Vijay Prashad e José Carlos Llerena Robles explicam papel dos EUA no golpe do Peru

A última chamada telefônica que Castillo recebeu antes de abandonar o palácio presidencial veio da Embaixada dos Estados Unidos

(Foto: AP Photo)


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Vijay Prashad e José Carlos Llerena Robles, Globetrotter

No dia 7 de dezembro de 2022, Pedro Castillo estava sentado em seu gabinete, no que seria seu último dia na presidência do Peru. Seus advogados analisavam planilhas que indicavam um triunfo de Castillo sobre uma moção no Congresso para removê-lo do cargo. Essa seria a terceira vez que Castillo enfrentava uma impugnação no Congresso, mas seus advogados e conselheiros – incluindo o ex-presidente Aníbal Torres – diziam que ele tinha uma vantagem sobre o Congresso nas pesquisas de opinião (sua taxa de aprovação havia crescido para 31%, enquanto a do Congresso era de somente 10%).

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Castillo esteve submetido a uma imensa pressão no ano anterior, por parte de uma oligarquia que desprezava o ex-professor. Em um movimento surpreendente, ele anunciou para a imprensa no dia 7 de dezembro que iria “dissolver temporariamente o Congresso” e que “[estabeleceria] um governo de emergência excepcional”. Essa medida selou seu destino. Castillo e sua família correram para a embaixada mexicana, mas que pudessem alcançá-la foram presos por militares na Avenida España.

Por que Pedro Castillo tomou esse passo fatal de tentar dissolver o Congresso quando estava claro para seus conselheiros – como Luis Alberto Mendieta – que ele sairia vitorioso após a votação daquela tarde?

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A pressão atingiu Castillo, apesar das evidências. Desde sua eleição, em julho de 2021, sua oponente na eleição presidencial, Keiko Fujimori, junto de seus aliados, tentou impedir sua ascensão à presidência. Ela trabalhou com homens que tinham ligações diretas com o governo dos EUA e suas agências de inteligência. Um dos membros da equipe de Fujimori, Fernando Rospigliosi, por exemplo, havia tentado envolver a embaixada dos EUA em Lima contra Ollanta Humala, que disputou a eleição presidencial peruana de 2006. Vladimiro Montesinos, um ex-agente da CIA que cumpre pena em uma prisão do Peru, enviou mensagens para Pedro Rejas, ex-comandante do Exército peruano, para ele ir “à embaixada dos EUA conversar com o chefe de inteligência da embaixada”, com o objetivo de tentar influenciar a eleição presidencial peruana de 2021. Pouco antes da eleição, os EUA enviaram ao Peru a ex-agente da CIA, Lisa Kenna, como sua embaixadora em Lima. Ela se reuniu com o ministro da Defesa, Gustavo Bobbio, no dia 6 de dezembro, e publicou um tuíte denunciatório contra a tentativa de Castillo de dissolver o Congresso no dia seguinte (em 8 de dezembro, por sua vez, o governo dos EUA – por meio da embaixadora Kenna – reconheceu o novo governo peruano, após a queda de Castillo).

Uma figura chave na campanha de pressão contra Castillo parece ter sido Mariano Alvarado, oficial de operações do Grupo de Assistência e Assessoria Militar (MAAG), que efetivamente atua como adido de Defesa dos EUA. Nos é dito que funcionários como Alvarado, que estão em estreito contato com os generais peruanos, lhes deram luz verde para atuarem contra Castillo. Também é sabido que a última chamada telefônica que Castillo recebeu antes de abandonar o palácio presidencial veio da Embaixada dos Estados Unidos. É provável que tenham-no advertido para que fugisse à embaixada de uma potência amiga, o que o faria parecer fraco.

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Este artigo foi produzido para a Globetrotter e traduzido por Pedro Marin para a Revista Opera.

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