Um calendário nefasto

O formato atual do futebol brasileiro impede os clubes de gerarem receitas compatíveis com o seu prestígio



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Como sabido há muitos anos, quiçá décadas, o Brasil tem domínio absoluto de um produto extremamente mal explorado, o futebol. Somos responsáveis pelos maiores negócios esportivos da história, provemos profissionais de qualidade aos quatro cantos do mundo, mas nossa gestão ainda é tão ruim que não conseguimos sequer gerar receitas com nosso próprio ativo.

Quando mencionamos que a gestão é ruim não estamos privilegiando ninguém, a gestão dos clubes é ruim, das Federações, Confederações, Sindicatos , Associações e quem mais esteja envolvido.

Contudo, nos atendo especificamente à questão das receitas, não podemos deixar de mencionar a questão do calendário do futebol brasileiro atual, gerador contínuo de prejuízos, tanto pela realização de longos campeonatos estaduais, como pela inversão junto ao calendário europeu.

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Não há razão lógica para a realização de campeonatos estaduais no Brasil, principalmente tão longos. Diante do cenário atual, completamente dependente do chamado “Sport business”, em que a sua existência ou não dependem de uma chamada “viabilidade financeira”, é inconcebível que os clubes se permitam perder 4 meses do ano para receber uma Cota de TV ínfima, que não cobre despesas muitas vezes, simplesmente para ser conveniente à uma federação e uma TV.

Pra se ter uma idéia, saindo do eixo RJ – SP, um clube top paranaense recebe algo em torno de R$ 500 mil reais em direitos de TV pela campeonato estadual, dinheiro esse que não cobre sequer despesas com alimentação e transporte da equipe, causando perdas financeiras substanciais aos clubes locais.

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No cenário global atual, os negócios deveriam perder o sentido quando causam prejuízo à uma das partes, mas no futebol brasileiro ainda é diferente.

Tal fato acaba se refletindo nas formas mais simples possíveis, por exemplo, em nosso calendário desportivo.

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Pergunta-se: Alguém tem noção de quanto os clubes brasileiros perdem anualmente SOMENTE em função do calendário?

De fato é um número incalculável, haja vista que não temos idéia de quantos novos negócios apareceriam anualmente e progressivamente com o tempo, mas desta vez vou me ater unicamente a algo de extremo prestígio e costume no mundo inteiro nessa época, os torneios de pré-temporada.

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Praticamente 100% dos clubes da Série A1 do Campeonato Brasileiro receberam um convite para disputar algum torneio desse cunho ao redor do mundo, e o que isso quer dizer?

RECEITA!

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Cada torneio desse envolve para os clubes receitas com TV, ingressos, exposição de imagem, exposição de atletas em período de transferência, sem contar o lado da internacionalização da marca e a parte de marketing a ser explorada. Ou seja, os clubes perdem isso anualmente em função do calendário obsoleto e sem sentido do futebol, e pior, não se vê efetiva tentativa de mudança aqui.

Exemplo destes torneios somente em 2009, teve o Internacional/RS.

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Convidado a participar da Peace Cup, na Espanha, onde disputaria com Real Madrid (estréia de Kaká), Juventus, Werder Bremen, Lyon, Sevilla, Besiktas, Porto, Aston Villa e, pasmen, LDU, um prêmio de 2 milhões de Euros, em um período de duas semanas, teve sua intenção frustrada em função do calendário e da confederação, que não autorizou a saída do clube no período, assim como fez com muitos outros.

Mas qual a contrapartida? Qual o motivo da subserviências tão passiva dos clubes? Não chegou a hora de cada diretoria tomar as rédeas dos seus negócios e buscar situações mais interessantes para si próprias? Essa questão do calendário é tão simples de ser resolvida, da onde vem tanta força contrária à sua regularização?

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Situação patética e semelhante se deu exatamente, agora na Copa das Confederações com a seleção brasileira. Enquanto todos os times do planeta estavam de férias, o que possibilitava a convocação de qualquer atleta para uma competição, os maiores clubes brasileiros estavam disputando fases finais de competições importantíssimos, como Taça Libertadores e Copa do Brasil, e equipes como São Paulo, Cruzeiro, Corinthians, Inter e Grêmio acabaram sendo gravemente prejudicadas, mas isso certamente é algo que não importa para ninguém, além do próprio clube.

Se é tão difícil, manter os jogadores fora de série no Brasil, para quem acompanha futebol é inadmissível que esse esforço solicitado inclusive pelo Presidente Lula, seja muitas vezes subtraído dos clubes em fazes decisivas.

É de se dizer que a FIFA passa aos clubes e Federações a programação de suas até 2014, e que países como Argentina, México ou até mesmo Equador já adaptaram seus calendários ao da FIFA, não estando o Brasil adaptado nem mesmo a um bloco “não-europeu”.

Além disto, não há como não mencionar a questão das cotas de TV, que tanto “aflige” os clubes.

O artigo 42 da Lei 9.615/98 previu há quase 11 anos que os clubes tivessem direito a negociar seus direitos INDIVIDUALMENTE, formato utilizado com êxito no mundo todo, por que não o fazemos?

Imagine, você, no domingo, ligando no canal X assistindo sua equipe, o torcedor da outra equipe assistindo no canal Y a dele, e quiçá, um terceiro time no canal W, isso é democracia.

Os envolvidos no futebol dizem que estão fazendo as coisas mudarem, mas, data máxima vênia, fazer o básico não é mudança e ser honesto não é virtude, é essencial.

Brigar pelos interesses dos clubes vai muito além do que pressionar árbitro e fazer cobranças vazias em programas de TV, a mudança de atitude é muito maior, INDEPENDÊNCIA é a palavra aqui.

O que precisamos é uma mudança de atitude, e provavelmente o “espírito da Copa 2014” trará isso. Porém, mais do que isso dependemos da mudança de atitude dos gestores, que precisam sair de cima do muro. As metas precisam ser mais bem definidas, e, quando definidas, que de forma objetiva e concreta para sua realização, pois o tempo para o Brasil acabou.

RICARDO OGNIBENE é sócio da One Sports, empresa de consultoria na área esportiva, além de membro dos Institutos Brasileiro (IBDD) e Ibero Americano de Direito Desportivo (IIDD).

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