Walkíria Nitcheroy: “o povo preto precisa ter direito a resgatar a sua história”

Vereadora carioca diz ser preciso emancipar o povo preto brasileiro. A jornalista Simone Santos e a relações públicas Deia Zulu também participaram do debate na TV 247

Walkíria Nitcheroy
Walkíria Nitcheroy (Foto: Reprodução Facebook)


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Por Ricardo Nêggo Tom, 247 - Mesmo sendo a maioria da população brasileira, os negros ainda lutam contra a sub-representação na política. Apesar de já terem conquistado mais espaço, como mostra o levantamento de dados feito pelo TSE em 2020, que aponta um recorde de candidaturas negras nas eleições daquele ano, essa representatividade não se faz presente entre os representantes da população nos parlamentos. Pensando nisso, foi lançado no dia 06 de junho, em São Paulo, o movimento “Quilombo nos Parlamentos” sob a perspectiva de um novo horizonte político para as lideranças negras. 

A vereadora e educadora infantil Walkiria Nitcheroy (PSOL-RJ), mais jovem parlamentar eleita para a Câmara Municipal de Niterói, entende que os negros de hoje têm potencial para alcançar patamares antes nunca imaginados. “Fazemos parte de uma geração que experimentou um impulso de ocupação, que sempre existiu através da luta do povo negro, e que tem a possibilidade de alcançar patamares inimagináveis na nossa história. Uma geração que acessa universidade pública, que acessa pesquisa, que passa a ser a autora da produção do conhecimento sobre si e sai do lugar de objeto de estudo da branquitude. E isso, aliado a uma série de coisas que vão acontecendo, como a difusão da informação através das redes sociais, por exemplo, você cria um nível de formação de consciência muito elevado na juventude negra. Isso impulsiona a participação dessa galera nesses espaços e nos proporciona ver uma transição geracional no campo progressista, na esquerda, de forma majoritária, onde a juventude negra ocupa esse protagonismo”.

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A jornalista Simone Nascimento, membra da coordenação nacional do movimento negro unificado, alerta para a necessidade de fortalecimento das candidaturas negras que têm compromisso com as lutas do movimento, em oposição a representatividades negras do campo da direita que atacam os direitos da população negra. “O Quilombo nos Parlamentos é uma iniciativa que vem sendo construída e planejada como decisão coletiva na coalizão negra por direitos, que é um espaço que reúne mais de 250 organizações coletivas do movimento negro brasileiro. Em dezembro de 2021, já fruto de uma série de acúmulos que a coalizão vinha tendo nos últimos 3 anos, nós decidimos criar uma série de políticas para as eleições de 2 022, que visassem fortalecer as candidaturas do movimento social negro brasileiro. Existem diversos candidatos negros, inclusive na direita, e tem aqueles que atacam os direitos da nossa população, e nem preciso citar nomes aqui. Por isso, precisamos fortalecer as candidaturas que têm identidade e compromisso com as pautas do nosso movimento. E uma das formas da coalizão negra fazer isso, foi explorar a pluralidade e a diversidade do que são os movimentos sociais negros, que são asa candidaturas negras dentro do campo progressista. A coalizão negra inova em dois sentidos. Primeiro, por fazer um grande evento de lançamento de pré-candidaturas negras, e, segundo, por ter pré-candidaturas comprometidas com o movimento social negro em diversos partidos de esquerda. Uma gama de candidatos que estão alinhados com os pontos que a coalizão negra vem apresentando para a sociedade”.

Relações públicas e dirigente da secretaria de combate ao racismo do PT da capital, a pré-candidata a deputada estadual Deia Zulu considera que é uma mulher que veio para romper padrões na sua família. Identificando- se como lésbica, ela ressalta que é importante se colocar como é, tanto na sociedade, como na política. “Eu tenho muito orgulho de ser uma mulher negra e lésbica. Eu, como corpo político, preciso me colocar no mundo como eu sou. Quando queremos nos colocar na vida pública, não podemos nos esconder. Eu acredito muito que essa possibilidade de mudança que os negros vêm trazendo para a política, e não é de hoje, contribuiu, cada um no seu momento para chegarmos a esse momento. O lançamento do Quilombo nos Parlamentos é motivo de muito orgulho. Tivemos falas potentes, com a presença de vários 'griots' com os quais podemos adquirir muita sabedoria, escutando o que eles tinham para falar como orientação para os mais novos. Nossos passos vêm de longe e devemos sempre saudar os mais velhos nessa questão. Muito do acúmulo do movimento negro nacional vem dessas pessoas. Então, quando a coalizão se propõe a juntar debaixo de uma bandeira, que é a coalizão por direitos, esse acúmulo também está comtemplado. Eu acredito muito que partidos políticos e os movimentos sociais, podem dar um tom novo para a política negra fazendo com que negros cheguem ao parlamento, mas de forma unificada, tendo os mesmos princípios, os mesmos objetivos, para que não nos dispersamos. Muito da política negra feita nos últimos tempos acabou tendo uma dispersão. Quando conseguimos as cotas, pensamos que conseguimos um ministério. E avançamos em que dali para frente?”

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A importância da educação e da aplicação da lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura africana nas escolas, foi apresentada como fundamental no processo de combate ao racismo estrutural e à sub-representação negra na política e na sociedade como um todo. Falando do seu lugar de educadora infantil, a vereadora Walkiria Nitcheroy entende que “precisamos emancipar o nosso povo. O povo preto precisa ter direito a resgatar a sua história, precisa ter direito a se organizar. E só dá para fazer isso quando temos consciência do lugar que ocupamos nessa sociedade. E isso inclui um processo de educação diferente. Mas não adianta apenas aplicar a lei 10.639, se o combate ao racismo não for introduzido na sala de aula. “Concordando com a fala de Walkiria, Simone Nascimento evoca o tipo de estrutura que deu origem ao país. “Nós temos uma estrutura política no Brasil, que não permite que o negro seja cidadão. Se nós sequer temos direitos dentro de um modelo político definido por brancos, imagina disputar essa política. A política é algo que está concentrado nas mãos de quem detém o poder capitalista no Brasil. Essa lei é muito importante, mas ela precisa ser executada, de fato, pelo próximo governo federal progressista, para que tenhamos um avanço no reconhecimento e na construção de uma verdadeira identidade afro-brasileira. “A fome no Brasil de Bolsonaro também esteve em pauta. Deia Zulu chama a atenção para o que ela chama de “projeto de morte” implementado pelo o atual presidente da república. “Precisamos repensar o que foi feito nas urnas há quatro anos. As pessoas estão sem esperança e eleger Lula é um passo para tentarmos reconstruir esse país”.

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