Os segredos do investidor de sucesso

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Luciane Macedo _247 - Um misto de euforia e medo, mas com disposição certeira para apostar em operações arriscadas diante da expectativa de grandes lucros em curto prazo, geralmente marcam a chegada de novos investidores ao mercado acionário. A maioria, no entanto, acumula mais perdas do que ganhos neste início e começa logo a se indagar: "Qual é o segredo dos investidores de sucesso?"

A ansiedade para ganhar dinheiro como fazem os grandes é ainda mais justificada em tempos como os atuais, de alta volatilidade e mercados nervosos. Mas não existem atalhos, concordam especialistas que falaram sobre o tema, em São Paulo, durante a Expo Money 2011, a maior feira de educação financeira da América Latina.

Osney José Cola, diretor-executivo da Equipe Trader e premiado pela ADVFN Brasil como o melhor analista do mercado financeiro em 2011, e Marcos de Sá Masagão, diretor da Future Analysis Consultoria, com mais de 30 anos de experiência em mercados de risco, para os quais criou uma metodologia inovadora de análise, compartilharam, com "Seu Dinheiro", alguns dos principais segredos dos investidores de sucesso.

CONHECIMENTO

Requisito imprescindível e consensual, mas frequentemente ignorado pelos novos investidores: não se deve chegar ao mercado sem um mínimo de conhecimento e informação sobre o seu funcionamento. "É por isso que tem mais gente perdendo do que ganhando", afirma Cola.

Adepto da análise técnica, cuja ênfase está no preço das ações, Cola acredita que o investidor deve optar ou pela linha grafista ou pela fundamentalista, que lida com os fundamentos e o estudo das empresas, mas não indica misturar as duas. Para o analista da Equipe Trader, é através do conhecimento técnico que o investidor poderá fazer um gerenciamento de risco e rentabilidade das ações que lhe seja proveitoso. "É preciso saber os riscos envolvidos e o que o papel pode oferecer ao trader em determinado momento", avalia Cola.

Masagão, que desenvolveu uma metodologia própria de análise e a vem utilizando com êxito há mais de dez anos em sua consultoria, concorda que fazer bom uso das ferramentas técnicas é fundamental para o sucesso do iniciante no mercado acionário, mas acredita que nem tudo está nos preços. Segundo ele, também é importante que o trader seja um bom generalista nos fundamentos das empresas nas quais pretende investir. Mas o principal fundamento de seu método crítico está no comportamento dos grandes investidores.

"Um dos segredos para se dar bem no mercado de risco é entender o comportamento dos grandes investidores", diz Masagão. "Eles se antecipam ao que vai acontecer no mercado e são agentes formadores de preços e de tendências, devido ao tamanho de suas posições", justifica o diretor da Future Analysis. É dentro dessa linha de pensamento que Masagão analisa, diariamente, os movimentos em mercados de risco, brasileiros e estrangeiros, com mais de 50 indicadores. "Através do comportamento dos grandes, você consegue identificar as altas, enquanto que o pequeno investidor pode, ingenuamente, comprar um papel que os indicadores já mostram ter tendência a cair".

A análise técnica, mais especulativa, segundo Cola, é também a mais recomendada ao trader para que ele não se deixe influenciar pelas oscilações diárias da Bolsa de Valores e mantenha-se fiel a sua estratégia. "A análise técnica observa os movimentos dos preços e os padrões que vão se formando", explica Cola.

Masagão assinala que nem toda oscilação de preço indica movimentos dos grandes agentes e que outro importante fator a considerar são fundamentos do próprio mercado, que também têm grande impacto, mas não estão nos preços. "É importante ter uma visão global dos mercados, saber das taxas de juros, que afetam todas as ações", orienta Masagão. "E acompanhar os principais ativos, como petróleo e ouro, que também podem influenciar os movimentos no mercado acionário".

Nem todo investidor vai se dar bem com as ferramentas técnicas. "Pessoas ansiosas, que acabam querendo fazer muitas operações ao mesmo tempo, provavelmente não terão sucesso", adverte Cola.

EMOÇÕES SOB CONTROLE

Não permitir que o fator emocional interfira nas decisões de compra e venda é outro segredo dos grandes investidores e um dos mais subestimados pelos novatos. Cola e Masagão concordam que as decisões equivocadas são, na grande maioria das vezes, fundamentadas na emoção. Por isso, mantê-las sob controle pode ser ainda mais importante do que ter conhecimento do mercado e todas as ferramentas de análise à disposição.

"O controle emocional é responsável por 70% do sucesso do investidor, é o grande divisor de águas entre profissionais e amadores", afirma Cola. "Agir com base na emoção é o que faz com que a grande maioria perca dinheiro".

Masagão identifica no próprio mercado de risco aspectos sedutores que costumam levar o investidor novato a agir pela emoção. "A maioria é perdedora no começo porque o mercado é muito envolvente no aspecto emocional", avalia o diretor da Future Analysis. "A falta de rotina é desafiadora e a possibilidade de ganhar muito dinheiro em curto prazo e ter independência financeira, com custo relativamente barato, são fatores que influenciam muito o investidor iniciante", assinala Masagão. "É tudo muito sedutor, mas não é tão fácil quanto parece".

Para o diretor da Future Analysis, um dos segredos do sucesso é ter disciplina para lidar com o forte componente emocional do mercado acionário. Aliada ao conhecimento, essa disciplina emocional levará o investidor a tomar as decisões mais acertadas para ganhar dinheiro. "No aspecto emocional, o mercado de ações se parece muito com um cassino", avalia. "Mas, no funcionamento, se assemelha mais a um jogo de xadrez".

ESTRATÉGIA

Saber os momentos adequados para entrar e sair de uma operação: eis aí outro ingrediente estratégico do sucesso no mercado acionário. Mas os investidores pessoa física pecam em quase 100% do tempo ao sair ou precipitadamente ou tarde demais. "Se a operação está dando certo, eles querem vender", diz Cola, referindo-se a um movimento muito comum entre os novatos. "Mas se está dando errado, eles têm paciência e seguram o papel", completa o analista da Equipe Trader, enfatizando a outra ponta do equívoco.

"A pessoa física só sabe comprar", observa Masagão. "Se compra e dá errado, fica com o papel na mão, como se fosse um lastro, o que é uma falha grave", adverte o diretor da Future Analysis. "Quando esse investidor pega uma tendência de alta, já está com o comportamento viciado", assinala Masagão, referindo-se àqueles que não conseguem distinguir as boas oportunidades de venda. "Quando o mercado vira, no meio de uma crise, esse investidor entra em pânico e o mercado leva tudo o que ele ganhou", comenta o analista. Segundo Masagão, para não criar esse comportamento viciado de reter papéis inadequados ao momento, é até mais saudável aos novos investidores entrar no mercado em baixa. "Os erros vão aparecer e, com eles, a oportunidade de corrigi-los e aprender com eles", justifica o analista.

"O problema é que o investidor novato acha que dinheiro certo é dinheiro no bolso, então quer vender logo quando está dando certo, mas não deveria pensar assim no mercado acionário", avalia Cola. "Se um funcionário está dando certo, você não manda ele embora, você segura", compara o analista da Equipe Trader. Segundo Cola, o investidor inexperiente, que segura um papel no prejuízo, é levado à venda precipitada de uma ação lucrativa por causa da experiência ruim, deixando-se levar pela emoção. "Lidar com o sentimento de perda é um dos principais problemas para os investidores novatos", concorda Masagão.

Outro problema é perder o foco e deixar-se influenciar pelo sobe e desce dos papéis. "É fácil comprar na baixa e vender na alta, o difícil é gerenciar as operações adequadamente", avalia Cola.

GERENCIAMENTO DE RISCO

A análise técnica antecipa ao trader quanto ele poderá ganhar ou perder, para que ele possa gerenciar o risco de cada operação e avaliar quanto ele vai arriscar do seu dinheiro. Persistência é outro segredo dos grandes. "Enquanto o gráfico não der sinais de queda, não saia da operação", recomenda Cola. "E se tiver que sair, mesmo com um pequeno prejuízo, é preferível a segurar um papel além do ponto em que a alta já não é mais provável".

Segundo o analista, o trader deve usar as ferramentas da análise técnica a seu favor para gerenciar o risco de cada operação, o que significa saber, inclusive, quanto ele poderá perder. "Em qualquer negócio é importante conhecer os riscos antes de entrar, avaliar se vale a pena e decidir o quanto de capital você vai investir", compara Cola.

Com a popularização do mercado acionário, Cola diz que já viu até gente usando crédito do cheque especial para alocar na Bolsa de Valores. "Não faça empréstimo para investir no mercado acionário", aconselha o analista. "É preferível que o futuro investidor aplique R$ 100 todo mês na poupança ou em renda fixa, para juntar o capital durante alguns anos e só depois começar a investir no mercado acionário", orienta Cola. Não há um valor ideal, mas o analista da Equipe Trader recomenda algo em torno de R$ 3 mil, no mínimo, até R$ 10 mil, para começar.

Cola também não recomenda a alavancagem para os iniciantes. Através dela, o investidor com pouco dinheiro pode operar com um limite de capital disponibilizado por sua corretora, uma espécie de crédito. "A alavancagem não é recomendável para quem não sabe fazer gerenciamento de risco", adverte o diretor-executivo da Equipe Trader. "É boa no lucro, mas também exponencializa o prejuízo".

Para o diretor da Future Analysis, o gerenciamento de risco também passa pele correta avaliação dos objetivos no mercado, ou seja, o iniciante não deve ingressar com uma postura de investidor, com vistas ao longo prazo, e agir como um especulador. "O trader tem que esperar o sinal do mercado para se posicionar, e não tentar se antecipar", orienta Masagão.

PERFIL

Embora muita gente queira investir seu dinheiro no mercado de renda variável, ele não é para todos. "A única maneira de descobrir se você tem o perfil adequado à Bolsa de Valores é operando", avalia Cola. "Não é preciso perder muito dinheiro para só depois concluir que você não tem o perfil", diz o analista, referindo-se ao que acontece com grande parte dos novatos, que acabam se precipitando nesse mercado de risco impulsionados pela popularização do mercado. "As pessoas estão mal acostumadas porque se lembram do ciclo de alta, entre 2002 e 2007, que coincidiu com a popularização".

Antes de se decidir, o potencial investidor não deve perder de vista os riscos envolvidos. "Essa coisa de que só tem ganhador no mercado de ações é uma grande ficção", comenta Masagão. "No mercado, o acerto de contas é diário: acertou, ganhou; errou, pagou."

(Publicada em 3 de Outubro de 2011 às 12:59)

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