Miriam Nobre: “O feminismo é a ideia radical de que as mulheres são gente e existem por elas mesmas”

Em debate sobre o feminismo interseccional na TV 247, a ativista Miriam Nobre falou sobre a importância do feminismo para enfrentar o “sistema racista, capitalista e patriarcal”, enquanto que a atriz Priscila Maria disse que ser feminista e mulher preta “é ter a ousadia de existir”. Assista

Miriam Nobre e Priscila Maria
Miriam Nobre e Priscila Maria (Foto: Divulgação)


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247 - O feminismo interseccional esteve em pauta no programa “Um Tom de resistência”, na TV 247. O apresentador Ricardo Nêggo Tom recebeu a agrônoma, militante da Marcha Mundial das Mulheres e do SOF (Sempreviva Organização Feminista), Miriam Nobre, e a atriz e produtora Priscila Maria para falaram sobre os desafios das mulheres feministas na sociedade. “Tem uma ideia do movimento que fala que o feminismo é a ideia radical de que as mulheres são gente. Isso significa reconhecer que nós mulheres existimos por nós mesmas, que podemos ser sujeitas, e que não vivemos apenas em função do outro, ou só na atenção e no cuidado do outro. Que a gente pode ter os nossos próprios desejos, as nossas próprias vontades. E o feminismo que eu pratico é um feminismo que enfrenta o sistema. Esse sistema que não nos ama, como diz a música de abertura do programa (O Sistema não te ama, composição de Ricardo Nêggo Tom). Esse sistema que não nos ama é racista, capitalista e patriarcal, e a gente tem que derrubá-lo para vivermos plenamente como mulheres trabalhadoras e negras que somos”, explicou Miriam.

Para Priscila, “o feminismo é a ideia da nossa existência como mulher, como a Miriam bem falou. A Grada Kilomba (escritora e ativista negra portuguesa) e o Fanon (Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo negro francês) falam que o homem branco é o indivíduo, e tudo o que é diferente dele é o outro. E sendo mulher preta, ser feminista é ter a ousadia de existir. É todo dia tentar existir enquanto pessoa, enquanto indivíduo. Então, começamos a pensar sobre essas pessoas não padronizadas e não normalizadas, que são classificadas como ‘outras coisas’. Eu acredito que normalizar primeiramente os nossos corpos cotidianos é a forma como exerço o meu feminismo. Eu faço isso nas produções, no consumo, quando eu vou escrever e quando eu me coloco. Eu produzi uma série em 2019 com a equipe e o elenco majoritariamente composto por homens pretos, mulheres pretas, mulheres trans, mulheres. Eu tento exercer o feminismo da busca por equidade, observando a necessidade de cada grupo, para, pelo menos, equilibrar essa balança”.

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A definição de interseccionalidade e a necessidade de uma maior discussão sobre os aspectos raciais e sociais dentro do movimento feminista foi analisado por Miriam Nobre “como uma ferramenta que temos e que gostaríamos que todo o feminismo utilizasse. Tem as categorias mais presentes, como as de raça, classe e gênero, mas também temos a sexualidade, a capacidade, a nacionalidade. Todas essas categorias estão relacionadas e uma organiza um pouco a outra. E elas estruturam relações de poder. Essas relações de poder se manifestam nas relações sociais, nas instituições e nas nossas experiências individuais cotidianas. O feminismo interseccional é aquele que mobiliza essa ferramenta analítica, para construir a sua agenda e melhor se organizar. Não com o objetivo de segmentar as pessoas em grupos, mas nos considerando conjuntas e misturadas, nessa construção de uma identidade política de transformação dessas relações de poder que são tão desiguais. Tudo isso sem fragmentar as nossas experiências”.

Seguindo na mesma linha, Priscila entende que “é muito importante lembrar que é necessário termos uma didática e popularizar as palavras. Os movimentos interseccionais falam muito sobre as necessidades de cada grupo, e eu preciso saber explicar sobre isso para a minha mãe e para a minha prima, por exemplo. Como eu posso pegar tudo que aprendi nos textos acadêmicos e explicar para a minha mãe que é de outra geração e para minha prima que está vindo agora. Sem contar que quando falamos de interseccionalidade, não falamos apenas do feminismo negro ou de mulheres trans. Tem também as mulheres indígenas que também sofrem esta agressão, tem o grupo das mulheres asiáticas que conversam sobre o micro racismo e o grupo de homens trans, que transicionaram depois, mas tiveram uma vivência social vista de outra forma. É importante chamar esses indivíduos desses outros grupos para participarem do debate”.

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