Um ano depois, Israel ainda tem que ser responsabilizado pelo assassinato de Shireen Abu Akleh
Embora um pedido de desculpas tenha sido finalmente emitido, a entidade sionista ainda não foi responsabilizada pelo assassinato deliberado de uma proeminente jornalista palestina
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Publicado no The Real News Network. Chris Hedges entrevista a jornalista Kavitha Chekuru, uma produtora do Al Jazeera. Tradução da transcrição original da entrevista feita por Rubens Turkienicz, com exclusividade para o Brasil 247
A veterana jornalista palestina Shireen Abu-Akleh estava cobrindo um ataque israelense no campo de refugiados de Jenin (na Cisjordânia), na sua função oficial como repórter da Al Jazeera em 11 de maio de 2022, quando um franco-atirador israelense anônimo disparou uma bala no estreito espaço entre a parte de trás do seu capacete e a gola do seu colete à prova de balas, matando-a. Naquele momento, Abu-Akleh estava fugindo dos disparos israelenses dirigidos a ela e outros jornalistas que observavam o ocorrido, incluindo o produtor da Al Jazeera Ali Al-Samudi, que foi ferido alguns momentos antes da morte de Abu Akleh.
Um ano depois, as forças militares israelenses publicaram uma apologia por matarem Shireen Abu-Akleh. Isto confirma incontáveis reportagens de testemunhas jornalísticas, análises de múltiplos veículos internacionais, condenações de governos de todo o mundo e uma investigação conjunta que determinou que as forças israelenses visaram Abu Akleh deliberadamente. Portanto, a admissão de Israel reflete uma derrota definitiva na batalha de narrativas ao longo de um ano, na verdade é uma decisão moralmente dirigida. A produtora sênior do programa Front Lines da Al Jazeera, Kavitha Chekuru, comparece ao The Chris Hedges Report para discutir o assassinato de Abu Akleh e o status do seu caso, um ano depois.
Kavitha Chekuru é uma produtora sênior do programa Front Lines da emissora Al Jazeera, que publicou o documentário 'O Assassinato de Shireen Abu Akleh' em dezembro passado.
Chris Hedges: Shireen Abu Akleh, a repórter da Al Jazeera com mais de duas décadas de experiência cobrindo conflitos armados, conhecia o protocolo. Ela e outros repórteres se postaram em locais abertos, claramente visíveis para os franco-atiradores israelenses que estavam postados a menos de 200 metros de distância. O seu colete à prova de balas estava marcado com a palavra “Press” [Imprensa]. Duas sequências de tiros foram disparados contra os jornalistas. Na primeira, o produtor Ali Al-Samudi foi alvejado.
Enquanto a jornalista se virou para fugir dos disparos, Shireen foi alvejada na segunda rajada com um tiro abaixo do seu capacete, segundo a organização de direitos humanos Al-Haq. Passaram-se alguns segundos, quando o franco-atirador israelense viu claramente na sua mira telescópica o perfil de Abu Akleh, uma das faces mais reconhecíveis no Oriente Médio. A precisão do fuzil M16 – especialmente o M16A4, equipado com uma avançada mira ótica de combate, uma mira telescópica prismática – é muito alta.
No combate em Fallujah, por exemplo, muitos dos muitos insurgentes mortos foram encontrados com ferimentos na cabeça que, à primeira vista, os observadores pensaram que haviam sido executados. A bala que matou Abu Akleh foi habilmente localizada na abertura muito estreita separando o seu capacete da gola do seu colete à prova de balas. Eu estive em combate, incluindo confrontos entre forças israelenses e palestinas. Os franco-atiradores são temidos no campo de batalha porque cada disparo é calculado. A execução de Abu Akleh não foi um acidente: ela foi escolhida para ser eliminada.
Eu não posso responder se este assassinato foi ordenado por oficiais comandantes, ou se foi um capricho de um franco-atirador israelense. Os israelenses disparam contra tantos palestinos com impunidade. Meu palpite é que o franco-atirador sabia que podia matar Abu Akleh e jamais sofrer quaisquer consequências. Al Jazeera declarou que este foi “um flagrante assassinato que viola as leis e normas internacionais”.
A rede adicionou que “Abu Akleh foi assassinada a sangue frio”. Abu Akleh, que tinha 51 anos e era uma palestina estadunidense, era uma presença familiar e confiada nas telas dos televisores de toda a região, reverenciada pela sua coragem e integridade e amada pelas suas reportagens cuidadosas e sensíveis sobre as complexidades da vida cotidiana sob ocupação. A suas reportagens dos territórios ocupados perfuravam rotineiramente as narrativas israelenses e expunham os abusos e crimes israelenses, tornando-a a bête noire do governo israelense. É muito difícil acreditar que ela não foi um alvo deliberado.
Juntando-se a mim para discutir a morte de Abu Akleh e a recusa do governo Biden de responsabilizar Israel pelo assassinato, está aqui Kavitha Chekuru, uma produtora sênior do programa Front Lines da emissora Al Jazeera, que produziu a reportagem investigativa entitulada The Killing of Shireen Abu Akleh.
Kavitha, esta é uma reportagem maravilhosa. Ela está no YouTube e todos podem assisti-la. Você fez um trabalho tremendo de juntar a narrativa do que ocorreu. Eu quero que você comece do início; uma das razões pelas quais nós podemos determinar o que ocorreu é porque temos a filmagem em vídeo disso – de telefones celulares e outros aparelhos, e de câmeras – que nós não temos para a maioria dos palestinos.
À medida que você for adiante, eu me pergunto se você poderia descrever a resposta israelense e, como é típico de Israel, em termos de primeiro tentar culpabilizar a vítima e como isto mudou? Mas, fale sobre o relato inicial de que ela foi alvejada, o que você soube, e o que aconteceu depois.
Kavitha Chekuru: Certo. Naquele 11 de maio, a equipe estava em Jenin, que é uma cidade na parte norte da Cisjordânia. Nas semanas anteriores, houve uma série crescente de ataques militares israelenses. Shireen e os seus colegas, bem como outros jornalistas, estiveram cobrindo-os, e aquele dia não foi uma exceção.Shireen e todos lá são jornalistas experientes. Eles sabem como cobrir conflitos e como cobrir este conflito, em particular. Quando eles receberam a notícia sobre o ataque, Ali Al-Samudi – um produtor e jornalista baseado em Jenin, que trabalhou com Shireen durante duas décadas – ele a chamou e lhe contou o que estava ocorrendo: que o ataque havia começado. Então, ela e a equipe da Al Jazeera saíram do seu hotel. Eles se encontraram com Ali, bem como outros jornalistas que já estavam lá, e aguardaram. Eles vestiam os seus capacetes e os seus coletes à prova de balas, e aguardaram para terem certeza de que era seguro.
Eles estavam longe do combate próprio. Quando eles olharam inicialmente para a cena, eles estavam a algumas quadras de onde podiam ver um comboio israelense. Em outra filmagem feita por civis no campo e pelos próprios militares israelenses – mais tarde, eles apresentaram filmagens de câmeras dos seus corpos, e eu falarei sobre isso. Isto também faz parte da resposta deles – Mas eu mencionei a filmagem, porque ela mostra onde eles estavam, o que também será importante na resposta dos militares israelenses.
O que eles viram foi um comboio de cinco veículos militares israelenses a cerca de 200 metros de distância. Eles aguardaram, não houve disparos, parecia tudo calmo. Como os sobreviventes do incidente nos contaram, quando eles pensaram que estavam a salvo, eles começaram a caminhar muito lentamente. Todos eles vestiam os seus coletes que diziam “Press” [imprensa].
Devo dizer que, quando fomos a Jenin – ao lugar onde isto ocorreu – se você olhar a partir do ponto onde o comboio estava, descendo pela rua onde estavam os jornalistas, não seria sequer necessário ter um rifle com mira telescópica para se ver. Era uma distância muito pequena. As pessoas eram visíveis a olho nu. Quando você olha através de uma mira telescópica, isso fica ainda mais perto, mais óbvio, do que eles estão vendo.
Eles começam a caminhar e, de repente, começam os disparos. Eles deram a volta, Ali foi atingido. O cinegrafista do Al Jazeera começou a gravar imediatamente. Ele estava a alguma distância dos outros. Aquela filmagem, em particular, se tornou muito crucial porque nos revelou o número de disparos que foram feitos. Mas, também nos mostrou... Quero dizer que é uma filmagem horrível. Shireen está no chão e você vê que os disparos se seguem mesmo depois disso, especialmente quando os seus colegas e alguns civis tentaram ajudá-la.
Chris Hedges: Eu quero interromper. Porque na filmagem, toda vez que alguém se aproximava dela – e ela estava de bruços no chão – eles disparavam contra eles.
Kavitha Chekuru: Exatamente. Exatamente. Se torna um pouco difícil pensar que foi apenas eles terem ficado no fogo cruzado; quando alguém tenta ajudá-la, são visados novamente. Ao final, eles conseguiram tirar o corpo dela de lá, foram ao hospital e ela foi pronunciada como morta. Uma das coisas que eu devo assinalar é que – se os nossos espectadores e ouvintes não tem conhecimento – Shireen Abu Akleh era um nome familiar nos lares do Oriente Médio; ela era muito conhecida. Ela cobriu a Palestina para o Al Jazeera desde 1997. Foi um choque para nós sabermos que esta pessoa estava morta.
Houve uma resposta muito rápida dos militares israelenses. Eles disseram que está ocorrendo um combate. Que poderiam ser combatentes palestinos que a mataram. Eles liberaram um vídeo rapidamente. Na verdade, havia dois vídeos. Um era um vídeo que eles mesmos capturaram dos próprios combatentes – num local em Jenin de onde eles estavam atirando – dizendo que isso poderia ser onde o combate ocorreu ou os assassinos estavam. Depois eles publicaram um vídeo deles: filmagem de câmeras de corpo que mostram a sua própria localização e a configuração do comboio. Isto ocorreu apenas a algumas horas do próprio tiroteio.
De novo, as filmagens de todas as partes envolvidas se tornam tão importantes quando você trata de dissecar tudo que está ocorrendo. Aquela filmagem que eles tiraram dos combatentes palestinos, esta é a localização dos combatentes. B'Tselem – que é um grupo israelense de direitos humanos – mandou muito rapidamente um dos seus pesquisadores exatamente para aquele lugar e mostraram que não era possível que aqueles combatentes estivessem naquele local, ou que fosse qualquer dos combatentes palestinos que estavam mais para dentro de Jenin. Essencialmente, não havia um tiro limpo. Ventava muito. Teria sido uma bala mágica para ser um combatente palestino – é o que eu estou dizendo.
Isso se vê muito quando os militares israelenses são acusados de matar civis e de matar palestinos. Esta é uma estratégia muito testada e verdadeira: jogue isso no ar, deixe a dúvida se espalhar e depois deixe vazar isto para a imprensa. Mas era impossível fazer isto neste caso, especialmente porque a filmagem de vídeo que estava disponível do cinegrafista do Al Jazeera, bem como de outro civil que estava filmando com o seu celular logo antes do tiroteio começar.
Chris Hedges: A narrativa israelense passa por mutações, isto tampouco é incomum. Fale um pouco sobre esta mutação. Como respondem os israelenses, quando os fatos aparecem.
Kavitha Chekuru: Sim. A primeira resposta deles foi dizer que poderia ter sido feito por palestinos e depois foi um pouco de dar um passo para trás. Isso é como dizer que talvez foi, porém, talvez não foi. Nós não sabemos. E depois é como, bem, precisamos ver, porque poderíamos ter sido nós, mas nós não sabemos ainda. Aí está o jogo da espera, essencialmente. E este jogo da espera segue; neste ínterim, várias investigações foram publicadas por veículos de notícias respectivos: da EBP à CNN, o The New York Times, o Washington Post, bem como de grupos de direitos humanos como o B'Tselem. A ONU fez as suas próprias investigações. Todos eles disseram que era provável que tivessem vindo de Israel, que foram os militares israelenses que a mataram.
Finalmente, foi em setembro que os militares israelenses publicaram a sua conclusão final, porque eles disseram que estavam conduzindo uma investigação. E a investigação deles disse que, sim, pode ser que eles tenham atirado nela, mas isso é porque ela estava no meio de um fogo cruzado. O problema é que isso é contestado por testemunhas oculares e que, de novo, há filmagens disponíveis. Mas não houve consequência alguma. Sim. Eles disseram -
Chris Hedges: Vamos falar sobre a resposta dos EUA. Shireen era uma cidadã estadunidense e é muito revelador do conluio entre Israel e Washington, o governo Biden. Fale sobre a resposta dos EUA, as promessas dos EUA e a investigação. Fale sobre o que ocorreu.
Sim. Muito rapidamente, os EUA foram questionados sobre o que eles fariam. Como você assinalou, ela era uma cidadã estadunidense. No início, eles disseram, nós queremos ter todos os fatos. Nós deploramos isto, isto é horrível. As coisas que eles dizem normalmente. Em junho, o secretário de estado Blinken disse que queria uma investigação minuciosa e independente – e esta é a palavra-chave aqui, independente – sobre a morte dela, de modo que eles possam conhecer os fatos. A independência é realmente a chave aqui.
Existe um escritório dos EUA em Israel e na Palestina que se chama de Coordenador de Segurança dos EUA. Essencialmente, este escritório é operado pelo Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos EUA. Inicialmente, eles eram os responsáveis por verificar o assassinato. Eles já estavam concordando com a conclusão israelense naquele ponto, não a conclusão palestina, mas a conclusão israelense. Isto é mentira. Ela foi morta pelos militares israelenses, mas era um fogo-cruzado. Eles tendiam ao fogo-cruzado para dizer que foi um acidente. Como consequência disso, eles ficaram emperrados nisso. Uma das coisas que eles também disseram é que eles querem ter certeza que isso jamais ocorra outra vez.
Então, a questão é: como se faz para isso não ocorrer de novo? Deve haver a responsabilização. Mas o problema é que você precisa ter investigações verdadeiras, com consequências reais. Se não for assim, o que você acaba tendo é a impunidade. É isto que está acontecendo aqui, porque os EUA estão concordando com a mentira israelense. Ela abre a porta para isso seguir adiante. Porque, se não há consequências com o assassinato de uma cidadã estadunidense, uma jornalista renomada, então o que isso significa só para civis palestinos?
Chris Hedges: Vamos falar sobre a bala, porque os palestinos têm a bala que foi extraída do corpo de Shireen. Os israelenses dizem que não podem ter uma investigação conclusiva a não ser que lhe seja fornecida a bala. Por razões óbvias, a Autoridade Palestina está muito reticente em dar a bala aos israelenses. É aí que entram os estadunidenses. Você pode falar sobre o que ocorreu?
Kavitha Chekuru: Sim. Efetivamente, o coordenador de segurança dos EUA disse que eles fizeram uma análise forense da bala, mas esta foi inconclusiva.
Chris Hedges: Os EUA prometeram fazer uma investigação independente se lhes fosse fornecida a bala. A bala foi entregue aos EUA e o que ocorreu depois?
Kavitha Chekuru: A bala foi provida aos EUA. Eles a analisaram e disseram que foi inconclusivo. Porém, não houve uma investigação independente. No entanto, em novembro foram publicadas notícias de que o FBI iria investigar. Agora, não há muitos fatos sobre aquele pensamento, devo assinalar. Isso foi publicizado mais de 6 meses depois que ela foi morta. Naquele momento, os EUA esclareceram qual era a sua posição sobre este assassinato e a ideia de uma investigação, de que não haveria uma investigação independente conduzida pelos EUA. Isto estava fora de discussão. No que tange ao Departamento de Justiça e o FBI, se supõe que as suas investigações sejam independentes do governo.
Não há muitos fatos sobre quando esta investigação está ocorrendo, ou se já ocorreu, por exemplo. O que nós sabemos, no entanto, é que Israel não vai cooperar. O governo israelense deixou isto claro. Isto foi o governo anterior, que não é tão de direita como o atual. Penso que é bastante seguro afirmar-se que o governo atual tampouco vai cooperar.
Chris Hedges: Fale sobre o funeral.
Kavitha Chekuru: O funeral dela? Eu não estava lá. Eu estava assistindo como uma espectadora dos EUA. Primeiro, houve um funeral de estado em Ramallah, em 12 de maio, um dia antes. E depois, em 13 de maio, eles trouxeram o corpo dela à Jerusalém para ser enterrado num cemitério cristão na cidade antiga. E milhares de palestinos vieram para carpi-la. Esta foi uma filmagem feita ao vivo, a procissão toda, no Al Jazzera English e no Al Jazeera. Assim que eles trouxeram o caixão para fora do necrotério e começaram sair pelos portões do hospital para começarem o resto da procissão, eles foram atacados por forças de segurança israelenses em Jerusalém.
Isto é chocante. A filmagem chocante da maneira como as forças de segurança atacaram aqueles enlutados que estavam carregando o caixão. O que o irmão dela nos contou quando falamos com ele é que a sensação era que eles estavam fazendo os enlutados deixarem cair o caixão.
Chris Hedges: Então, o caixão quase caiu no chão.
Kavitha Chekuru: Sim, os enlutados se asseguraram de mantê-lo para cima enquanto estavam sendo golpeados. Na filmagem, você pode vê-los rasgando a bandeira palestina. Se as pessoas não assistiram aquela filmagem, eu as encorajaria a fazê-lo.
Chris Hedges: O que você pensa ser a mensagem que Israel tinha a intenção de transmitir com o assassinato e com a resposta ao assassinato? O que eles estavam dizendo, em especial aos palestinos?
Kavitha Chekuru: Isso é interessante. Quando jornalistas são mortos numa situação que não é tradicional, ou uma guerra típica. Nós não estamos falando sobre a Ucrânia. Isso pode parecer meio louco, mas mais cedo neste ano eu estava cobrindo as matanças de jornalistas no México. Eu penso que há um fator em comum quando você olha para o porquê os jornalistas são visados nestes conflitos não-tradicionais. As pessoas não querem que certas coisas sejam conhecidas. Elas não querem que os jornalistas estejam lá para documentar a verdade, e eu penso que este é o caso aqui. Nós fizemos esta pergunta aos jornalistas que estavam lá naquele dia do tiroteio e também os que foram atingidos pelos tiros. Eles disseram a mesma coisa – que eles pensam que o governo israelense não quer que o que ocorre nos territórios ocupados seja publicizado, porque a situação está piorando. Mais palestinos foram mortos na Cisjordânia ocupada no ano passado do que, pensou eu, desde 2004-2005.
Chris Hedges: Quando você fez esta investigação, o que a surpreendeu mais?
Kavitha Chekuru: Os EUA, eles têm uma tendência – não que isto seja uma novidade – Mas a maneira pela qual eles estão ignorando os fatos muito claros sobre o que aconteceu. Esta ideia que eles seguem dizendo que ela foi pega num fogo-cruzado é uma mentira flagrante.
Chris Hedges: O novo governo de Netanyahu é mais extremado ainda do que o antigo governo. E não está muito longe de ser neo-fascista, certamente porque muitos elementos daquele governo o são. Esta é uma coalizão de governo com as figuras mais extremas do establishment político israelense, muitos são herdeiros do terrorista Rabino Meir Kahane. Para onde você vê que isto se encaminha? O que vai ocorrer agora?
Kavitha Chekuru: Esta é uma boa pergunta. Para ser franca, não vai a nenhum lugar bom. Se nós estamos falando sobre o que isto significa para os palestinos, em especial, nós temos visto que já tem havido muitos protestos feitos pelos próprios cidadãos israelenses contra este novo governo.
Chris Hedges: Sim, mas se trata na sua maior parte da reforma judicial, se eu não me engano, e não sobre a ocupação.
Kavitha Chekuru: Não. Mas se nós estamos falando especificamente para os palestinos, não há nada bom. O governo deixou muito, muito claro desde o primeiro dia que este será o governo israelense mais extremista na memória recente, e que eles consideram a terra palestina como terra israelense. Mesmo olhando para a maneira como os colonos têm agido nas últimas duas semanas, em especial, você pode ver este encorajamento. Portanto, é ainda mais importante que os jornalistas sejam capazes de fazer o seu trabalho nos territórios ocupados.
Chris Hedges: Para onde estamos indo? Eu penso que a Al Jazeera quer levar isto para o Tribunal Penal Internacional (TPI), se eu entendo corretamente? Eles não querem deixar isso cair.
Kavitha Chekuru: Devo dizer, eu não quero falar como representante do Al Jazeera desta maneira, porque se trata de um caso judicial e eu não penso ser alguém realmente qualificada para fazer isto.
Chris Hedges: Mas eles estão buscando reparar isto em fórums internacionais. Talvez você possa pelo menos explicar isto.
Kavitha Chekuru: Eles fizeram uma petição ao TPI no início de dezembro. Houve uma petição mais ampla feita por grupos de direitos humanos palestinos e advogados sobre a ocupação israelense, para que o TPI investigue isso. Eu diria que esta é uma parte disso. Conseguir a responsabilização em qualquer situação na qual um palestino é morto pelos militares israelenses, muito raramente se faz justiça. Eu espero que não seja o caso aqui, mas se você olhar para o passado, isso mostra que é muito difícil de se conseguir.
Chris Hedges: Muito bem. Esta foi Kavitha Chekuru, a produtora do documentário 'The Killing of Shireen Abu Akleh' para a Al Jazeera – que pode ser visto no YouTube. Quero agradecer à The Real News Network e à sua equipe de produção: Cameron Granadino, Adam Coley, David Hebden, Darlan Jones e Kayla Rivara. Vocês podem me encontrar no www.chrishedges.substack.com.
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