Kohei Saito: ecossocialismo representa futuro da luta anticapitalista

Premiado filósofo propõe decrescimento da economia nos países avançados e vincula essa perspectiva à renovação do marxismo; veja vídeo na íntegra

(Foto: Reprodução)


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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (11/11), o jornalista Breno Altman entrevistou o filósofo japonês Kohei Saito sobre ecossocialismo. 

Professor de economia da Universidade de Osaka e membro do conselho editorial do Projeto Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA), Saito argumentou que existem contradições entre capitalismo e meio ambiente, de modo que o “crescimento verde” não seria possível.

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“Nós teríamos que abandonar, restringir ou regular o crescimento econômico prejudicial ao meio ambiente e isso não é algo que o capitalismo permitiria. Existe uma contradição fundamental. Enquanto o crescimento econômico for uma característica inerente do capitalismo, capitalismo e sustentabilidade são incompatíveis”, disse.

No entanto, refletindo sobre as experiências socialistas, ele afirmou que, por si só, o socialismo não é ecológico, “pode ser muito destrutivo porque segue o mesmo processo metabólico de crescimento econômico e isso vai ser prejudicial para o meio ambiente tanto no socialismo quanto no capitalismo”. Mas Saito acredita que o socialismo tem melhores chances de ser ecológico e é isso que o ecossocialismo almeja.

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“O ecossocialismo tem como objetivo uma forma mais consciente de produção, diminuindo a jornada de trabalho, compartilhando a carga, eliminando trabalhos desnecessários. Acho que o ecossocialismo pode oferecer um novo horizonte para a luta anticapitalista, já que o crescimento proposto pelo capitalismo não oferece uma solução”, defendeu.

Ele destacou que existe um mito de que o crescimento econômico leva à melhora nas condições de vida. Os índices de pobreza e fome mundial diminuíram em grande parte devido à melhora na qualidade de vida na China, “então não dá para dizer que o capitalismo está funcionando”.

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Combater esse modelo se torna ainda mais urgente tendo em vista a crise climática mundial, de acordo com o filósofo. Ele se mostrou otimista de que a mentalidade das pessoas, principalmente jovens, esteja mudando nesse sentido e está sendo desconstruído o “conto de fadas” do capitalismo. 

Decrescimento

Entretanto, Saito levou o ecossocialismo a um passo mais além. Não só ele argumentou a favor de uma mudança no sistema de produção, como propôs o decrescimento econômico.

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“Não é razoável que o norte global siga buscando o crescimento econômico depois de ter se enriquecido explorando as pessoas e os recursos do sul global. Precisam fazer essa transição, mas não para um capitalismo de decrescimento, isso seria um desastre porque o capitalismo é desenvolvido a partir da premissa do crescimento econômico eterno. A alternativa é o ecossocialismo com decrescimento. Temos o suficiente, basta dividir assegurando o direito à moradia, educação e saúde”, detalhou.

Para ele, outro fator que favorece sua teoria em países ricos é a diminuição e o envelhecimento da população nessas regiões, de modo que elas prescindiriam do crescimento econômico.

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Na prática, o decrescimento significaria redistribuir o trabalho, repensar os hábitos de consumo e até retornar à agricultura, em certa medida, para poder garantir a segurança alimentar da população.   

O professor deu como exemplo o Japão, onde apenas 36% do que é consumido é produzido no país, o resto é importado da China, “isso é muito frágil”. 

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“No futuro teremos mais tufões, mais secas, enchentes e climas anormais devido às mudanças climáticas que levarão à escassez de água e alimentos. Não poderemos contar com a importação de alimentos. Durante a pandemia, a China deixou de exportar máscaras e nós ficamos sem. Com máscaras, tudo bem, você fica em casa, reutiliza as que têm. Mas ficar sem comida porque o país não dá conta de abastecer sua própria população é muito perigoso”, destacou.

O filósofo reconheceu, porém, que essa opção não seria a melhor para o sul global, que ainda precisa do crescimento econômico. Porém, a região poderia repensar quais são suas necessidades reais e buscar formas de desenvolvimento que não sejam tão destrutivas quanto às adotadas pelos países ricos em seu momento. “O problema é que enquanto os países ricos forem buscando o crescimento verde, esse vai ser o modelo para todo o resto”, advertiu.

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Saito ainda admitiu que a teoria do decrescimento é pouco popular inclusive entre os comunistas, pois é pessimista e, em geral, descarta a necessidade do desenvolvimento de setores essenciais, como educação, saúde e transporte.

“O que precisamos entender é que a economia como um todo não pode crescer mais, porque isso é incompatível com os limites do planeta. O marxismo precisa mudar de ideia, o que é difícil porque o marxismo tem essa base produtivista. O que precisamos é de uma fusão entre ecossocialismo e decrescimento”, reiterou.

O ecossocialismo de Karl Marx

Apesar da base produtivista, Saito chamou atenção para o fato de que Karl Marx chegou, sim, a desenvolver pautas ecologistas, ao contrário do que muitos pensam. É verdade que no livro Manifesto Comunista o filósofo alemão tinha uma visão otimista sobre o crescimento econômico capitalista, apesar de criticá-lo, mas isso tinha a ver com o fato de ser jovem e ter um discurso muito apaixonado, na opinião de Saito.

“Em cadernos seus, de quando já era mais velho, nós vemos que Marx era claramente ecologicamente consciente. Ele criticava a destruição da natureza provocada pelo capital, porque isso destruía o nosso potencial, destruía as condições materiais para o desenvolvimento humano”, expôs.

Acreditava-se, até agora, que Engels era quem mais havia se aproximado a um ecossocialismo com A Dialética da Natureza, e que Marx não tinha muito o que dizer ou que estava simplesmente equivocado em sua visão produtivista.

“Não significa que Marx era inocente ou errou. Ele teve sua parcela de culpa até certo ponto. Há provas de que ele era otimista com relação ao progresso tecnológico, de que poderíamos usar máquinas, combustíveis fósseis e fertilizantes químicos para superar o capitalismo. Eventualmente ele percebe o que sabemos hoje, de que é uma ideia estúpida”, contou o professor.

Segundo ele, Marx foi ficando mais consciente sobre os aspectos destrutivos das forças produtivas do capital. Para o professor, é necessário ter isso em conta na hora de pensar qual é o socialismo que queremos e teremos no futuro”.

“Temos que inclusive nos perguntar por que o programa soviético falhou se era baseado no produtivismo. Não podemos assumir que mais progresso econômico vai resolver o problema. A questão ambiental é uma ameaça séria à sociedade e deve se tornar um dos temas mais importantes para a esquerda global”, defendeu.

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