‘Nossa sociedade machista e patriarcal naturaliza a exploração sexual infantil’, diz especialista

A advogada Luciana Temer e a jornalista Lucia Helena Issa debateram a exploração sexual infantil no programa “Um Tom de Resistência” na TV 247. “Quem é esta menina usada sexualmente no Brasil? É a menina pobre e negra”, explica Luciana. Assista

(Foto: Reprodução)


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247 - Negligenciado em grande parte da sociedade, o tema exploração sexual infantil costuma ser uma das prioridades nas pautas sociais. Para a ex-delegada de polícia e diretora-presidente do Instituto Liberta, Luciana Temer, “nós estamos num país extremamente machista e patriarcal, que naturaliza esse tipo de comportamento. Além de sermos o segundo país em exploração sexual infantil, também somos o quarto país com o maior índice de casamentos infantis do mundo.  A sexualização precoce e a sensação de se poder usar sexualmente uma menina no Brasil é uma questão muito estruturada. E quem é esta menina usada sexualmente no Brasil? É a menina pobre e negra. É uma cultura permissiva que está enraizada na sociedade”, explica.

Luciana também falou sobre a importância da educação sexual nas escolas, como prevenção à exploração sexual infantil. “Isso ainda é um mega tabu na nossa sociedade. Temos duas situações de violência sexual contra crianças e adolescentes. O abuso sexual, geralmente cometido por alguém próximo da vítima, e a exploração sexual desses corpos infantis. Tanto o abuso quanto a exploração são absolutamente invisibilizados e subnotificados. Eu acho que a escola é um lugar importantíssimo para se falar disso. O Instituto Liberta faz um trabalho em algumas escolas, tanto de capacitação de professores para reconhecerem situações de violência sexual que estejam sendo vivenciadas por alguma criança, como para se abrir um espaço de diálogo para que as crianças aprendam sobre sexo e sexualidade. Dessa forma, as crianças poderão identificar situações de violência sexual que possam estar sofrendo”, conta a advogada.

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A cultura de alguns países, principalmente do Oriente Médio, onde o casamento entre adultos e crianças é permitido, também foi abordado. Para a jornalista e escritora Lucia Helena Issa, “existe um preconceito muito grande com relação às religiões muçulmanas. É um equívoco pensar que o casamento entre adultos e crianças seja algo permitido nessas culturas por tradição religiosa. A religião é algo abstrato. A cultura e as pessoas são algo concreto. Não se encontra no Alcorão, na Bíblia ou em qualquer outro livro religioso uma linha sequer que incentive o casamento infantil. Na antiguidade já aconteciam esses casamentos. Na Grécia antiga meninas se casavam com 12, 13 anos de idade. Maria, mãe de Jesus, se casou com José aos 13 anos de idade. José era um criminoso então? A questão é muito mais complexa. Existe o fator sócio-econômico que também favorece esse tipo de exploração. Mas é óbvio que isso não pode ser aceitável”.

O apresentador Ricardo Nêggo Tom levantou a questão da erotização e da sexualização de crianças e adolescentes, encontrada, por exemplo, em algumas letras de funk que utilizam o termo “novinha” para verbalizar o desejo sexual por meninas adolescentes. “Eu acho isso gravíssimo e contribui muito com a questão da exploração sexual infantil. Algumas músicas com esse teor são diretamente responsáveis pela coisificação das mulheres e faz com que as meninas mais jovens se sabotem e não se deem o devido valor”, disse Lucia Helena. Luciana Temer concordou com a jornalista e acrescentou que “esse tipo de funk nada mais é do que o reflexo de algo muito mais perverso. A indústria da pornografia. O termo ‘novinha’ é um dos mais procurados nas buscas por conteúdo sexual na internet. É uma geração que aprendeu a fazer música, como aprendeu a fazer sexo”, pontuou.

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