'Arquivos Twitter': o jornalista Matt Taibbi alega retaliações do IRS e do FBI

Desde que as suas revelações dos 'Arquivos Twitter' expuseram o conluio de censura entre as gigantes de mídias sociais e o FBI, o jornalista se viu sob investigações do IRS

(Foto: Reprodução)


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Chris Hedges entrevista Matt Taibbi, publicado no website The Real News Network. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

Em 9 de março de 2023, Matt Taibbi apresentou-se no Congresso dos EUA, falando sobre as revelações descobertas pelos “Twitter Files” [os Arquivos do Twitter], os quais demonstraram que o governo federal dos EUA e as empresas de mídias sociais trabalharam junto para censurar as informações e as contas desfavoráveis aos interesses dos EUA. No mesmo dia, um agente do IRS (Internal Revenue Service – Receita Federal dos EUA) visitou o lar de Taibbi no estado de New Jersey. Matt Taibbi junta-se ao The Chris Hedges Report para discutir o caso especial que foi aberto contra ele, bem como o papel do FBI e de múltiplas agências de aplicação de leis e de inteligência na Força-Tarefa sobre Influências Estrangeiras que identificou as contas e estória para serem censuradas no Twitter.Matt Taibbi é um jornalista, autor e co-apresentador do podcast Useful Idiots.

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Tradução da transcrição original 

Chris Hedges:

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O jornalista Matt Taibbi foi visado pelo Partido Democrata por expor listas negras [sic] extensivas do governo usadas para censurar críticos de esquerda e de direita. Tendo recebido acesso ao tráfego interno do Twitter pelo novo proprietário do Twitter, Elon Musk, ele documentou casos nos quais o FBI e outras agências governamentais suprimiram repetidamente as notícias e os comentários. O conteúdo censurado foi quase exclusivamente produzido por aqueles que eram críticos da narrativa dominante divulgada pelo Partido Democrata e o antiga ala do establishment do Partido Republicano, que havia juntado as suas forças aos Democratas. Sequências de Twitter que foram censuradas incluem: aquelas do movimento dos coletes amarelos, ativistas do movimento Occupy, Global Revolution Live, estórias negativas sobre Joe Biden, reportagens sobre a Companhia de Energia da Ucrânia, Burisma, que pagou US$ 1 milhão para Hunter Biden durante um ano, enquanto o seu pai era vice-presidente dos EUA, estórias positivas sobre o presidente venezuelano Nicholas Maduro, reportagens sobre abusos ucranianos de direitos humanos e detalhes sobre o conteúdo do laptop de Hunter Biden.

As contas foram marcadas e geralmente desapareciam. Os chamados “pedidos de moderação” eram enviados por uma entidade chamada de Força-Tarefa de Influência Estrangeira. A Força-Tarefa de Inteligência Estrangeira é uma força-tarefa inter-agências liderada pelo FBI que inclui numerosas agências governamentais, incluindo a Segurança da Pátria [Homeland Security], a CIA, o Pentágono e o Departamento de Estado. Eles marcam aquilo que consideram como conteúdos repreensíveis por cerca de duas dúzias de empresas de mídias sociais – incluindo Twitter, Facebook, Google, Pinterest e Wikimedia. Em março, Taibbi e Michael Shellengerger foram chamados para testemunhar frente ao subcomitê seleto sobre o armamento do governo federal. Enquanto Taibbi estava testemunhando, em 9 de março, um agente do IRS visitou a sua casa em New Jersey. Taibbi descobriu que o IRS abriu um inquérito contra ele no dia em que ele publicou uma sequência de Twitter nas vésperas do natal, a partir de uma carta que o presidente do Comitê Judiciário da Casa dos Representantes, Jim Jordan, enviou ao comissário do IRS que estava inquirindo sobre o caso de Taibbi.

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Era um sábado, era a véspera do natal, Taibbi não devia por impostos, o caso era de quatro anos antes. Tudo isso sugere que o caso do IRS tinha motivação política e que o FBI estava monitorando Taibbi. Taibbi se viu frente ao ruído de assassinato de caráter orquestrado enquanto ele testemunhava. Os membros do Partido Democrata do comitê raramente deixavam Taibbi falar, eles emitiram diatribes viciosas e insultantes, que foram, então, divulgados em veículos como MSNBC e CNN, como parte do esforço para desacreditá-lo ainda mais. A proeminente membro do comitê Stacey Plaskett enviou uma carta à Taibbi, acusando-o de mentir para o Congresso e ameaçou Taibbi com uma sentença de prisão de 5 anos. Juntando-se a mim para discutir esta censura por atacado e os esforços pelo establishment dominante, especialmente o Partido Democrata, para desacreditá-lo e o seu trabalho, aqui está Matt Taibbi. Matt, vamos remontar ao dia 24 de dezembro de 2022. Você está no Hotel Park 55 em São Francisco; explique o que você está fazendo.

Matt Taibbi:

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Eu estava dando os toques finais numa estória sobre … Ela seria chamada, Twitter e Outras Agências Governamentais. Cerca de uma semana e meia após o início do projeto dos arquivos do Twitter, nós encontramos uma série de documentos que chegaram ao Twitter através da Força-Tarefa de Influência Estrangeira – e foi basicamente uma pilha de relatórios vindos de várias agências governamentais. Algumas vezes nós podíamos distinguir quais estas eram, noutras vezes não. Mas, essencialmente, a maior parte deles eram simplesmente alguns parágrafos de textos, juntamente com uma tabela Excel gigantesca de nomes de contas [no Twitter]. E estas diziam coisas como: nós avaliamos que as [contas] seguintes estão relacionadas à Agência de Pesquisa na Internet da Rússia, ou estão trabalhando para fazer avançar objetivos anti-Ucrânia, ou seja lá o que for. E nós verificavamos e víamos que algumas vezes todas as contas desapareceram, algumas vezes era uma porcentagem delas; mas, na maioria dos casos, havia algum tipo de ação. E esta era uma estória importante que nós publicamos. Eu estava muito nervoso sobre isso. Isso incluia informações sobre a CIA, a DNI (Director of National Intelligence / Diretor de Inteligência Nacional), o Departamento de Segurança da Pátria, o FBI – e era isto que eu estava preparando para fazer na véspera do Natal.

Chris Hedges:

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Devemos ter clareza que, antes que você fez esta publicação em 24 de dezembro, o FBI já havia denunciado o seu trabalho sobre os arquivos do Twitter, dizendo que era “Produto de teoristas da conspiração”, citando-os, “Que alimentam o público com 'desinformação', cujo único propósito era desacreditar a agência”.

Matt Taibbi:

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Certo. Sim. Na verdade, eu até fiz referência à citação do FBI no início da sequência de mensagens no Twitter. Obviamente, eu disse, sarcasticamente, que o meu único propósito não é desacreditar o FBI; também há outras agências que eu quero descreditar. E a ideia disso era, entre outras coisas, tornar o público consciente de que o FBI havia comentado sobre a estória de uma maneira que tinha a intenção de intimidar um pouco, em adição a não responder as perguntas que nós enviamos. Mas, sim, eles já haviam tornado público que eles estavam prestando atenção à estória e que isso era enervante, certamente em um nível.

Chris Hedges:

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Vamos falar sobre A Força-Tarefa de Influência Estrangeira. Você disse que estima que esta tem uma equipe de cerca de 80 pessoas. Quem faz parte dela, o quanto você sabia? Quando ela foi montada? E como ela funciona?

Matt Taibbi:

Eu não sei muito sobre quando isso foi montado. Outros repórteres fizeram algum trabalho sobre isto. Lee Fong, que é um dos repórteres dos Arquivos Twitter, fez algum trabalho sobre isto. Ele estava lá quando nós soubemos do número de 80 pessoas na equipe da FITF (Foreign Influence Task-Force). O quanto conseguimos determinar, a maioria desta equipe era composta pelo FBI, Homeland Security e o Escritório do Diretor da Inteligência Nacional. A FITF se tornou o entroncamento de passagem para os pedidos do governo de moderação de conteúdos. E o sistema que eles montaram era que os pedidos que vinham do governo federal passariam através do FBI e qualquer coisa que viesse através dos estados, viria através do DHS. E eles tinham um meio muito específico para fazer isto. Eles tinham uma plataforma de comunicação que chamavam de Teleporter. Era como uma porta de via única.

Isto era parecido com o filme Missão Impossível. Havia uma maneira para armar isto de maneira que, uma vez que o conteúdo passasse por alí, não duraria muito. O sistema deletava o conteúdo após algum tempo. Mas nós recuperamos algumas das coisas que estavam lá. Mas é isso que a FITF faz. E o que há de interessante sobre isto é que há duas coisas interessantes. Uma, alega que que está apenas monitorando materiais estrangeiros; mas não só encontramos amplas evidências que que eles estavam seguindo até as contas de pequenos detentores de contas domésticas nos EUA. E a outra coisa é que estes não são funcionários que estão tentando construir casos, eles estão monitorando mídias sociais. Estes são agentes do FBI que não estão tentando construir algo para julgamento, eles estão apenas monitorando.

Chris Hedges:

Eles não estão produzindo evidências.

Matt Taibbi:

Correto. Sim, exatamente. Sim. Eles não estão compilando qualquer coisa para caso algum. Sim.

Chris Hedges:

Era exatamente assim, no tempo de McCarthy, como o FBI trabalhava. Eles apareciam até mesmo em escolas de ensino médio – Elaine Echreker escreveu sobre isso, com uma lista. Não havia evidências, havia uma lista de nomes e todos aqueles professores eram despedidos. E não eram apenas despedidos, eles eram incluídos nas listas negras (sic).

Matt Taibbi:

Correto. E é por isso que uma das reformas mais importantes que derivaram do Comitê Church foram mudanças em toda a ideia daquilo que o FBI faria. Eles precisavam ter algum tipo de predicado para iniciar uma investigação. Nós não temos mais isso. Eles começaram a fazer isto mudar em 2008. Mas isto agora está firmemente entrincheirado que o FBI é uma operação de contra-inteligência que tem uma divisão criminal para isto. Este é o negócio de coleta de inteligência, tanto quanto é o negócio de construir casos.

Chris Hedges:

Então, a FITF tem uma reunião da indústria; explique o que é isso. E você me contou que, inicialmente, isto ocorria mensalmente e depois foi semanal – à medida que a eleição de 2020 se aproximava.

Matt Taibbi:

Então, o momento de acender a lâmpada para muitos de nós na estória dos Arquivos Twitter foi quando nós descobrimos inicialmente os emails que falavam sobre aquilo ao qual você se refere, a reunião da indústria. E se via que algo seria entregue a um dos membros do Departamento de Confiança e Segurança do Twitter, e haveria uma pauta e esta viria da FITF, e se veria a pauta pelo que eles chamam de reunião com a indústria. E todas estas pessoas eram copiadas do email. Isto provavelmente incluía duas dúzias de empresas, ou mais. E isto dizia algo como um informe da Autoridade de Petróleo e Gás (OGA – Oil and Gas Authority), na Ucrânia. Correto? Isto estaria no topo da pauta.

Como você sabe, um OGA usualmente é um eufemismo para os serviços de inteligência, ou especificamente para a CIA. Nós tivemos emails que mostram que a CIA participou de algumas destas reuniões, que foram eles que pediram para estarem alí. Então, nós pensamos que este era um material bastante condenável porque, entre outras coisas, isso não só mostrou que todas estas empresas tinham contatos regulares com as agências governamentais de aplicação de leis, mas que estava ocorrendo esta situação anti-competitiva bastante elaborada e que eu não penso que alguém sequer pensou sobre este ângulo da coisa. O componente anti-trust disto, quando há 20 ou 25 empresas de tecnologia se juntando e fazendo acordos secretos sobre o tipo de conteúdo que eles mostrarão ao público. Eu penso que isto é muito sério. E tudo isto estava basicamente em um mail.Então, este era o tipo de coisa no qual se pode mostrar ao público um retrato e isto seria poderoso desta maneira.

Chris Hedges:

Havia alguma indicação de que eles estavam produzindo conteúdos?

Matt Taibbi:

Não. Apesar de nós termos tido alguma indicação de algumas fontes e de não termos sido efetivamente capazes de reportar isto, mas nós o ouvimos de um número suficiente de pessoas suficientes, que eu penso que vale mencionar que havia algumas indicações de que o governo teve alguma participação na elaboração dos termos de serviço de algumas destas empresas. Então, nós veríamos que o FBI estava designando muitas pessoas para monitorarem comunicações diversas para detectarem possíveis violações dos termos de serviço. E nós vimos até os funcionários do Twitter reclamando sobre isso. Um dos advogados diz, “Meu Deus, parece que eles estão dando entrada em termos de busca, procurando violações dos termos de serviço”. Assim, nós sabemos que eles estavam fazendo isso, mas existe uma grande questão sobre se eles também estavam trabalhando na outra ponta para ajudar a imaginar quais seriam estes termos, e as implicações disso são obviamente bastante sérias.

Chris Hedges:

Termos de serviço. Isso trata daquilo que se pode disseminar e o que não se pode.

Matt Taibbi:

Correto. O Twitter tem todo o tipo de políticas sobre o que eles podem proibir e por que podem proibir. Eles têm políticas sobre danos, sobre a expressão de ódio contra um certo grupo, de modo que, se o governo tivesse qualquer tipo de papel em ajudar a elaborar políticas como estas não apenas para o Twitter, mas para outras plataformas, isto seria significativo. Nós não encontramos este tipo de prova [smoking gun], mas nós certamente ouvimos isto de algumas pessoas.

Chris Hedges:

Vamos falar sobre o subcomitê seleto sobre o armamento do governo federal. Isso é operado pelos Republicanos. Você é crucificado pelo establishment por cooperar; eu não sei, não quero chamar isso de liberal, seja o que for, as mídias, as mídias democráticas aliadas. Fale sobre o comitê e o que aconteceu lá.

Matt Taibbi:

Então, este é Jim Jordan, o congressista de Ohio. Ele é o presidente do Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes. Ele tem um subcomitê, o Comitê de Armamento do Governo. E ele convidou Michael Shellenberger e eu a testemunhar sobre os Arquivos Twitter. E nós ficamos muito felizes de fazê-lo, por uma razão muito grande, que era que nenhuma das estórias que estávamos escrevendo, não importando quão explosivas estas eram, nenhuma delas foram captadas pelas mídias nacionais. Então, nós pensamos que esta foi uma oportunidade singular para nos apresentarmos frente a uma audiência grande, a qual estaria ouvindo um pouco destas coisas pela primeira vez. Devo dizer, sobre Jim Jordan, eu pensei que ele foi sincero na sua apreciação pela Primeira Emenda da Constituição. Eu penso que isto é um tipo de retrocesso aos dias quando os membros do Congresso podiam odiar uns aos outros sobre certas questões, porém podiam concordar sobre algumas coisas bastante básicas. E eu penso que ele efetivamente acredita na Primeira Emenda, este é o meu palpite.

Ele também trabalhou numa lei ESCUDO para repórteres. Mas eles nos chamaram e nós testemunhamos e, ao invés de engajarem-se com o material, os membros democratas, um após o outro, simplesmente nos perseguiram pessoalmente. E eles não nos deixaram falar. E isto, efetivamente, acabou sendo um grande momento, porque as audiências não puderam ouvir sobre os Arquivos Twitter, mas elas viram a maneira pela qual nós fomos tratados e isto os enraiveceu tanto que eles foram informar-se sobre o que tratava o material. Eu pensei que esta foi uma jogada politicamente desastrosa para os Democratas. Eu não o entendi.

Chris Hedges:

Vamos falar sobre o que eles fizeram. Assim como Debbie Wasserman-Schultz, eu observei isto, ela não permitiu que você falasse qualquer coisa. Você não pode sequer dizer três palavras antes que ele o cortasse, dizendo: “É o meu tempo”. E as calúnias e insultos foram bastante notáveis. Seja específico sobre o que eles fizeram.

Matt Taibbi:

Pois, o membro-líder Paskett me chamou de 'o assim-chamado jornalista'. Quanto a Debbie Wasserman-Schultz, a sua linha de questionamento foi devotada à ideia de que eu era um escriba pago por Elon Musk e que eu estava ganhando uma fortuna para escrever a estória dos Arquivos Twitter, e que esta era toda a minha motivação. Quando ela me perguntou sobre quanto dinheiro eu estava ganhando, eu disse a ela a verdade, que eu não pensava que estivesse ganhando tanto com isso e ela não permitiu que eu respondesse à pergunta.

Um outro membro do Texas me disse que eu tinha que tirar o meu chapéu de papel laminado e aprender a apreciar os esforços do FBI para manter protegidos a todos nós. Daniel Goldman, o membro de New York, ficou brabo comigo quando eu disse que não podia concordar nem discordar com os indiciamentos de Robert Mueller de supostos membros do GRU [serviço secreto russo]. Ele é um advogado, e eu pensei que ele deveria saber isso, mas os indiciamentos não são coisas com as quais se pode concordar ou discordar. Quando eu disse isso, ele ficou chateado, me calou e retomou o seu tempo de novo. Este foi o padrão. Basicamente, eles estavam nos acusando de ser não-americanos, motivados por razões financeiras e, basicamente, agentes de Elon Musk e, de alguma maneira, conectados com os russos. E este foi todo o tema dos questionamentos deles.

Chris Hedges:

E depois, veículos como MSNBC, Mehdi Hasan, levaram tudo isso adiante. Explique o que eles fizeram.

Matt Taibbi:

Tudo o que eles fizeram foi pegar estes cortes e é assim que eles construíram as suas estórias sobre o que ocorreu naquela audiência. E, diga-se de passagem, nós não fomos os únicos com quem eles fizeram isso; o Comitê de Armamento do Governo fez outras audiências, nas quais eles tiveram pessoas que eram delatores do FBI – e a mesma fórmula foi usada em todos os casos. Estas pessoas foram acusadas de receber pagamentos de alguém, foram acusadas de estarem aliadas à Rússia ou aliadas a insurrecionalistas, ou seja lá o que for. E depois, há um pequeno recorte de áudio que foi produzido e que acabou sendo divulgado na MSNBC ou na CNN – e isto foi a reportagem inteira. Chris, havia tamanha frustração da nossa parte, porque muito daquilo que os Arquivos Twitter tratavam, sequer eram estórias partidárias. Isso é o que é tão incrível sobre isso. Em retrospecto, eu pensei, talvez inocentemente, que pelo menos alguma coisa daquilo que nós divulgamos seria reportado ou atrairia algum interesse. Porém, isso acabou não sendo assim. Acabou sendo que nós éramos o inimigo, por termos apenas levantado isto, o que foi extraordinário.

Chris Hedges:

Eu quero falar sobre a censura, porque nós estamos falando de listas negras [sic]. Estamos falando sobre a censura por atacado abraçada pelas agências governamentais e pelo Partido Democrata e a velha ala do Partido Republicano que abandonou Trump. Tipos como Liz Cheney, os quais agora essencialmente foram incorporados ao Partido Democrata. Mas isto é uma mudança para a antiga ACLU (American Civil Liberties Union / União de Liberdades Civis dos EUA), para liberais como Anthony Lewis.

Matt Taibbi:

Sim, eu tenho idade suficiente para ter sido um estagiário e ter trabalhado no mesmo escritório com Nat Hentoff, se você se lembra ---

Chris Hedges:

Oh, sim, eu conheço o Nat. Sim.

Matt Taibbi:

Sim, sim. E isto remonta ao tempo no qual o jornal Village Voice era a bíblia do liberalismo estadunidense e das visões de Nat Hentoff sobre a liberdade de expressão. Ele aceitava o menor caso possível de alguém que estava tentando atropelar a liberdade de expressão e ele fazia disso uma coisa enorme. E isto era uma coisa muito grande na vida intelectual dos EUA na época. Nós não negociavamos com ninguém sobre a Primeira Emenda.

Chris Hedges:

Quero interromper, porque pessoas como Nat defendiam qualquer livre expressão – como o famoso caso dos neonazistas marchando nas ruas de Skokie, no estado de Illinois.

Matt Taibbi:

Correto. E, naquela época, como você sabe, para o liberalismo estadunidense, a razão por trás disso não era difícil de entender. Se você não protege o direito das pessoas marcharem em Skokie, a coisa seguinte que ocorrerá é que cada prefeito em cada pequena cidade do Alabama, de Mississippi, e o norte da Florida evitará que a NAACP (National Association for the Advancement of Colored People / Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Côr) marche. Quero dizer que isto não é ciência de foguetes. Tratava-se efetivamente de um raciocínio simples, mas isto passou de moda. Houve uma campanha massiva de relações públicas que dizia a toda uma geração de jovens que a contra-expressão e permitir que certos tipos de pessoas falem não funciona – e que desplataformar funciona. E as pessoas acreditam nisso. E isto proveu a cobertura para este tipo incrível de revolução e censura tecnológica que nós descobrimos nos Arquivos Twitter.

Chris Hedges:

Eu quero falar sobre Mehdi Hasan – por quem eu tenho zero de respeito.

Matt Taibbi:

Mas ele é um bom entrevistador.

Chris Hedges:

Não, ele é um fanfarrão. Quero dizer, trata-se da técnica clássica. Ele se aproveitou desses incríveis erros menores. Todos nós os fizemos. Nós costumávamos ter caixas de erros no New York Times. Você fez isso, eu fiz isso, todos nós o fizemos. Mas eles eram efetivamente quase irrelevantes. Quero dizer, você confundia uma linha de tempo, colocava um acrônimo no lugar errado. Mas, então, ele exagerou isso como se fossem evidências de que você havia mentido ao Congresso. A deputada Alexandria Ocasio-Cortez apoiou esta acusação. E foi quando Plaskett enviou aquela carta. E este foi o primeiro passo para tentarem destruir você. Se você observar o padrão e os ataques contra Julian Assange, é a mesma coisa. Essencialmente, você desacreditou as reportagens deles, depois você aguentou uma campanha contínua de assassinato de caráter. E uma vez que eles isolem você, como fizeram com o Julian, basicamente você pode fazer o que quiser contra eles. E isto, obviamente, não foi tão longe quanto foi com Julian, mas eu certamente vejo o mesmo padrão sendo usado contra você.

Matt Taibbi:

Sim. Eu cometi um grande erro com o Mehdi. Eu tive um conflito com a MSNBC durante anos, porque eu era um visitante regular no canal. Eu penso que fui a última pessoa convidada na MSNBC que expressou qualquer tipo de ceticismo sobre o caso da Rússia. E, mesmo assim, foi bastante suave. Porém, depois disso, eu jamais fui convidado de novo. E eu sempre pensei que a MSNBC devia ao seu público pelo menos responder aos críticos sobre o que há de errado em reportar sobre a estória da Rússia. Eu pensei que seria hipócrita da minha parte recusar um convite para ir ao show do Mehdi. Isso veio e eu não estava preparado. Eu estava confiante demais. Eu pensei que eu tinha tudo certo. Pensei que a pior coisa que podia ocorrer comigo era que eu soaria um pouco estúpido no ar, mas ele encontrou alguns erros que me sacudiram no ar.

Mas, então, ele deu o passo adicional de tentar fazer com que os congressistas se interessassem em processar-me por mentir ao Congresso. Foi neste ponto que eu enviei um Twitter a ele, dizendo: “Qual é Mehdi. Piadas à parte, está na hora de falar sério. Você está tentando me meter na cadeia por causa desta coisa, e você está errado”. E nada. Isto me abriu os olhos. Eu entendo que vale tudo no amor e na guerra, mas até no Twitter há limites. Mas isto não é uma piada. E eu penso que eles estão falando sério. Eu penso que eles querem pressionar esta coisa o mais longe possível.

Chris Hedges:

Você levantou isso, mas é importante, sobre o apoio ao funcionário de suporte de tecnologia da Guarda Nacional que publicou documentos online e, depois, a resposta das mídias que, como você, me pareceu aterrorizante.

Matt Taibbi:

Esta é a chamada estória do delator do Pentágono, na qual há um membro da Guarda Nacional Aérea de Massachusetts, de 21 anos de idade; sabe-se lá como que ele teve acesso a este tipo de inteligência, mas ele teve. Ele estava numa sala do Discrod, onde ele estava jogando Minecraft – que é um jogo que eu jogo com os meus filhos – e estão passando algumas informações de inteligência. E o que é incrível sobre isso é que o Washington Post, o New York Times e o Bellingcat rastrearam esta pessoa e o entregaram às autoridades, E agora eles estão escrevendo estórias baseadas nas coisas que ele estava vazando. Você consegue se lembrar, Chris, de jornalistas trabalhando para entregar as suas fontes? Esta é uma violação total daquilo que é o jornalismo. Nós não estamos naquele lado. Não fazemos parte do aparato de investigações do governo, mas eles se vêem desta maneira.. E quando eles se unem a estas organizações, como a Bellingcat, que são do tipo financiado pelo governo, aquilo que eles chamam de agências de inteligência de fontes abertas, isto é um papel totalmente novo para as mídias. E eles se vêem como quem faz a coisa certa ao colocar as pessoas certas na mira do governo.

Chris Hedges:

Isto é motivado pelo medo do Trump? Você diria que é isso o motor?

Matt Taibbi:

Eu espero que sim. Certo? Porque pelo menos esta é uma razão. Porém, às vezes eu me preocupo que este é um fenômeno ainda mais básico daquilo que este grupo pensa; trata-se de carreirismo, e este é um novo tipo de movimento político que eu penso que esteja se desenvolvendo onde há uma nova sensação; penso que, certamente, no negócio das mídias, sobre o qual eu não estava ligado por muito tempo. Mas é esta crença de que, seja lá o que nós estávamos fazendo antes, quando o tipo de abordagem que nós tínhamos para reportar já não funciona mais; não podemos apenas divulgar as coisas lá fora e termos a esperança que o público tome as decisões corretas.

Nós temos que agir e assegurar-nos que eles façam a coisa correta com a informação, o que significa que temos que ter a disciplina rígida sobre o que dizemos. Temos que filtrar as coisas que pensamos que o público possa lidar e temos que exagerar as coisas que pensamos que eles precisam saber. Isso me faz lembrar de algo que se via na União Soviética no final dos anos de 1920 ou no início dos anos de 1930, ou em outros países que têm tradições autoritárias.

Chris Hedges:

Não será porque a própria credibilidade deles foi estraçalhada?

Matt Taibbi:

Sim. Mas, para mim, esta é exatamente a maneira incorreta de responder a ---

Chris Hedges:

Obviamente, porém esta é a maneira pela qual eles estão respondendo. Quero dizer que eles não são confiáveis. Quero dizer, qual é o índice de aprovação da imprensa? Provavelmente está nos dígitos menores. Quem sabe? É bastante baixo.

Matt Taibbi:

Provavelmente eles agora estão olhando para o Congresso, certo? Então, eles [inaudível] é incrível. Você pensaria que isto é impossível, certo? É como uma piada de Woody Allen, eles estão um grau abaixo de um molestador de crianças, neste ponto. Como você sabe, a única maneira de reconquistar a confiança nas mídias é ser direto com as pessoas, de assumir os nossos erros e olhar para as pessoas nos olhos e dizer, “Nós erramos. Tentaremos ser honestos com vocês da próxima vez”. Eles não estão fazendo isso. Ao invés disso, eles estão cruzando os braços, dizendo: “Nós somos a única fonte de informações. Nós temos legitimidade porque estamos credenciados, e isto nos dá a autoridade que falta nas outras pessoas; e nós queremos que vocês não levem em conta quaisquer informações que vocês recebem de qualquer outra fonte”. E eles farão isso. Penso que você sabe tão bem quanto qualquer outra pessoa que este é um sistema de crenças que se tornou onipresente.

Chris Hedges:

Ótimo, grato, Matt. Quero agradecer ao Real News Network e à sua equipe de produção; Cameron Granadino, Adam Coley, Davis Hebden e Kayla Rivara. Vocês podem me encontrar no website ChrisHedges.Substack.com

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