Letícia Parks: luta contra racismo depende de acabar com o capitalismo
Líder do Quilombo Vermelho explica divergência entre antirracismo liberal e marxista, defende política de cotas e conta sua trajetória; veja vídeo na íntegra
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Opera Mundi - No programa SUB40 desta quinta-feira (21/10), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Letícia Parks, fundadora do Quilombo Vermelho e militante do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores.
Ela falou sobre a importância da luta antirracista estar ligada à luta de classes. Aliás, a militante disse não ser possível lutar contra o racismo sem lutar contra o capitalismo, “não há saída negra dentro do capitalismo”.
Parks também discorreu sobre a importância de massificar o movimento, lamentando que existam correntes que defendam o colorismo, “dizendo que dependendo do tom da pele, uma pessoa sofre menos ou mais racismo, só que pretos e pardos, como eu, de mãe branca e pai negro, têm experiências muito similares de racismo”.
A professora argumentou que essa separação só dificulta a produção de uma consciência coletiva de classes e que pessoas pardas, como é definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se identifiquem como negras, reconhecendo o racismo que sofrem e organizando sua forma de luta.
“Para quem diz que quer enfrentar o racismo, o patriarcado e a sociedade de classes, não tem que ficar discutindo sobre quem pode falar. Essa é uma luta de unidade, temos que massificar o movimento. Eu não quero ficar discutindo quem pode ou não falar no meu nome, por mim pode vir lutar todo o mundo junto, mesmo quem não é negro”, defendeu.
De acordo com a líder, isso se faz especialmente importante no Brasil de Jair Bolsonaro e de uma burguesia que busca fragmentar as lutas sociais, para “capturar a luta antirracista e colocar num norte dentro do capitalismo”, assim gerar uma luta antirracista liberal. Parks alertou para o fato de que todas as conquistas do movimento negro, de mulheres e de trabalhadores estão sendo ameaçadas, “precisamos lutar para garantir a defesa dessas conquistas”.
A militante também ressaltou os retrocessos promovidos pelo governo, como a tentativa de regularizar o Marco Temporal ou a retirada de recursos econômicos direcionados à medidas sociais de proteção à mulheres em situação de violência doméstica.
“Mas a derrota não está dada. A burguesia não vai gostar de ouvir isso, mas nem a classe operária nem as massas negras estão derrotadas”, afirmou.
Governos PT: passado e possível futuro
Parks avaliou os governos petistas e as políticas direcionadas à população negra, em particular o sistema de cotas. Ela definiu a política como “elementar”, mas ponderou que a conquista foi dos movimentos sociais, não de um governo.
“Em alguma medida, o PT tinha que corresponder aos anseios do grupo que o colocou no poder. Só que, ao mesmo tempo que o PT aprovava cotas a nível federal, executava medidas que iam contra a massa negra, por exemplo triplicando a massa carcerária”, disse.
Para ela, “a gente não pode ter saudosismo dos governos petistas frente ao bolsonarismo”, mesmo reconhecendo que foi durante os mandatos de Lula e Dilma que mais se avançou a nível social.
Por isso, pensando num pleito eleitoral polarizado entre Lula e Bolsonaro, Parks não quis definir se o MRT apoiará o candidato petista: “Precisamos ver as condições das eleições e encará-las com a seriedade que precisamos ter, com debate, propostas e conversas”.
Pensando nas campanhas de 2022, a militante definiu como um erro o PSOL ter desistido de apresentar um candidato próprio, por exemplo, “porque a gente precisa de um programa à esquerda do PT”. Ela ainda considerou como um erro indicar, desde já, qualquer apoio ao PT sem nem debater um programa político.
É por isso que Parks reforçou a importância de não deixar as “pautas difíceis” para depois, pois as oportunidades vão se perdendo e o “inimigo” não está tendo receio de realizar ataques muito radicais.
“A gente não sabe o que vai ser de um novo governo do PT ou de esquerda governando sem as condições econômicas dos primeiros mandatos. Tudo o que a gente conquistou foi na base da luta, então temos que nos organizar e por isso seria tão importante convocar uma assembleia constituinte, livre e soberana, para que a população tomasse controle sobre o futuro do país”, enfatizou.
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