afirmou. "E o Brasil vai também apresentar como vai atingir essas metas, essas obrigações nacionalmente determinadas. Não adianta só dizer que vai reduzir em 37% e não dizer como."
O vice-presidente lembrou que o Brasil é responsável por 2,3% das emissões de gases de efeito estufa no mundo --apesar de vir aumentando as emissões nos últimos anos justamente por causa do desmatamento e das queimadas na Amazônia-- e que uma meta mais ambiciosa relacionada ao desmatamento, principal fonte de emissões brasileiras, deve ter uma ótima aceitação.
"A maior parte das nossas ambições está ligada ao uso da terra, então uma meta mais ambiciosa de desmatamento ilegal com prazo mais curto seria, na minha visão, extremamente bem-vinda pela comunidade internacional e deixaria claro o compromisso do Estado brasileiro de trabalhar no sentindo de impedir que essa mudança climática afete a vida na terra", disse o vice-presidente.
Até agora, no entanto, o governo Jair Bolsonaro não deu mostras de como será capaz de adiantar a meta de atingir o desmatamento ilegal zero antes mesmo de 2030 quando os índices se mantém em patamares extremamente altos.
A previsão do governo é que entre agosto de 2020 e julho de 2021 o desmatamento no Brasil tenha caído 5% em relação ao período anterior. Uma redução muito pequena quando se leva em conta que foi o período em que o governo colocou três operações seguidas de Garantia da Lei e da Ordem na Amazônia
Além disso, o período de agosto de 2019 e julho de 2020 viu a Amazônia perder 11.088 km² de floresta, maior índice desde 2008 e um crescimento de 9,5% em relação ao ano anterior --quando já havia crescido com 29,54%, com a região perdendo 9.762 km² de cobertura florestal.
O próprio vice-presidente reconheceu que a queda no desmatamento foi baixa e menor que ele gostaria, mas exaltou a diminuição de 40% nas queimadas entre 2020 e 2021.
Apesar dos números ruins, Mourão defende que o Brasil tem condições de negociar uma compensação pela preservação da Amazônia.
"Calculo por baixo que são 10 vezes uma Alemanha que o país tem de preservar. Então, obviamente o país tem que ser compensado por realizar esse trabalho em prol do restante da humanidade. É isso que temos que discutir efetivamente, sem paixões. De forma respeitosa e utilizando as armas da diplomacia", afirmou.
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