Zelensky admitiu sabotar acordos de Misk, enquanto Ocidente impediu negociações de paz, diz Ben Norton

Alemanha e França disseram que Kiev usou o argumento “para comprar tempo” para preparar para a guerra

(Foto: REUTERS/Arnd Wiegmann)


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Artigo de Ben Norton originalmente publicado no website Geopolitcal Economy Report em 12.02.23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

O líder da Ucrânia Volodymyr Zelensky reconheceu para um jornal alemão que ele se recusou a implementar o acordo de paz Minsk com a Rússia.

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Os acordos de Minsk foram dois, negociados na Bielorrússia; assinados pela Ucrânia, a Rússia e a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE); e supervisionados pela Alemanha e a França, segundo o chamado Formato Normandia.

Os acordos visavam fazer parar o conflito que se desencadeou na Ucrânia na esteira do violento golpe de estado de 2014, apoiado pelos EUA, que iniciou uma guerra civil entre o governo pós-golpe e pró-Ocidente de Kiev e os separatistas pró-russos no leste.

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O primeiro acordo, conhecido como Minsk I, foi alcançado em 2014, porém falhou. Isto levou ao Minsk II em 2015. Este segundo acordo foi ostensivamente mais estável, mas o presidente anterior Petro Poroshenko jamais o implementou de verdade.

Quando Zelensky concorreu à presidência, ele se diferenciou de Poroshenko ao prometer “reiniciar” as negociações de paz com os separatistas de língua russa no leste e “continuar na direção das conversações de Minsk e de ir na direção de concluir um cessar-fogo”.

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Porém, logo após chegar ao poder em 2019, Zelensky fez um giro de 180 graus.

Numa entrevista para o diário alemão Der Spiegel, publicado em 9 de fevereiro, Zelensky deixou claro que ele escolheu intencionalmente sabotar o Minsk.

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O líder ucraniano reclamou que os acordos Minsk foram uma “concessão” inaceitável.

Zelensky lembrou-se de ter falado para o presidente francês Emmanuel Macron e a Chanceler alemã Angela Merkel que “nós não podemos implementá-lo”.

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“A procrastinação está perfeitamente bem”, disse Zelensky, explicando que ele apenas “pulou no trem” e fez de conta que apoiava Minsk a fim de negociar uma troca de prisioneiros com a Rússia – e para dar ao seu país mais tempo para preparar-se para a guerra.

A própria Merkel confirmou isto em dezembro de 2022, numa entrevista ao jornal Die Zeit.

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A ex-líder alemã declarou que “o acordo de Minsk em 2014 foi uma tentativa de ganhar tempo para a Ucrânia. A Ucrânia usou este tempo para se tornar mais forte”. 

Mais tarde, o ex-presidente francês François Hollande comentou, “Angela Merkel tem razão neste ponto”.

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Hollande acrescentou: “Desde 2014, a Ucrânia fortaleceu a sua postura militar. Efetivamente, o exército ucraniano ficou completamente diferente daquele de 2014. Ele estava melhor treinado e melhor equipado. É mérito dos acordos de Minsk haver dado ao exército ucraniano esta oportunidade”.

O acordo Minsk II estipulava que a Ucrânia teria que reformar a sua constituição, decentralizar a autoridade do estado e prover a autonomia às províncias de fala russa no leste com um “status especial” e com “autogovernos” para as regiões de Donetsk e Lugansk. 

Kiev se recusou a fazê-lo em ambos os governos ucranianos – o do presidente Petro Poroshenko, que assinou os acordos de Minsk, e o do seu sucessor Zelensky, que assumiu o governo em 2019.

Os pontos 11 e 12 do acordo Minsk II rezam (ênfase adicionada):

11. A implementação da reforma constitucional na Ucrânia, sendo que a constituição entrará em vigor até o final de 2015, o elemento-chave da qual é a descentralização (levando em conta as peculiaridades específicas dos distritos de Donetsk e Luhansk Oblasts, acordados com representantes destes distritos), e também a aprovação de uma legislação permanente sobre o status especial dos distritos de Donetsk e Luhansk Oblasts, de acordo com as medidas registradas nas notas de rodapé, até o final de 2015. 12. Baseado na lei ucraniana, “sobre a ordem temporária de autogovernos nos distritos específicos de Donetsk e Lugansk Oblasts”, as questões tratando de eleições locais serão discutidas e acordadas por representantes das áreas do Donetsk e Lugansk Obltasts dentro do quadro deste Grupo Trilateral de Contato. As eleições serão realizadas de acordo com os padrões relevantes da OSCE e monitoradas pela OSCE/ODIHR.

O governo ucraniano não implementou estas medidas. Zelensky tirou todas as dúvidas sobre o porque disso: Esta foi uma escolha intencional.

A Chanceler alemã Merkel esclareceu o que a Ucrânia escolheu fazer em lugar disso: Fazer de conta que ela implementaria o acordo Minsk II, enquanto usava o tempo para fazer estoques de armamentos ocidentais e para treinar os seus militares para se prepararem para a guerra com a Rússia.

Ocidente bloqueou as negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia

O reconhecimento de Zelensky de que ele sabotou um acordo de paz com a Rússia veio logo depois que o ex-líder israelense revelou que o Ocidente fez o mesmo.

O ex-primeiro-ministro de Israel Naftali Bennett revelou numa entrevista que os EUA e a Europa “bloquearam” a sua tentativa de negociar a paz entre a Rússia e a Ucrânia.

Num vídeo que ele publicou no seu canal de YouTube, Bennet disse que “havia uma decisão legítima do Ocidente de continuar a atacar Putin”, para escalar a guerra, ao invés de buscar a paz”.

“Então eles bloquearam isto?” perguntou o entrevistador, referindo-se à tentativa de Bennett de intermediar a paz. E o ex-líder israelense respondeu, “Basicamente, sim. Eles o bloquearam e eu pensei que eles estavam errados”.

Esta não foi a única vez que o Ocidente bloqueou a paz.

Em dezembro de 2021, Moscou exigiu do Ocidente garantias de segurança por escrito, incluindo a promessa de que a Ucrânia não entraria na OTAN e que a aliança militar liderada pelos EUA não realizaria atividades na Europa Oriental, nas fronteiras com a Rússia.

Moscou publicou dois rascunhos de tratados de paz. Mas Washington e Bruxelas os rejeitaram. Os EUA e a OTAN insistiram que eles tinham o direito de continuar a expandir a sua aliança militar agressiva sobre as fronteiras da Rússia.Isto violou descaradamente o acordo que os EUA, o Reino Unido e a França fizeram com Moscou em 1990, no qual a ex-União Soviética permitiu a reunificação da Alemanha, com a condição que a OTAN não devesse se expandir “uma única polegada para o leste”. Ao invés disso, a OTAN adicionou 14 novos membros, todos na Europa Central e Oriental – alguns deles nas fronteiras da Rússia.

Tendo exaurido todas as tentativas de se ter uma resolução diplomática para o conflito, a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022.

Apenas em algumas semanas desta nova fase da guerra, em março, a Turquia conduziu negociações em Istambul entre a Rússia e a Ucrânia. Ambos os lados chegaram a um acordo para terminar a guerra, segundo o jornal anti-russo Ukrainska Pravda e uma antiga alta autoridade do governo dos EUA. Mas o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson viajou a Kiev para matar o acordo de paz, e o Ocidente, ao invés disso, escalou a guerra por procuração, buscando desestabilizar e derrubar o governo russo.

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