“A UE está envenenando a nossa população com a condescendência de políticos”, diz pesquisadora

A pesquisadora e mestranda em Ciências Criminais da PUC-RS Karine Agatha França apresentou na TV 247 as relações entre o nutricídio no país e a indústria agropecuária. "É uma forma de matar pela comida”, diz. Assista

(Foto: Victor Castanho/Brasil247)


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247 - Segundo levantamento feito por pesquisadores do grupo "Alimento para Justiça" da Universidade Livre de Berlim, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB), a insegurança alimentar grave ou moderada atingiu 27,7% da população brasileira no final do ano de 2020, ou 58 milhões de brasileiros, contra 16,8% em 2004. Paradoxalmente, o governo brasileiro perdoa dívidas bilionárias ao agronegócio e alega estar em crise econômica, extinguindo órgãos como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. É nesse contexto que a pesquisadora Karine Agatha França aponta o nutricídio que ocorre no Brasil durante a gestão Bolsonaro.

“O nutricídio foi um termo cunhado pelo professor Llaila Afrika, e que diz respeito ao genocídio alimentar. É uma forma de matar pela comida”, diz Karine a respeito do significado desse termo. A jovem acadêmica acrescenta que esse fenômeno é antropogênico e “ocasionado principalmente pelo modo de alimentação que nos foi imposto historicamente pelos países europeus [...] fruto da colonização branca eurocêntrica”.

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O nutricídio que surge com a colonização, continua por inércia até os dias atuais, aponta Karine. Ilustrando sua visão, a acadêmica aponta dados sobre a utilização excessiva de agrotóxicos e o fato de o país ser essencialmente um paraíso fiscal para a indústria agroquímica. “O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo porque as indústrias de agrotóxicos têm muitas regalias e subsídios do governo”, diz. Em outra fala, adiciona que “a maior parte das empresas responsáveis pelos agrotóxicos tem suas matrizes localizadas na Alemanha e nos Estados Unidos. A gente vê que elas estão transferindo as suas atividades danosas para a América Latina, para os países do sul global, para as regiões periféricas. É uma questão de condescendência interna, cujos exemplos são governantes como Bolsonaro que acabam flexibilizando em termos de regulamentação. Nós vivemos uma desregulamentação econômica na América Latina”. Para reforçar esse neocolonialismo alimentar, a pesquisadora ainda denuncia as contradições do senso-comum: “a fala comum é a de que no Brasil a gente liberou uma série de produtos que são proibidos na União Europeia, porém a União Europeia está proibindo o consumo interno mas está lucrando com a comercialização para os países como o Brasil. Ela está envenenando as nossas populações internamente com a condescendência dos representantes políticos.”

Karine continua sua fala sobre a questão de o Brasil ser um paraíso fiscal para a indústria agroquímica e aponta a contradição da realidade brasileira: “ao mesmo tempo em que o governo fala em crise, ele está isentando impostos e perdoando dívidas do agronegócio. [...] Já deixamos de arrecadar 6,2 bilhões com a isenção do ICMS para o agronegócio. E, enquanto isso, temos gente passando fome, sem dinheiro para comprar arroz e feijão. E o mais absurdo é que essa gente em situação de insegurança tem que pagar o ICMS, mas os grandes poderosos da indústria de agrotóxicos, como a Bayer, não”. Ela ainda denuncia uma fabricação maliciosa que se esboça na fusão das indústrias da Monsanto e da Bayer: “a Monsanto, aquela empresa que produz as sementes transgênicas e agrotóxicos, foi comprada pela Bayer, que produz os fármacos. Isso é algo assustador, porém inteligentíssimo: causa-se a doença e se vende o medicamento”.

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Comentando sobre as formas de solucionar a problemática do nutricídio e da fome, a pesquisadora aponta possíveis soluções. “É necessário realizar uma conferência para debater sobre o combate à fome, porém quem o faz é o CONSEA, órgão extinto por Bolsonaro no primeiro dia de mandato através de uma Medida Provisória”. Além disso, Karine afirma que “devemos pensar em medidas de reformulação estrutural” e refuta o maniqueísmo do discurso “que diz, de um lado, que a revolução é péssima e assim nunca iremos mudar o sistema, e do outro diz que se ficarmos apenas na reforma não há uma mudança radical mais forte”. A jovem acredita que “precisamos de um estado que seja formado por uma democracia participativa, formado por decisões pautadas no poder popular e coletivo. Precisamos cobrar mais fiscalização, a demarcação de territórios indígenas e remanescentes de quilombos de forma urgente.”

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