Que bonito é!
Ministrio da Cultura adquire o acervo do Canal 100, o maior e mais soberbo registro dos anos dourados do futebol brasileiro; depois de restaurados e digitalizados, curtas e longa-metragens sero colocados disposio do pblico
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A ministra da Cultura, Ana de Holanda, acaba de marcar um golaço. Por sua iniciativa, o governo federal comprou o acervo do Canal 100, o maior e mais soberbo registro dos anos dourados do futebol brasileiro. Os curtas e longa-metragens, depois de restaurados e digitalizados, serão colocados à disposição do público. Os fãs do nobre esporte bretão agradecem, entre eles o irmão famoso da ministra, o compositor Chico Buarque de Holanda, que poderá matar as saudades de Carlos Alberto Torres, Flávio, Rivellino, Gérson, Paulo César Caju, Doval e vários outros craques do seu adorado Fluminense
O Canal 100 era um noticiário exibido nas salas de cinema antes dos grandes filmes em cartaz. Ninguém dava bola para as primeiras reportagens do curta-metragem, que contemplavam, geralmente, homenagens e inaugurações de obras. A plateia só vibrava aos primeiros acordes de “Na Cadência do Samba” (Que bonito é/ As bandeiras tremulando/ A torcida delirando/ Vendo a rede balançar...), de Luiz Bandeira, na interpretação da orquestra de Waldir Calmon. Tinha início, então, a apresentação de imagens de uma partida disputada, quase sempre, no Maracanã – um clássico carioca, algum confronto pelo Rio - São Paulo ou uma exibição da Seleção Brasileira.
Para se ter uma ideia do ibope da atração, as plateias invariavelmente vaiavam – do “lanterninha” ao “piloto” do projetor – quando constatavam que o Canal 100 fora trocado por algum curta genérico, como os de Primo Carbonari ou Jean Manzon. Mérito de Carlinhos Niemeyer (1920 - 1999), o pai da criança, que chegou a trabalhar com Manzon antes de fundar sua própria produtora, em 1958. Um ano depois, sua obra-prima estreava nas telas com a “assinatura” de Francisco Torturra, talvez o melhor cinegrafista de futebol da história. Torturra imprimiu aos filmes de Niemeyer uma velocidade intermediária entre a da TV e a da chamada “câmera lenta” – um ritmo que casava à perfeição com a cadência do futebol brasileiro ao longo dos anos 60 e 70, quando Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Rivellino, Zico e outros monstros sagrados desfilavam pelos gramados nativos.
“Foi a equipe do CANAL 100 que inventou uma nova distância entre o torcedor e o craque, entre o torcedor e o jogo, grandes mitos do nosso futebol, em dimensão miguelangesca, em plena cólera do gol. Suas coxas plásticas, elásticas enchendo a tela. Tudo o que o futebol brasileiro possa ter de lírico, dramático, patético, delirante…”, encantou-se o dramaturgo, jornalista e ilustre torcedor Nelson Rodrigues.
A torcida delirou vendo a rede balançar até 1985. No apagar das luzes da ditadura militar, em 1985, o governo Figueiredo, cedendo ao lobby dos produtores norte-americanos, vetou propagandas em cinejornais, medida que inviabilizou o Canal 100. Vinte e seis anos depois, graças à ministra Ana de Holanda, os 70 mil minutos do mais famoso curta-metragem do cinema nacional se preparam para voltar a campo. Como diria o grande locutor Fiori Giglioti, “abrem-se as cortinas e começa o espétáculo, torcida brasileira!”.
Confira aqui outros vídeos do Canal 100:
www.youtube.com/watch?v=cwgk-uuirbA
www.youtube.com/watch?v=onsL1QARuNM
www.youtube.com/watch?v=f3JV2vPcEzM
www.youtube.com/watch?v=deQhrgZqS4s
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