A propaganda restringe a fala mais do que a censura, afirma Caitlin Johnstone

O maior impedimento à livre expressão é a crença das pessoas de que elas a possuem, diz jornalista

Capa do New York Times desta segunda-feira
Capa do New York Times desta segunda-feira (Foto: Reuters)


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Artigo de Caitlin Johnstone publicado originalmente no site da autora em 30/5/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

O maior impedimento à livre expressão é a crença das pessoas de que elas a possuem. Sem censura. Sem recusa a vozes críticas da plataforma. Sem guerra ao jornalismo. Este é o fato que a maioria das pessoas são propagandeadas para dizerem o que os poderosos querem que elas digam, e elas não sabem disso.

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O que torna o nosso dilema tão historicamente singular é que nós vivemos sob um império que faz extenso uso da ciência pós-Bernays de manipulação psicológica de escala de massas para enganar os seus sujeitos a acreditarem que eles estão pensando, falando e coletando informações livremente. Desta maneira, os nossos dominadores suprimem qualquer revolução muito antes que esta se inicie – não fazendo melhorar a vida das pessoas, ne, por uma repressão violenta, mas manipulando as pessoas para pensarem que nada existe contra os que se revoltarem, porque elas não têm dominadores e já são livres.

Na nossa civilização, a maioria das pessoas pensam, falam, coletam informações, trabalham, fazem compras, se movimentam e votam exatamente como os nossos dominadores querem que elas façam, porque estes sistemas de condicionamento psicológico em escala de massas foram impostos para manter o comportamento humano alinhado com o império. Nós somos treinados para acreditar que somos livres, enquanto nos comportamos exatamente da maneira que os nossos dominadores querem que nos comportemos e para desprezarmos as outras nações e balançarmos a cabeça sobre quão não-livres são os seus povos.

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O que a média do mainstream partidário quer dizer quando afirmam que querem a “livre expressão" é que eles querem ser capazes de regurgitar as narrativas que servem ao poder que foram inseridas nas suas mentes pelos poderosos. Isto não é livre expressão, isto é uma expressão profundamente escravizada. Mas eles não o veem. De propósito.

Este problema pode ser tratado simplesmente ao promover-se a conscientização sobre o mesmo de todas as maneiras que podemos. A manipulação só funciona se você não souber que esta está ocorrendo; assim, ao chamar a atenção para a mesma e descrever como esta ocorre de todas as maneiras possíveis, isso ajuda as pessoas a torná-la transparente.

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Se a guerra cultural lhe parece ser uma operação psicológica, é porque ela o é. Eu já vi algumas pessoas que a chamam de uma “distração” - e para ter certeza que ela serve aos poderosos para manter todos discutindo sobre temas que em nada ameaçam os poderosos – mas, na verdade, isto vai muito mais longe do que isso. A máquina imperial de propaganda usa as questões marginais na guerra cultural para nos arrebanhar em facções políticas do mainstream, da maneira pela qual um pastor usa cães-pastores, sempre nos mantendo o mais uniformemente divididos para que não consigamos realizar coisa alguma e para reforçar as câmaras de eco que ajudam na propaganda.

A introdução de cunhas na guerra cultural faz parte da maneira como eles arrebanham as pessoas para dentro do sistema de afunilamento ideológico sobre o qual eu tenho falado ultimamente, o qual mantém a grande maioria das pessoas politicamente engajadas pensando, falando e votando alinhadas ao império. São arrebanhadas quanto mais pessoas seja possível em duas facções do mainstream de tamanho igual, o que evita a ocorrência de qualquer mudança significativa e também serve aos interesses dos poderosos. Qualquer um que não possa ser arrebanhado em uma destas facções do mainstream é arrebanhado em facções “populistas” - as quais as acabam encurralando-os de volta às facções do mainstream. Estas poucas pessoas engajadas politicamente que não possam ser arrebanhadas para qualquer um destes grupos são uma minoria tão pequena, que podem ser simplesmente marginalizadas e se possa negar qualquer plataforma considerável através da qual eles possam espalhar as suas ideias, e a “democracia” faz o resto – porque a maioria apoia o status quo.

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Você se importa em proteger os direitos de pessoas transgênero? Então, você é arrebanhado ali naquela facção do mainstream. As pessoas transgênero a incomodam um pouco? Então, você é arrebanhado lá naquela outra facção do mainstream. Desta maneira, as pessoas são encurraladas em partidos políticos projetados para servir o império.

Se você conseguir sugar alguém que é crítico do militarismo e do império para dentro da guerra cultural, de repente eles começam a acreditar em coisas absurdas, como opor-se à “pauta woke” é tão importante quanto opor-se à guerra, ou que eleger Ron DeSantis seria um golpe devastador contra o Estado Profundo. Assim, ao invés de focalizar nos comportamentos nefastos do império estadunidense e de ver criticamente toda a política mainstream, aquela pessoa focaliza em Dylan Mulvaney e dará o seu apoio a qualquer político do mainstream que diga que a loja Target precisa para de vender cadarços de arco-íris durante o Mês do Orgulho LGBTQIA.

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Você vê pessoas arrebanhadas cada vez mais em ambas as facções políticas do mainstream com estas coisas que eles martelam um dia após o outro, reforçando assim a estrutura de poder que os partidos que representam essas facções são arquitetadas para apoiar. Eles fazem isto, porque funciona.

Nada disso significa que as questões levantadas pela cultura de guerra de operações psicológicas não tenham importância; isto só significa que são operações psicológicas. Isto é algo que dá uma alavancagem poderosa a seu favor, e é importante que estejamos agudamente conscientes disso e de dirigir a nossa energia política e a nossa atenção de acordo.

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O fato que os presidentes dos EUA sempre são monstros assassinos independentemente de partidos ou plataformas, se torna menos estranho e menos misterioso quando você para de pensar sobre os EUA como um ator bom ou neutro no palco mundial e reconheça-os como o eixo de um império alimentado por sangue humano.

É por isso que eu simplesmente ignoro as eleições presidenciais dos EUA atualmente, a não ser para assinalar a farsa que elas são. Um monte de pessoas bem intencionadas ainda têm a esperança de que os EUA possam ser curados pelo presidente certo, mas qualquer um que o fizesse jamais chegará perto da presidência.

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A operação de um império global abrangente é importante demais para ser deixada nas mãos dos eleitores. Nada será jamais permitido de acontecer que possa impedir a operação do império, desde que aqueles que se beneficiam daquele império sejam capazes de evitar que isto ocorra. Há simplesmente poder demais cavalgando nele.

É tão destrutivo e degradante como os produtos da cultura do mainstream (filmes, shows, música, etc.) são produzidos não baseados em quão edificantes, transformativos e aventurosos eles são, mas em quanto dinheiro eles podem ganhar. As artes que conseguem maior tração na nossa sociedade acabam sendo não aquelas que nos chamam para os aspectos mais altos do nosso ser e que nos encorajam a explorar os limites e o potencial da experiência humana, mas aqueles que produzam um sucesso de ego e bombeiam o cérebro para ficar cheio de recompensas rápidas de substâncias neuroquímicas.

As coisas têm sido assim há séculos e é só isso que as pessoas conhecem. O fato de que tudo é confinado desta maneira deixa a população faminta de todos os nutrientes para a mente e o coração, e estreitam o escopo entre artistas sobre as suas ideias do que é possível e do que vale a pena. Isso encolheu os confins daquilo que os artistas têm estado dispostos a explorar, por ordens de magnitude, e isso resultou numa cultura do mainstream que é rasa, servindo ao poder e desinspirada do alto para baixo.

A humanidade pareceria muito diferente e o mundo seria um lugar muito melhor se isto não estivesse ocorrendo durante todos estes anos. A cultura capitalista é veneno para o cérebro.

Algum dia, os líderes das corporações ecocidas serão levadas à justiça pelos seus crimes contra o nosso planeta, e a defesa deles que fizeram isto para gerar lucros para os detentores das suas ações, serão tratados da mesma maneira como os criminosos de guerra que dizem que estavam apenas seguindo ordens.

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