Volkswagen abandona negociações sobre acusações de trabalho escravo

A empresa é uma das 14 instituições investigadas por violações dos direitos dos trabalhadores, em cumplicidade sistêmica com a ditadura empresarial-militar

Fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP)
Fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) (Foto: REUTERS/Nacho Doce)


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Por Denise Assis, para o 247 - Uma das primeiras empresas a promover o desmatamento ilegal na região da Amazônia, numa área calculado como sendo maior do que o Estado de São Paulo, onde chegou a criar 117 mil cabeças de gado, a montadora alemã Volkswagen o fez usando como biombo para proteger o seu “bom nome”, uma fazenda denominada “Vale do Rio Cristalino”. Ali, praticou o trabalho escravo, mantendo os empregados em situação análoga à da escravidão, nas décadas de 1970 e 1980, em plena ditadura.

As denúncias vieram a público em 17/07/1983, publicadas pelo Estadão, através de um padre que militava na Pastoral da Terra, de nome Ricardo Resende. Ele precisou deixar a região, tamanha a pressão e as ameaças sofridas. Na época, em resposta às denúncias, a empresa se posicionou, negando:

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"A Volkswagen do Brasil não aceita, de jeito nenhum, que haja trabalho escravo na Companhia Vale do Rio Cristalino, sua fazendo no Pará. E não quer que reste dúvidas sobre isso, tanto que o grupo que aqui veio contou com total liberdade e apoio operacional, para ir aonde quisesse, ouvir quem quer que fosse sobre o nosso trabalho. Nunca houve problemas com trabalhadores da Cristalino. Não temos vínculos com os 'gatos' - empreiteiras - que prestam serviço na fazenda e são empresas registradas, sujeitas à fiscalização do Ministério do Trabalho." 

Nesta quarta-feira, (29/03), Ricardo e a Volkswagen ficaram novamente cara a cara, numa reunião promovida pelo Ministério Público do Trabalho, em que se buscava um acordo para a responsabilização da empresa.

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Após dois anos de negociação para que a reunião acontecesse, a Volkswagen simplesmente virou as costas e saiu, abandonando definitivamente o diálogo com o Ministério Público do Trabalho. O combinado era que às 10h desta quarta-feira, 29/03, o MPT e a Volkswagen se reuniriam em São Paulo para discutir o caso. Apesar de se fazer representar, a montadora voltou a negar a sua responsabilidade e se recusou a discutir possíveis reparações (os danos foram calculados em R$ 165 milhões).

Representantes do IIEP, ABRA, INCRA, Brasilien-Initiative Freiburg e do MST, junto com o ex-deputado (PT) e presidente da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”, Adriano Diogo, e da co-deputada da Bancada Feminista (PSOL), Mariana Souza, estiveram presentes para entregar uma petição organizada na Alemanha e assinada por 2.875 pessoas aos representantes da Volks.

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Além destes, apoiaram a ação e assinaram a petição os deputados Donato (PT), Emídio de Souza (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e o autor do livro “Empresas alemãs no Brasil: o 7x1 na economia” e membro da diretoria dos Acionistas Críticos, Christian Russau.

Em recente entrevista para o IIEP, o padre Ricardo Rezende, da Comissão Pastoral da Terra, responsável por entregar a documentação comprobatória sobre o caso ao MPT, conclamou: “que a Volkswagen reconheça, dê a lista das pessoas que entraram na fazenda, e essas famílias sejam localizadas e indenizadas por dano moral individual. Mas também tem o dano moral coletivo – o dano ocasionado ao país. É uma vergonha para o País. É uma humilhação para o povo brasileiro. Isso não pode, não tem o direito de fazer o que fez. Então ela tem uma responsabilidade social e tem que pagar pelo dano moral coletivo, ao povo brasileiro, alguma coisa. E alguma coisa que ajude a reparar o crime.”

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A Volkswagen é uma das 14 empresas que estão sendo investigadas por violações dos direitos dos trabalhadores, em cumplicidade sistêmica com a ditadura empresarial-militar.

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