Brasil não pode cometer o erro de enviar Forças Armadas novamente ao Haiti
O governo dos EUA está sondando o Brasil para assumir o comando de nova missão militar no Haiti
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Por Adriano Diogo (*), 247 - O Haiti é conhecido como a Pérola do Caribe. E foi o único país a conquistar a independência após uma rebelião liderada por escravizados no século 18. Após avanços e reveses, no século 19 a Revolução Haitiana consegue consolidar a independência do país, que havia sido invadido e colonizado pela Espanha, que posteriormente o repassou, por meio de um tratado, para o jugo feroz da França. Foi, inclusive, a resistência do povo que deu o nome ao país, antes chamado de São Domingos. A denominação Haiti surgiu como uma homenagem aos povos originários, que moravam naquela região antes do país ser colonizado pelos europeus.
Séculos se passaram e a aura libertária que transformou o Haiti em protagonista da história foi sendo sufocada, ao ponto de hoje o país estar conflagrado e dominado por milícias. A ingerência das forças internacionais, que pretensamente se autointitulam como forças de paz, e que deveriam contribuir para a erradicação do problema, agravou ainda mais a si tuação, aumentando o sofrimento da população.
Criada por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para teoricamente resgatar o país da violência e do caos, a Minustah, Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, na prática, se transformou em uma polícia feroz contra os haitianos. As Forças Armadas brasileiras lideraram a Minustah, entre os anos de 2004 e 2005, e tiveram papel nefasto no Haiti. Seu comandante era o general Augusto Heleno, aquele que dirigiu o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) de Bolsonaro e que foi ajudante de ordens do general linha-dura Sylvio Frota, então comandante do Exército do ditador Ernesto Geisel.
A ação de Heleno à frente das tropas da Minustah foi desastrosa para a população haitiana. Uma das operações comandadas por ele, conhecida como Punho de Ferro, provocou uma carnificina em uma favela da capital do país, Porto Príncipe. Suas tropas dispararam 22 mil tiros para capturar o líder combatente Dread Wilme. A violenta ação resultou na morte dele e de dezenas de haitianos, entre mulheres e crianças. Tudo realizado sob o pretenso manto do restabelecimento da paz no país.
A operação foi duramente criticada por organismos de defesa de direitos humanos. Mas Heleno a considerou um sucesso. O Exército brasileiro também aplaudiu a operação e recompensou o general. Em sua volta ao Brasil, ele assumiu a chefia de gabinete do comandante do Exército. Posteriormente, galgaria mais um degrau na hierarquia militar, alçando o posto de general de Exército. Esse estágio intensivo de guerra contra o povo no Haiti, realizada pelas Forças Armadas, lideradas por Heleno, também trouxe consequências sinistras para os brasileiros.
O papel de polícia desempenhado no estrangeiro acabou sendo o elemento precursor para a operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) que se instalaria, por exemplo, no Rio de Janeiro anos depois.
A participação das Forças Armadas no Haiti também foi o embrião do empoderamento dos militares, que resolveram sair da penumbra e se imiscuirem abertamente na política. Em 2008, como comandante militar da Amazônia, Heleno já dava mostras, do papel que os militares resolveram se outorgar no cenário nacional. Ele criticou abertamente a demarcação de terras na reserva indígena Raposa Serra do Sol, localizada em Roraima, e se colocou ao lado de arrozeiros que combatiam os índios.
A postura do general irritou Lula, que cobrou explicações do militar. A reprimenda, no entanto, não conseguiu estancar o empoderamento que as Forças Armadas obtiveram com o treinamento repressivo contra uma população no Haiti. Certamente, esse estágio no teatro de operações também foi combustível para a eleição de Bolsonaro à Presidência da República e para os ataques à democracia verificados no último período, que culminaram na tentativa de golpe no dia 8 de janeiro.
Na última visita de Lula aos Estados Unidos, foi cogitado pelo presidente Joe Biden que o Brasil assumisse novamente o comando das tropas no Haiti, em troca de o governo estadunidense apoiar o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Nessa conversa sigilosa entre os dois chefes de Estado, pelo que se sabe, Lula declinou da proposta. É importante que permaneça nessa postura, para o bem do Haiti e do Brasil.
(*) Adriano Diogo é ex-deputado estadual (PT-SP), membro do comitê Defender o Haiti é Defender a Nós Mesmos
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