Lazzo Matumbi: “O 13 de maio deve ser uma data de reflexão, contestação e reivindicação para os negros”

Em debate na TV 247, o cantor e compositor baiano disse que “não há o que os negros comemorarem” na data da abolição da escravatura. Já para o Frei David dos Santos, a data “é um dia de celebrar a nossa resistência”, enquanto que para o músico carioca Paulo Ney é tempo de lembrar as feridas abertas pela escravidão e a luta diária dos negros por liberdade. Assista

Lazzo Matumbi
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247 - No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei que garantia a alforria dos negros escravizados no Brasil. Cento e trinta e três anos depois, essa sensação de liberdade ainda não foi desfrutada pelos seus descendentes. A abolição da escravatura esteve em pauta no programa “Um Tom de resistência”, apresentado por Ricardo Nêggo Tom na TV 247. O compositor Lazzo Matumbi, autor da música “14 de maio”, que fala sobre o dia seguinte dos negros libertos do cativeiro, disse que “a data nos traz uma memória bastante estranha e eu acho que esse momento deveria ser de um encontro para reflexão, contestação e reivindicação. Na realidade, sabemos que o 13 de maio em si não significa muito, porque do dia 14 de maio (de 1888) até os dias de hoje, continuamos escravos”.

O diretor da fundação Educafro, Frei David dos Santos, falou da importância de os negros celebrarem a data. “Eu prefiro ver por um aspecto positivo e otimista. Um motivo grande para celebrar é a nossa resistência e a nossa maneira de sair para a frente no combate. Hoje, no Brasil inteiro, vimos a “Frente Nacional Antirracista”, a “Coalisão Negra por Justiça” e várias outras entidades fazendo eventos pelo Brasil, para aqueles que estão em condições de saírem às ruas, bem como uma movimentação incrivelmente forte nas redes sociais ligadas à temática do povo negro. Eu, Frei David, como Franciscano, tenho esperança de que estamos no caminho certo e vamos aumentar o número de negros na luta por nossos direitos”, avaliou o sacerdote católico.

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Morador de uma comunidade próxima ao Jacarezinho, onde 27 pessoas foram mortas numa operação realizada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, o músico Paulo Ney disse que “a tendência é que a gente reflita'. E essa reflexão tem que ser diária. Lógico que temos a esperança de termos um povo mais liberto a cada dia. Mas, cada vez que acontece algo como aconteceu no Jacarezinho, é uma ferida que abre em nossos corações e nos nossos pensamentos. Então, ao mesmo tempo que temos esperança e otimismo, seguimos caminhando e tentando fechar essas feridas. O nosso legado é de luta e resistência. Mas estamos sempre sendo machucados de uma forma ou de outra. Tanto psicologicamente, quanto fisicamente.”

A legitimidade da figura de princesa Isabel como a heroína do processo abolicionista e a representatividade do advogado negro Luís Gama, que ajudou no processo de alforria de muitos escravizados, mesmo antes da abolição, foram analisadas pelos entrevistados. Paulo Ney lembra que Luís Gama “lutou por sua liberdade quando descobriu que a Lei Feijó, que proibia a exploração dos escravizados, não era cumprida. Essa foi uma de suas lutas e, só por ela, ele já tem mais importância do que a princesa Isabel nesse processo”. Lazzo Matumbi avalia que “nessa comparação entre princesa Isabel e Luís Gama, a gente sabe que a ideia de alforria parte sempre do oprimido, daquele que está revoltado com o que está vivendo. Óbvio que Luís Gama teve uma contribuição muito mais relevante nesse processo”.

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Frei David explica que “quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, vários historiadores nos confirmam que mais de noventa por cento do povo negro já havia, por estratégia própria, conquistado a libertação. Por exemplo, as irmandades do rosário dos homens pretos nada mais eram do que uma dessas estratégias de libertação, dentro do possível, do sistema opressor colonialista. Os homens pretos livres da irmandade se reuniam mensalmente e nessas reuniões eram arrecadadas contribuições financeiras que seriam usadas para libertar os pretos que ainda eram mantidos como escravos”. Outros temas como educação e racismo estrutural também foram debatidos no programa.

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