Seduzidos pelo ganho fácil
A dica infalível existe nos melhores e nos piores cenários da economia, mas somente no longo prazo é possível ter sucesso no mundo dos investimentos
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Freud certamente explica a sedução do ser humano pelo ganho fácil. Tal postura fica ainda mais flagrante quando se lida efetivamente com dinheiro e, em especial, o fascínio que as bolsas de valores exercem sobre especuladores, investidores e até sobre profissionais do mercado de capitais.
O instituto da “dica de mercado infalível” sempre aparece nos melhores e nos piores momentos dos mercados. E que não se venha dizer que é uma prerrogativa nacional. A dica, o insider information e o insider trade sobrevivem em todos os mercados de risco e em todo o mundo. Podemos alegar que, por aqui, esse “instituto” é um pouco maior, dado que não temos grande tradição em mercado de capitais, que nossos investidores não dominam completamente o instrumental disponível para avaliação de investimento e que faz muito pouco tempo que começaram a se preocupar com finanças pessoais e treinamento.
Do alto de meus 40 anos ininterruptos como profissional de mercado já vi quase tudo, e vocês podem imaginar isso. Desde vários anos seguidos de queda das bolsas, passando por longas sequências de alta como no início dos anos 2000 e até mesmo longos períodos de absoluto marasmo, se é que isso realmente ocorre nos mercados de risco. Já vi grandes fortunas serem formadas como a de Eike Batista com suas empresas “X” ou diferentes investidores, mas também assisti, consternado, a destruição de fortunas e desespero de famílias inteiras literalmente quebradas.
Dicas infalíveis quase sempre estão fadadas ao insucesso e podem gerar enormes perdas – às vezes 100% dos recursos aplicados – para quem acreditou e fez uso dela. Sempre que essa dica chega para nós já vem defasada no tempo e com cara de que fatalmente pagaremos a conta dessa festa anterior. Pode ser que dê certo por algum tempo, mas na continuidade acabará por dar errado, trazendo inevitáveis perdas para quem fez uso. Isso porque, muito embora possa ser usado como jogo de azar (ou de sorte), aplicações em bolsa nada tem de jogo! O sucesso em bolsa vem sempre acompanhado de grande trabalho de avaliação de investimentos, que exige imenso saber, grande volume de pesquisa e tirocínio de analistas e profissionais em projetar o futuro.
Ainda que isso seja absoluta expressão da verdade, como dizia Nelson Rodrigues: sem sorte não se consegue nem atravessar a rua. Depois da completa seleção dos investimentos, ainda assim uma boa dose de sorte é requerida. Não é por outra razão que estamos lidando com mercados de risco. O 100% certo ou garantido não existe, em que pese para muitos iniciados ser sempre possível minimizar risco e tentar maximizar ganhos relativamente ao volume de risco que se quer e está disposto a correr.
Somente para ilustrar cito fato recentemente acontecido na Bovespa, quando uma ação quase sem liquidez e que tinha suas cotações paradas por quase um ano, de repente e, não mais que isso, subiu forte e valorizou-se mais de 2.000% – isso mesmo, dois mil por cento em menos de três meses – tornando-se uma das ações mais transacionadas na bolsa e sem qualquer lógica para justificar tal comportamento. O resultado foi que da mesma forma que havia subido passou a cair 50% ao dia por algumas sessões, certamente trazendo enormes perdas para aqueles que não souberam dimensionar risco e exposição.
O ditado nos dá conta que não existe almoço grátis. Aplicações em mercado acionário exigem conhecimento e boas orientações. Além disso, são aplicações de longo prazo que até podem dar frutos de curto prazo. Porém, sempre exige o perfeito equacionamento dos riscos e indicações de investimentos em boas empresas, com bom conteúdo fundamentalista, governança corporativa e expectativas positivas. Selecionando seus investimentos ou respaldando em boas análises, certamente obterá sucesso no longo prazo, com retornos bem mais atrativos que na renda fixa.
(*) Diretor da Ativa Corretora e ex-presidente da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais)
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