Dólar em baixa: os dois lados dessa moeda
Para quem fez poupana em dinheiro americano, as perdas em relao ao real j chegam a 10% desde 1 de janeiro. Mesmo assim, as "verdinhas" ainda podem realizar muitos sonhos, especialmente no exterior
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Luciane Macedo _247 - O dólar sempre foi considerado por muitos brasileiros como dinheiro certo, sinônimo de liquidez disponível e valor garantido. Mas desde a crise financeira de 2008, a moeda americana iniciou uma longa trajetória escada abaixo. Quem tinha sua poupança (ou parte dela) nas conhecidas "verdinhas" vive, desde então, um dilema: vender para fazer reais, que estavam se apreciando, ou manter seu poder sobre aquelas notas à espera de uma recuperação?
Se você está entre aqueles que mantiveram dólares, ou até mesmo compraram mais na sequência de baixas, uma boa notícia: ainda é possível tirar bom proveito do seu capital em moeda americana. Não faça contas das perdas e concentre-se no amplo leque de possibilidades que sua utilização, neste momento de crise nos Estados Unidos, pode proporcionar.
É uma boa hora, por exemplo, para investir no mercado imobiliário americano. Enquanto por aqui os preços explodiram, notadamente em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, por lá, o que houve foi o contrário. Um apartamento de alto padrão na avenida Vieira Souto, um dos endereços mais nobres da capital fluminense, custa hoje, na mesma metragem, mais caro do que um imóvel na requintada praia de Malibu, na Califórnia, frequentada pelas celebridades hollywoodianas. Esta relação se repete em vários tipos de imóveis, dos pequenos apartamentos em Miami Beach aos famosos lofts nova-iorquinos. Metro por metro, o Brasil está mais caro. E se você tem dólares parados, este é o momento certo de fazer as contas e, por que não, partir para um investimento imobiliário no exterior.
Para ir mais longe, lembre-se que a depreciação imobiliária também atingiu a Europa. Paris, cotejada com o Rio, ficou mais acessível para compras. Esse movimento, no entanto, deve ter relação direta com o seu modo de vida. Para quem simplesmente ama as cidades do chamado circuito Elizabeth Arden, a ideia pode ser considerada muito seriamente. Proteja-se, é claro, por meio de corretores idôneos e não abra mão de um bom advogado brasileiro na hora de fechar o negócio. Assim como aqui, as legislações do exterior são repletas de "pegadinhas". O site da corretora Elite International Realty mostra boas oportunidades a partir de US$ 250 mil nas praias da Flórida. O mercado local salvou-se do marasmo, nos últimos tempos, graças a aquisições em série feitas por famílias brasileiras.
Mas se não está nos seus planos ter imóveis fora do Brasil, este também é um bom momento para usar seus dólares bem guardados em cursos e workshops não apenas nos EUA, mas também no Canadá, onde o dólar local tem um câmbio muito semelhante. Se você dispõe de mais tempo, vale a pena pesquisar preços e pensar em um upgrade profissional com um MBA. Para quem tem filhos que sempre quiseram aprender inglês fora do Brasil, sites especializados neste tipo de intercâmbio, como o Student Travel Bureau, oferecem diversos pacotes a preços convidativos. Com este tipo de uso, os dólares que aqui perdem valor podem render bons frutos, inclusive financeiros, a médio e longo prazos -- sem falar na experiência de vida.
Deixando carreira e trabalho de lado, há sempre a possibilidade de tirar férias prolongadas, um período sabático ou fazer a viagem dos sonhos. O dólar que você tem em casa, por mais chamuscado que esteja, continua sendo a moeda com mais trânsito no mundo. Por que não, de passagem pela Califórnia, fazer um curso de sommelier? As compras no exterior também sairão bem mais em conta do que no Brasil.
Resgatando o prejuízo
Se, para todas as dicas acima, o elemento tempo se torna um impeditivo, o jeito é encarar as perdas e, ao menos, estancar a sangria no valor de seus dólares poupados. Não há unanimidade entre os analistas. Acredita-se, de um lado, que na cotação de cerca de R$ 1,55, o dólar já teria atingido o seu ponto mais baixo. Neste sentido, o governo vem adotando uma série de medidas para conter a queda e, até mesmo, apreciar um pouco a moeda estrangeira. Outra corrente, porém, vê o dólar em novas situações de baixa.
Segundo o economista Antonio Madeira, sócio da MCM Consultores Associados, a perda acumulada, desde o início deste ano, para quem investiu em dólar foi de 10% até o final de julho, considerando-se 3,6% de queda no preço da moeda mais o que o investidor deixou de ganhar com o mercado de juros local. "A perda estimada até dezembro de 2011 é de 14%", informa Madeira. Comprar dólar foi, até o momento, o pior investimento do ano na avaliação do consultor. "Qualquer outra aplicação financeira mais conservadora rendeu mais", completa. "A perda é tanto mais expressiva porque as taxas de juros em dólar estão muito baixas", explica o economista.
Mas, afinal, neste quadro, há chances de recuperar o investimento? "O melhor é reconhecer a perda e transformar os dólares em reais", recomenda Madeira. Uma boa opção pode ser reinvestir o dinheiro guardado em moeda estrangeira em títulos do Tesouro Direto, especialmente para quem quer garantir uma boa poupança para a aposentadoria. Investidores mais jovens podem dividir o capital entre títulos do Tesouro Direto e o mercado de ações.
Em termos de investimento, portanto, o dólar não é mais recomendável, avalia o sócio da MCM. O problema é que poupar em dólar virou praticamente um hábito do brasileiro, cultivado e disseminado entre quase todas as classes sociais, desde a era inflacionária. É que a moeda americana, naquela época, era sinônimo de segurança. E antigos hábitos são difíceis de abandonar. No entanto, poupar em dólar, hoje, só se justifica para quem tem um compromisso financeiro que demande a moeda estrangeira. "Poupar em dólar para gastar no futuro, em reais, não compensa", diz Madeira.
Segundo o economista, a valorização do real deve se manter graças a, principalmente, dois fatores: a solidez da nossa balança comercial, com forte exportação de commodities e grande demanda por parte de outras economias emergentes, e a condição do Brasil como credor em dólar. Diante de uma possível crise no mercado internacional, mantidas estas condições, a taxa de câmbio tenderia a subir pouco, e o real continuaria fortalecido. Mesmo que houvesse um cenário como o de 2008, nossa moeda permaneceria forte. Isto porque, há três anos, tínhamos muitas empresas nacionais com grande passivo em dólar, o que não mais se verifica hoje. "Nossas mudanças estruturais colocam o real em situação favorável", arremata o consultor.
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