Muito mais que um superclássico do futebol

Rivalidade entre Barcelona e Real Madrid remonta à formação do Estado espanhol moderno



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247, por Bruno Oliveira - O confronto entre Barcelona e Real Madrid não se tornou o superclássico, como é conhecida a partida, apenas por ambos os clubes estarem entre os melhores e mais ricos do mundo, ou por atualmente ostentarem jogadores e treinadores do quilate de Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Iniesta, Kaká, José Mourinho, Pep Guardiola, entre outros. O que faz desse confronto um dos maiores clássicos do planeta são os contornos políticos dessa disputa. E as próximas três semanas prometem aumentar ainda mais essa rivalidade.

Barcelona e Real Madrid se enfrentarão quatro vezes em 18 dias. A partida deste sábado, válida pelo Campeonato Espanhol e realizada no Estádio Santiago Bernabéu, casa do Real, terminou empatada em 1 a 1, com gols de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Faltando apenas seis rodadas para o fim da competição, o Barcelona lidera com oito pontos de vantagem sobre o rival Real Madrid, e dificilmente deixará de se sagrar tricampeão. Os outros jogos entre as equipes serão: em 21 de abril, na final da Copa do Rei; em 27 de abril, na primeira partida da semifinal da UEFA Champions League; e em 3 de maio, no segundo e decisivo confronto pelo torneio continental. Serão as chances dos merengues, como os madrilenhos são conhecidos, para se vingarem da provável perda do título nacional e dos 5 a 0 sofridos diante do Barça, em 29 de novembro do ano passado, uma goleada que continua atravessada em suas gargantas.

Essa overdose de confrontos que atrai a atenção de toda a Espanha e também de admiradores de futebol ao redor do mundo teve início em 13 de março de 1902, com um jogo pela semifinal da Copa da Coroação, torneio que foi substituído pela Copa do Rei no ano seguinte. Mas a rivalidade entre os clubes tem origem na “Guerra da Sucessão Espanhola”, quando, em 11 de setembro de 1714, o Principado da Catalunha foi anexado ao território espanhol por ordem do Rei Felipe V. Entre esse acontecimento e as três primeiras décadas do século XX, o sentimento de catalanismo não perdeu força. Mas foi durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39) que o orgulho catalão começou a dialogar com o futebol.

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Por conta da crise econômica de 1930, motivada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, a ditadura do General Primo de Rivera foi derrubada e, em seguida, caiu também a monarquia. O Rei Afonso XIII foi obrigado a exilar-se e proclamou-se a República em 1931, chamada de “República de Trabajadores”. O novo momento propiciava a ideia de que o País iniciaria uma reforma para separar Estado e Igreja e que conquistas sociais e políticas, entre elas, o pluralismo político e partidário e a liberdade de expressão e organização sindical, seriam garantidas. Porém, a depressão econômica provocou uma frustração generalizada na sociedade espanhola, o que culminou com um violento enfrentamento de classes.

Com a Guerra Civil Espanhola, a divisão política e ideológica colocou de um lado as forças do nacionalismo e do fascismo, aliadas às classes e instituições tradicionais da Espanha – Exército, Igreja e Latifúndio – e do outro a Frente Popular que formava o Governo Republicano, representando os sindicatos, os partidos de esquerda e os partidários da democracia. Em 1936, o Presidente do Barcelona, Josep Sunyol era um dos principais ativistas políticos da independência da Catalunha, o que acabou levando-o à ser capturado e assassinado pelas tropas do General Francisco Franco.

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A vitória do general Franco sobre a República fez com que a região da Catalunha continuasse sendo território espanhol, mas o General decidiu proibir a língua nativa, manifestações culturais e quaisquer aparições públicas pró-Catalunha. Durante o período franquista, os jogos do Barcelona eram um dos poucos acontecimentos em que o povo conseguia manifestar o amor à pátria catalã. Assim, o clube tornou-se a maior fonte do catalanismo contra a forte opressão espanhola.

Na temporada 1952/53 o Barcelona conquistou o bicampeonato espanhol, feito que o sagrou o maior vencedor do do torneio ibérico até então. Para ficar ainda mais forte, a equipe foi em busca do jogador argentino Alfredo Di Stéfano, até então atleta do Millonarios da Colômbia. Entretanto, o governo do General Franco interferiu na negociação e Di Stéfano foi jogar no Real Madrid, clube que não vencia a Liga Espanhola havia 20 anos e que, naquele momento, não era considerado uma das grandes equipes do País. O sucesso do jogador argentino foi imediato, e o time de Madrid tornou-se campeão espanhol da temporada 1953/54.

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A intervenção franquista pró Real Madrid fez com que a equipe da capital espanhola estivesse associado ao regime do governo, enquanto o Barcelona era o símbolo da resistência do povo catalão. Tudo isso acirrou ainda mais a rivalidade entre os dois clubes. E, para desgostos, dos catalães, os rivais merengues seguiram reforçando seu time e venceram as cinco primeiras edições da Liga dos Campeões da Europa, na segunda metade daquela década.

O que veremos a partir de hoje e nas próximas semanas serão novos capítulos da rica história desses dois clubes, que além de títulos e vitórias, têm em suas raízes o orgulho, a rivalidade e a política.

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Confira, a seguir, grandes superclássicos da Espanha na história:

Barcelona 5 x 0 Real Madrid

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Messi e companhia arrasam os merengues no primeiro superclássico do Campeonato Espanhol da atual temporada


Real Madrid 2 x 2 Barcelona
Barcelona 2 x 1 Real Madrid

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O Barça acaba com o sonho do Real de conquistar sua sexta Liga dos Campeões consecutiva, na edição 1960/61 do torneio


Real Madrid 0 x 5 Barcelona

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O holandês Cruyff e seus colegas humilham os merengues em sua própria casa, o Santiago Bernabéu, na temporada 1974/75

Barcelona 0 x 2 Real Madrid

Em pleno Camp Nou, o Real derrota o tradicional adversário em sua caminhada para a conquista da Liga dos Campeões 2001/02

Real Madrid 2 x 0 Barcelona

Dirigido pelo italiano Fabio Capello, o time merengue bate o barça de Ronaldinho Fenômeno rumo à conquista de mais uma Liga da Espanha

Real Madrid 4 x 1 Barcelona

Depois de vencer o tradicional adversário em Barcelona, no primeiro turno, o Real aplica-lhe uma goleada em casa às véspera de se tornar campeão da temporada de 2007/08

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