Bases do feminismo estão em Engels, afirma Ana Karen Oliveira
Líder do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, ligado ao PCB, expõe raízes do movimento de mulheres e seus conflitos teóricos; veja vídeo na íntegra
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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta sexta-feira (22/10), o jornalista Breno Altman entrevistou a médica dirigente do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), Ana Karen Oliveira, sobre as raízes do movimento de mulheres marxistas.
Ela explicou que, desde o princípio, o movimento comunista e socialista incorporava a luta das mulheres às suas pautas, principalmente do ponto de vista teórico. “Engels dizia que a primeira divisão social do trabalho é sexual, em que as mulheres passam a ser exploradas. E essa divisão só existe com a propriedade privada”, explicou.
Assim, ela reforçou que sempre existiram mulheres que lutavam pelos direitos femininos — elas não se consideravam como feministas na época — desde uma perspectiva socialista, como era o caso de Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo.
“Clara Zetkin dizia que tudo bem lutar pelo voto ou representação política, por exemplo, mas que isso não é suficiente, é só um elemento que tranquilamente poderia ser incorporado dentro dos marcos do capital. Aliás, nos períodos de guerra, era importante que as mulheres trabalhassem e substituíssem os homens nas fábricas. Então essas reivindicações não iriam transformar a situação das mulheres da classe trabalhadora, nem das mulheres negras escravizadas”, exemplificou.
Assim, o feminismo marxista, que se desenvolveu a partir de ideias dessas pensadoras, acredita na necessidade de destruir a sociedade que usa a exploração da força de trabalho e a opressão das mulheres “para manter funcionando o sistema capitalista”.
Isso não significa, entretanto, que lutar por reformas não seja fundamental, na concepção de Oliveira, mas essa luta “deve estar ligada à estratégia revolucionária. Se não, conquistamos determinados direitos que em momentos de crise do capital vão ser retirados”.
A corrente ainda levou mais além o debate cujas bases estão em Marx em Engels, abordando a questão do “sistema dual”, em que se tem a exploração das mulheres como componentes da classe trabalhadora e a submissão das mulheres a um outro sistema, que é o patriarcado.
“O patriarcado, a condição racial, a condição de identidade de gênero… são sistemas que se inter-relacionam para produzir um conjunto de opressões vivenciados de formas distintas. É a teoria interseccional que o feminismo marxista adota”, reiterou.
O feminismo marxista, porém, diverge de outras correntes que reconhecem a interseccionalidade no que diz respeito à estratégia, como ponderou a dirigente. De seu ponto de vista, o objetivo é organizar a classe trabalhadora para derrubar a concepção de família dentro do sistema capitalista e o capitalismo em si, sem se limitar, por exemplo, ao empoderamento individual, argumento do feminismo liberal.
“É possível conquistar o empoderamento e certos direitos diminuindo a opressão, mas isso vai estar limitado pela sociedade do capital. Vão ser direitos facilmente retirados ou dados às custas da exploração de outras mulheres. Então a conquista, superação e manutenção dos direitos das mulheres depende da superação do capitalismo”, enfatizou.
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
Sobre o coletivo do qual forma parte, Oliveira afirmou que o nome vem de uma militante histórica do PCB e que ele foi criado a partir das demandas das mulheres feministas dentro do partido, que queriam estruturar debates que iam além da legenda, criando uma área de influência para aproximar mulheres da luta. Ou seja, o coletivo abriga militantes independentes justamente para tentar construir um movimento popular, “mas ligado à estratégia socialista de transformação da classe trabalhadora”.
Além disso, o grupo também recebe homens cis e trans no movimento, “pois são companheiros de luta e é função deles estar na luta aprendendo sobre a formação da consciência machista, sobre os nossos debates e resoluções, para evitar a reprodução do machismo”.
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