BRICS: reflexões de Dmitry Rozental e Olga Volosyuk sobre o futuro da cooperação
Acadêmicos russos estão no Brasil em evento inédito organizado pela Fundação Alexander Gorchakov de Diplomacia Pública
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Por Leonardo Sobreira
Rio de Janeiro, 22 de maio (247) - O professor Dmitry Rozental, diretor do Instituto de América Latina da Academia de Ciências da Rússia, e a professora Olga Volosyuk, chefe da Escola de Estudos Regionais Internacionais, compartilharam suas perspectivas sobre os desafios e oportunidades que cercam o formato BRICS em um evento inédito na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A iniciativa de trazer os especialistas russos para o Brasil é da Fundação Alexander Gorchakov de Diplomacia Pública, uma instituição renomada na Rússia, dedicada à promoção de estudos e pesquisas em relações internacionais e diplomacia. Seu principal objetivo é fornecer uma plataforma para o diálogo e a troca de conhecimentos entre especialistas, acadêmicos e profissionais na área de política externa. Através de conferências, seminários e eventos, a Fundação busca fomentar discussões e debates construtivos sobre as principais questões internacionais, desempenhando um papel relevante na promoção do entendimento mútuo e do desenvolvimento de soluções para os desafios globais.
Em suas falas, ambos os especialistas destacaram a importância de buscar resultados concretos e superar as contradições existentes dentro do formato BRICS.
Rozental começou apontando que o BRICS está passando por um momento difícil, com a falta de acordos concretos e a instabilidade política em países como Rússia, Brasil e África do Sul. Ele ressaltou a importância de alcançar metas claras e tangíveis, que infelizmente não foram plenamente obtidas até o momento.
No Brasil, tanto a ex-presidente Dilma Rousseff quanto o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, consideram o BRICS como uma ponte entre o Ocidente e os países em desenvolvimento, enfatizando que não se trata de uma aliança confrontacional. No entanto, Rozental observou que a polarização na sociedade brasileira fez com que o Brasil mudasse sua atitude em relação ao BRICS.
As contradições em crises como a da Venezuela, a pandemia de Covid-19 e a crise na Ucrânia também foram mencionadas por Rozental. Ele destacou o apoio da Rússia ao presidente Nicolás Maduro na Venezuela durante a crise de 2019 naquele país, enquanto o Brasil adotou uma posição contrária a Caracas. Além disso, ele mencionou os problemas acerca da inclusão da Argentina e do Irã no BRICS. No caso do país sul-americano, a crise econômica está se acentuando, enquanto no caso do país persa, há o risco de o bloco passar a adotar uma postura radicalmente anti-americana.
Sobre a proposta de moeda comum, defendida pelo próprio presidente Lula, Rozental afirmou que ainda está longe de ser implementada e que a prioridade atual é manter o status quo e normalizar as relações entre os países membros. Ele destacou a importância de ações conjuntas, como lidar com crises alimentares e econômicas, promover a cooperação tecnológica para reduzir a dependência em relação às potências ocidentais e estabelecer um sistema de pagamento próprio.
Em relação à política externa brasileira, Rozental apontou um dualismo sob o governo Bolsonaro. O então presidente se manteve em silêncio sobre a crise ucraniana, enquanto o Ministério das Relações Exteriores condenou certas questões. Já Lula, de acordo com Rozental, busca equilibrar as relações com Estados Unidos, China e Rússia. Além disso, Lula afirmou que os países ocidentais também compartilham responsabilidade pela crise na Ucrânia. Rozental também avaliou ser improvável que Rússia e Ucrânia aceitem uma solução pacífica no curto prazo, como tem defendido Lula.
No que diz respeito à cooperação, Rozental mencionou o comércio de 10 bilhões de dólares entre o Brasil e a Rússia e destacou a importância de expandir a colaboração nas áreas de energia, espaço e transformação digital.
Por sua vez, Olga Volosyuk trouxe uma perspectiva ampla sobre a cooperação no BRICS, com ênfase no papel da China nesse contexto. Ela destacou que a China vê o formato como um instrumento de diplomacia multilateral e cooperação, buscando a transformação abrangente do sistema internacional em direção a um equilíbrio sustentável. Além disso, ela ressaltou que a economia chinesa é significativamente maior do que a dos outros países do BRICS, e isso está diretamente ligado à implementação da Iniciativa do Cinturão e Rota, sendo vista por Pequim como a única maneira de avançar o mecanismo do BRICS.
No entanto, Volosyuk também mencionou que a Índia tem dificultado a expansão do BRICS, buscando uma maior aproximação com os Estados Unidos. Segundo ela, a China precisa "fechar os olhos" para seu conflito terrritorial com a Índia, a fim de impulsionar o desenvolvimento do BRICS. Ela ressaltou a importância de encontrar um equilíbrio entre igualdade e eficiência no BRICS, com a China enfatizando a busca pela "média dourada" nesse sentido.
No caso da Índia, Volosyuk destacou a importância que Nova Delhi concede à estabilidade das cadeias de fornecimento globais e a ênfase em evitar confrontos com o Ocidente. Ela enfatizou que a Índia acredita que a ordem mundial do BRICS será dominada pela China e que o Novo Banco de Desenvolvimento é uma iniciativa importante de contrapeso nesse contexto.
Além disso, a professora mencionou joint ventures de exploração de petróleo e geração de energia entre a Índia e a Rússia em países como Moçambique e Nigéria. Ela destacou a importância de evitar rivalidades com a China dentro do formato do BRICS, ao mesmo tempo que enfatizou que o Brasil possui uma importância estratégica crescente nesse contexto. Por fim, ressaltou o papel da África do Sul como uma ponte para o resto do continente africano.
Quanto à Rússia, Volosyuk enfatizou o objetivo de desenvolver uma nova ordem mundial, desde que sejam estabelecidos critérios para a expansão do BRICS. Ela destacou a importância da cooperação com outras organizações regionais, como a União Africana e a Liga Árabe. Além disso, mencionou a relação entre a União Econômica Eurasiática e o BRICS. Ela previu uma expansão e maior cooperação com outras organizações regionais, enfatizando que esse é um momento crucial para o futuro do BRICS.
Em sua jornada pelo Brasil, os acadêmicos passarão ainda por Porto Alegre, onde ministrarão palestras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Feito isso, seguirão para o destino final de Foz do Iguaçu, onde falarão na Universidade Federal da Integração Latino-americana.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247