Brasil ganha com programa de satélites e pauta ambiental tem grande potencial a ser explorado, avalia especialista

“É uma viagem que recoloca nos trilhos a relação do Brasil com a China", afirma Danielly Ramos, professora do Instituto de Relações Internacionais da UnB

Amazônia, Lula e Xi Jinping
Amazônia, Lula e Xi Jinping (Foto: Reuters)


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Ana Carolina Peliz, RFI - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra nesta sexta-feira (14) a agenda oficial de uma viagem de 4 dias à China. Durante a passagem do chefe de Estado brasileiro por Pequim, foram assinados 22 acordos entre os dois países. Mas a importância da viagem não é apenas comercial: ela tem impactos políticos e reativa as relações bilaterais sino-brasileiras. 

 De acordo com a declaração final da reunião entre os chefes de Estado, o encontro se deu em uma “atmosfera calorosa e cordial”. O documento também afirma que os dois líderes “chegaram a amplos consensos” e que querem aproveitar o 50º aniversário de relações diplomáticas entre os dois países, em 2024, para continuar a estimular o diálogo bilateral e fortalecer a “Parceria Estratégica Global Brasil-China”, além de aprofundar a “cooperação em várias áreas como combate à pobreza, desenvolvimento social e inovação científica e tecnológica, bem como expandir novas áreas de cooperação como proteção ambiental, enfrentamento à mudança do clima, economia de baixo carbono e economia digital”.

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 Danielly Ramos, professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Ásia - América Latina e Caribe (ASIALAC) considera a viagem como extremamente importante, "por marcar o relançamento do governo Lula e do Brasil no mundo”, tendo impactos “não apenas econômicos, mas também políticos”.

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 “É uma viagem que recoloca nos trilhos a relação do Brasil com a China. Também mostra que o Brasil dá importância tanto para as relações com o Ocidente, com os Estados Unidos, mas também com os países asiáticos e, sobretudo, com a China”, analisa.

 Para a professora, os acordos assinados entre os dois países tentam “recuperar espaços, mas também alçar essa parceria a um nível mais elevado, com maior preocupação com ciência, tecnologia e inovação, preservação ambiental, temas sociais e não apenas a pauta tradicional de exportação de commodities e importação de produtos manufaturados vindos da China”.

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 Tensões entre parceiros

 A visita acontece em um momento de tensões entre Estados Unidos e China, dois dos principais parceiros do Brasil. Sobre a declaração de Lula, que afirmou que junto a Xi Jinping defenderia “um maior equilíbrio da geopolítica mundial”, Ramos diz que o presidente brasileiro tem um estilo próprio de fazer política que já é conhecido. “Eu acredito que os diplomatas experientes e aqueles que estão no poder há muito tempo conhecem o estilo de negociar, de se inserir, de discursar do presidente Lula”, pondera. Mas reconhece que as declarações podem provocar "rusgas e críticas".

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 Ela salienta que “existe uma aproximação de regimes de valores e de organização doméstica entre o Brasil e os países ocidentais, laços históricos, políticos, de valoração da democracia e dos direitos humanos, do livre comércio”, e lembra o papel importante do apoio dos Estados Unidos, do governo e da sociedade americana no ano passado e começo deste ano – que culminou com uma viagem de Lula – dando total apoio à eleição do presidente Lula ao regime democrático.

 “Mas existem também valores, princípios e objetivos comuns entre Brasil e China, como, por exemplo, a não ingerência nos assuntos domésticos, o fortalecimento da democracia internacional, não da democracia doméstica, inclusão dos países em desenvolvimento. Daí vem a expressão ‘nova geografia internacional’, [com] mais espaço para os países em desenvolvimento”, analisa.

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 Outro tema espinhoso é o de Taiwan. Na declaração final comum entre os chefes de Estado, o Brasil reiterou que “adere firmemente ao princípio de uma só China” considerando que a ilha “é uma parte inseparável do território chinês”.  

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 Ramos explica que esta já é a posição dos países mais importantes do sistema internacional. “Os que ainda não reconhecem (Taiwan como parte da China) são minoria, são de menor importância e não têm impacto na geopolítica e na geoeconomia internacional. Simplesmente é algo que tem muito mais impacto no plano bilateral do que no plano mundial”, diz.

 Ela aponta que a postura do Brasil traz muitos riscos políticos. “A gente sabe que, economicamente falando, todo mundo comercializa com a China, não só o Brasil, mas Estados Unidos, Europa, Ásia, África, América Latina. A China é extremamente forte no comércio, nos negócios, nas finanças internacionais”, insiste mencionando o “pragmatismo” existente nas relações bilaterais.

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 “Obviamente que há críticas dizendo que existe um hiperpragmatismo econômico brasileiro. Que faz com que se dê menos ênfase à cobrança por democracia e direitos humanos da parte do Brasil, e mais cobrança por igualdade econômica, comercial, de investimentos, de balança comercial. Mas pouco se fala de cobrança de direitos humanos ou de democracia do Brasil diante da China. Isso também é quase um tabu, digamos assim”, diz.

 Tecnologia

 Apesar da discussão sobre os direitos humanos não ter entrado na pauta das relações entre os dois países, isso não significa que temas importantes não foram discutidos, sobretudo em áreas como tecnologia e infraestrutura.

 Ramos destaca que o projeto de lançamento da sexta geração de satélite sino-brasileiro, para monitoramento ambiental por radar, previsto em um acordo assinado durante a viagem, que marca a retomada do CBERS (Programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), é determinante para a relação do Brasil e da China.

 “Isso é fantástico para a relação Brasil China. É um relançamento de um projeto brilhante dos anos 1980, com um novo satélite lançado, apesar da distância tecnológica entre Brasil e China na área de satélites. Para o Brasil é uma grande vantagem na proteção das florestas das queimadas”, diz.

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A pesquisadora acredita que na área ambiental existe um grande potencial para os dois países a ser explorado.

 “Eu acho que existe uma grande janela de oportunidades, não só entre Brasil e Estados Unidos, de financiamento, de preservação da Amazônia, mas também entre Brasil e China e dentro dos BRICS. O objetivo é financiar projetos de desenvolvimento sustentável. Então, eu acho que aí sim, a relação vai crescer”, afirma. “É uma agenda pouco explorada nos governos anteriores, que acredito que será explorada nesse governo atual, que tem toda possibilidade de gerar frutos positivos para a imagem do Brasil no mundo e para a imagem da China no mundo”, sublinha.

 Outra questão ressaltada pela especialista é a do interesse em novos investimentos em infraestruturas no Brasil. “A China sempre pensa o Brasil no contexto das infraestruturas, do comércio, da busca por commodities, produtos do agronegócio, produtos minerais e também como um ambiente para gerar negócios para as empresas chinesas”, explica.

 Neste contexto, uma das pautas importantes é a do 5G. Na quinta-feira, o chefe de governo brasileiro visitou o centro de desenvolvimento da gigante de tecnologia Huawei.

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