Brasil libera importação de farinha com trigo transgênico produzida na Argentina

Após dois anos e oito meses de embate, órgão federal autorizou a aquisição do produto, que será importado da Argentina



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Brasil de Fato - A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, decidiu por unanimidade, nesta quinta-feira (11), liberar a venda de farinha com trigo transgênico HB4, produzido na Argentina.

Este será o primeiro produto com trigo geneticamente modificado comercializado no mundo.

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O pedido de aprovação foi apresentado pela empresa Tropical Melhoramento & Genética (TMG), que pediu permissão para importar o trigo transgênico desenvolvido pela argentina Bioceres em parceria com a francesa Florimond Desprez. Foram dois anos e oito meses de embate até a aprovação.

Tolerante à seca e resistente ao veneno glufosinato de amônio, a variedade HB4 foi liberada sob o argumento do "aumento de produtividade em situações e ambientes de baixa disponibilidade hídrica, (...) para uso exclusivo em alimentos, rações ou produtos derivados ou processados."

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A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) se posicionou contra a liberação da tecnologia. Entidades como a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida e o Grupo de Trabalho (GT) Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) enviaram ofício ao Ministério Público Federal (MPF) criticando a falta de transparência no processo de avaliação na CTNBio.

Riscos

Segundo essas organizações, as consequências do consumo humano do trigo transgênico e dos agrotóxicos utilizados em seu cultivo podem ser catastróficas.

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Uma vez aprovado, o trigo transgênico é considerado um caminho sem volta – assim como já aconteceu com o milho, a soja e o algodão.

"A possibilidade de que o trigo transgênico contamine as outras variedades de trigo é quase inevitável", explicou a bióloga Alicia Massarini, integrante do coletivo de cientistas contrários ao HB4, do coletivo Trigo Limpio, em entrevista recente ao Brasil de Fato.

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"É impossível que as sementes não se misturem no processo de armazenamento e transporte. No campo também, porque, mesmo que o trigo seja uma planta autógama, que fecunda a si mesma, uma pequena proporção de cerca de 3% pode experimentar polinização cruzada", acrescentou a pesquisadora, lembrando que o Brasil não fez uma análise de riscos adequada e confiou "cegamente" nos critérios adotados pela Argentina.

A  Abitrigo estima que cada brasileiro consuma, em média, mais de 40 quilos do grão ao ano, por meio de alimentos como pão e massas.

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"O glufosinato de amônio, presente nos agrotóxicos utilizados no cultivo do trigo transgênico, pode causar alguns tipos de câncer. Também pode afetar o sistema reprodutivo, e é neurotóxico. Muitos riscos para um produto tão importante na alimentação humana", afirmou ao Brasil de Fato o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio entre 2008 e 2014 e colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) classifica o glufosinato de amônio como 15 vezes mais tóxico do que o glifosato, que já é alvo de ações na Justiça dos Estados Unidos por causar câncer.

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A modificação genética no trigo é realizada exatamente para tornar a planta resistente ao produto, proibido na Europa e na maioria dos países desenvolvidos.

Além dos riscos do agrotóxico, a própria condição do HB4 como produto transgênico não está isenta de riscos à saúde humana. Em nota publicada em setembro, ex-integrantes da CTNBio ressaltaram que não há consenso científico sobre a segurança dos transgênicos.

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A aprovação do trigo geneticamente modificado na Comissão terá impactos diretos na Argentina. O aval do Brasil é condicionante para a liberação da comercialização no país vizinho, autorizada no ano passado. O Brasil é responsável pela compra de 50% do trigo exportado pelos argentinos.

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