‘Mulher de malandro’: mulheres reagem à declaração de Joice Hasselmann para negar violência doméstica

“Trata-se de um provérbio preconceituoso e machista”, rebate a antropóloga Lilia Schwarcz. “Ela está se referindo à raça? À vulnerabilidade socioeconômica? Ao nível de instrução?”, indaga a vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Barbosa

Joice Hasselmann
Joice Hasselmann (Foto: Reprodução/Estadão)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

247 - Uma declaração usada pela deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) para afastar os rumores de violência doméstica que dominavam as redes sociais depois que ela apareceu com o rosto cheio de hematomas e denunciou ter sido agredida e não se lembrar de nada, gerou críticas de mulheres.

“Vamos combinar, não tenho o menor perfil de mulher de malandro”, disse Joice, que relatou ter acordado em uma poça de sangue em seu apartamento, cheia de hematomas e fraturas no rosto e no corpo, após cerca de sete horas desacordada. Seu marido, o médico Daniel França, estava em casa, dormindo em outro quarto. Ela afirma suspeitar de um atentado.

continua após o anúncio

Em artigo publicado na página Universa, do Uol, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, professora da USP, diz que a história é difícil de engolir e diz que “chama atenção o fato de Joice fazer questão de negar a possibilidade de violência doméstica”. Ela evita sugerir uma conclusão e deixa tal tarefa para a polícia. No entanto, critica a forma como Joice tratou do caso.

“Trata-se de um provérbio preconceituoso e machista”, afirma. “O malandro, na literatura nacional, é aquele que não respeita lei ou direitos alheios. No limite, se acha acima da lei. Imagine então o que sobra para a sua mulher? O lugar da absoluta falta de autonomia”, prossegue.

continua após o anúncio

“'Mulher de malandro' é aquela que deve 'naturalizar' esses atos? Vamos então defender a integridade de algumas de nós ironizando outras? A frase não é só machista como até ignorante. Nem ela, Joice, nem tampouco essa caricatura de 'mulher de malandro' à qual a deputada se refere, devem aceitar abuso”, analisa ainda a escritora, que lembra que o problema da violência doméstica não escolhe classe social, apesar de a declaração sugerir isso.

Em entrevista ao mesmo site, a vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Barbosa, diz que a declaração de Joice tem fortes indícios de marcadores de raça e classe social. “Eu lamento bastante essa fala, especialmente vindo de uma deputada federal. E me pergunto como ela define o perfil de 'mulher de malandro'”, afirma a cofundadora da ONG, que trabalha ao lado de Maria da Penha, a farmacêutica que dá nome à lei que criminalizou a violência doméstica no Brasil.

continua após o anúncio

“Ela está se referindo à raça? À vulnerabilidade socioeconômica? Ao nível de instrução? Quem ela está considerando 'mulher de malandro'? Qual é a cor desse 'malandro'? Ela precisa explicar. Sou preta e nordestina. E aí, me enquadro nesse perfil?”, questiona.

“'Mulher de malandro' são todas as brasileiras, porque há denúncias de agressões cometidas por diplomatas, militares das Forças Armadas, ministros. Tem muito doutor enquadrado na Lei Maria da Penha”, acrescenta.

continua após o anúncio

Confira outras reações:

 

 

 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247