'Monogamia é norma opressiva', diz Marília Moscou

Socióloga aponta regulação dos relacionamentos amorosos e da estrutura familiar como instrumento de poder e dominação; veja o vídeo na íntegra

Marília Moscou
Marília Moscou (Foto: Divulgação)


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Opera Mundi - No programa 20MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (11/08), o jornalista Breno Altman entrevistou a socióloga Marília Moscou, especialista em feminismo, casamento e modelos não tradicionais de relacionamento sobre monogamia e família.

Segundo Moscou, ambas são estruturas opressivas de poder, resultado da construção do capitalismo que dita como os afetos e desejos devem se dar, atrelando casamento a direitos sociais e família a aceitação social, o que afeta sobretudo as mulheres. 

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“A gente aprende que sexo e afeto são coisas orgânicas, do nosso corpo, que não tem história por trás, não vem de relações sociais, como algo totalmente individual, pessoal e particular. Mas não é, quando a gente fala de monogamia, a gente fala de todo um sistema que inclui esse padrão de relações amorosas”, discorreu Moscou. 

Nesse padrão, a monogamia, um acordo de relacionamento entre duas pessoas, é um contrato que prega a centralidade do casal na vida das duas partes e inclui a traição, “porque se tem monogamia, tem traição”.

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Por causa dessa forma tão restritiva, do ponto de vista da socióloga, ela espera que a monogamia esteja em decadência e desmistificou aspectos de relações não monogâmicas: “A não monogamia não é sobre ficar com um monte de gente, sobre a quantidade de pessoas com as quais você tem relações sexuais. Tem momentos em que uma pessoa não monogâmica está só com uma pessoa, mas não significa que ela é monogâmica”, destacou.

No entanto, mudar a visão das pessoas sobre monogamia é especialmente difícil por tocar em aspectos da moralidade social, “além de que a monogamia é tão forte que até o Estado defende o casamento como instituição”.

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“O debate ainda está em seus estágios iniciais. Mas acho que se no Brasil fomos capazes de transformar, ainda que não resolver, a opressão de gênero, o que significa ser mulher, o que ela pode ou não fazer, ao ponto de questionar até a categoria de mulher, podemos questionar essa normatividade dos relacionamentos”, afirmou.

Para ela, o ponto de compreensão fundamental é que a não monogamia não pretende fazer com que as pessoas sintam de forma distinta, mas que “revejam como reagem ao que sentem e ao que os outros sentem. Aí as relações são transformadoras”.

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Família

Com relação à família, Moscou argumentou que é uma estrutura social muito específica do capitalismo não existente em populações tradicionais, por exemplo, nas quais a estrutura é outra.

“A família tem características completamente incompatíveis com uma sociedade sem exploração, em que predomine a convivência, a solidariedade e o compartilhamento. A família é baseada em uma estrutura de poder desigual e exige obrigatoriedade. O laço familiar é eterno e obrigatório, mesmo que não haja mais relação, baseado na ideia fantasiosa de vínculo genético”, defendeu.

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Ela questionou a lealdade cega à família ou o motivo de se condenar uma pessoa por dar mais prioridade aos amigos ou parceiros, ainda que a família dessa pessoa a tenha expulsado de casa, por exemplo, como é comum entre a população LGBT, “que constrói uma vida mais comunitária”.

O ideal, para a socióloga, seria construir relações “baseadas em convivência, solidariedade e comunidade, pensando nas relações em como elas efetivamente são”.

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“Falamos de uma ‘antinorma’. Não sei se abolição das atuais, mas, pelo menos em um primeiro momento, que existam normas que permitam uma variedade tão grande de arranjos de relações que a própria norma da família vá se tencionando ao longo do tempo”, reforçou.

‘Marxismo permite repensar o conceito de família’

Para Moscou, se a esquerda luta pelo fim da opressão, por uma revolução no sistema, é preciso questionar os aspectos que oprimem a subjetividade das pessoas, e entender que "isso não é só um problema das mulheres e do feminismo”.

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“Se a gente entende que a família é uma forma social de trabalho e que o trabalho realizado no seio da família é de reprodução da própria classe, que sem ela o capitalismo para, a gente tem que entender que, se a gente quiser construir uma sociedade sem exploração, a gente precisa revisar como a família funciona. O marxismo é o melhor espaço para pensar isso”, enfatizou.

A socióloga citou o próprio Friedrich Engels, que tinha relações com Mary Burns e sua irmã: “Aliás, Engels e Mary só se casaram quando ela estava perto de morrer, para poder ser enterrada na tumba familiar. Então não é nem que esse é um debate novo na esquerda”.

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