Vladimir Safatle: gradualismo lulista facilita o golpismo

Para filósofo, "reformismo fraco" é incapaz de mobilizar o povo para enfrentar a reação burguesa contra mudanças; veja vídeo na íntegra

Filósofo Vladimir Safatle
Filósofo Vladimir Safatle (Foto: Reprodução)


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Opera Mundi - O filósofo e professor da USP Vladimir Safatle participou do programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (25/07), com o jornalista Breno Altman, e defendeu que uma eventual restauração do modelo conciliatório utilizado nos primeiros governos petistas apenas levaria à repetição de um ciclo que notoriamente conduz a golpes e retrocessos. 

“Catástrofe é o que temos agora, e isso tem que ser parado custe o que custar. Mas parar momentaneamente não serve de nada”, defende, apontando a situação dos Estados Unidos, quando os norte-americanos retiraram Donald Trump do poder "para que ele volte depois com mais  força e legitimidade seria apenas a continuação da catástrofe".

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Para o filósofo, o caminho da ruptura foi dominado pela extrema direita, e a oposição que pretende reconquistar o poder não deveria se recolher a posições defensivas e conciliadoras. 

“[Jair] Bolsonaro se coloca como a força de ruptura, no horizonte em que o grande ator conciliatório é a esquerda, que tenta durante duas décadas salvar esse modelo de pacto, acreditando que vai criar um sistema de ganha-ganha e fazer o país avançar com menos fricção, numa espécie de reformismo fraco”, disse. 

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Em sua opinião, não há chance de êxito para essa estratégia. Ilustra essa mudança comparando o movimento Cansei, que em 2007 dependia do apoio da mídia para se sustentar, com o momento presente: “hoje não é assim. Se Bolsonaro chama seus apoiadores para o 7 de setembro, pode saber que vai ter gente lá. Imaginar que nesse cenário vai se conseguir algum pacto é suicida".

Perguntado por Altman se o gradualismo adotado por Lula poderia evitar futuros golpes, Safatle dá resposta negativa, afirmando que foi realizada "uma opção gradualista, e o resultado foi que levamos um golpe, que não foi só parlamentar".

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"É um golpe que hoje em dia está na rua, tem apoio popular substantivo e mesmo se perder a eleição vai continuar causando problema. Não é possível que esse modelo, se deu tão errado ao final, tenha sido o modelo certo”, declarou.

O filósofo afirma que votará em Lula no primeiro turno, mas reivindica ousadia e transparência nas proposições que pretendam derrotar o bolsonarismo. 

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Safatle vê com reserva a dianteira de Lula nas pesquisas eleitorais: “Bolsonaro, dependendo da pesquisa, tem uma desvantagem de 10%, muito pequena para o governo catastrófico que representa, o nada que ele traz, a degradação econômica que lhe é própria, os resultados da pandemia totalmente em suas costas. É inacreditável que ele tenha 30% ou pouco mais sem que a campanha eleitoral tenha começado”.

Afirmando que os governos petistas duraram tempo demais, Safatle critica as consequências da permanência. “Os 13 anos de gestão fizeram com que a esquerda brasileira se tornasse a mais legalista do mundo, aquela que vai ser a última fiadora dos pactos da Nova República, num momento que a Nova República acabou, não existe mais”, argumenta. 

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O filósofo critica a excessiva timidez do conjunto de ideias que a esquerda nacional costuma levar ao eleitorado. Nos Estados Unidos, Bernie Sanders, pré-candidato do Partido Democrata, propunha que 20% da classe trabalhadora tivessem lugar nos conselhos diretivos das médias e grandes empresas. “Isso nunca foi discutido no Brasil. A França, que no máximo tinha uma social-democracia, conseguiu implementar 35 horas de jornada de trabalho sem redução de salário. Aqui tivemos um governo de sindicalista e continuamos com 44 horas semanais", disse.

A burguesia nacional, defende, não será aliada confiável para a superação da onda neofascista. “A elite rentista brasileira teve ganhos absolutamente intocados. Conseguiu defender muito bem seus interesses e tem agora uma alternativa", afirmou Safatle, apontando que uma atitude defensiva seria um caminho destinado à derrota em sua avaliação. 

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Safatle vislumbra qual seria o cenário alternativo, não propriamente conciliador: “O que se faz numa situação como essa? Você fortalece e mobiliza o seu lado. Isso significa estar do lado de seu eleitor nas lutas, fortalecendo, criando antagonismo. Não tem mais revolução pelo alto, não tem uma saída mágica. Nesse ponto, é preciso organizar os polos. Já tem um polo organizado, mas o outro está completamente desorganizado".

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