Vladimir Safatle: “A política mundial tem se movido em direção aos extremos, com a extrema direita liderando”

Segundo o filósofo e professor, o Brasil caminha para mais um impasse histórico e a falta de proposições e reatividade limitavam a atuação da esquerda

Vladimir Safatle
Vladimir Safatle (Foto: Reprodução/Youtube)


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247 - O programa Brasil Agora, da TV 247, entrevistou o filósofo e escritor Vladimir Safatle, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), sobre os 10 anos das manifestações de junho 2013, que marcaram um momento da história do Brasil.

Safatle, que é um dos autores que colabora com o livro “Junho de 2013: a rebelião fantasma”, organizado por Maria Caramez Carlotto e Breno Altman e lançado pela Editora Boitempo, ressalta que esses protestos estavam ligados a um certo esgotamento das perspectivas de mudança na sociedade brasileira, que haviam sido ensinados pelos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).

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"Uma das grandes características de 2013 é o fato de que vimos uma imensa tristeza popular vinculada a um certo esgotamento do horizonte de modificações da sociedade brasileira que tinha sido produzida pelos dois governadores do PT. É como se o processo de desenvolvimento nacional tivesse batido no teto", aponta o professor.

O filósofo destaca que muitas pessoas tentaram interpretar os eventos de 2013 como revoltas sem propostas concretas e horizontes definidos, utilizando uma visão, que segundo ele, desqualifica o poder das sublevações populares. No entanto, ele ressalta que essas manifestações foram marcadas por uma sequência de demandas claras, como a melhoria da educação, do sistema de saúde e do transporte público.

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Safatle argumenta que os manifestantes perceberam os limites do horizonte de desenvolvimento brasileiro e a necessidade de promover mudanças de políticas e rupturas institucionais. No entanto, essas demandas não foram devidamente integradas pela esquerda nacional, que se mantiveram em uma posição reativa ao invés de propor um novo horizonte de ação.

“Então, a esquerda nacional passou esses 10 anos numa posição muito reativa porque ela precisava reconfigurar seu horizonte de ações e de proposições”, destacou. “A extrema direita conseguiu se colocar como uma força insurrecional no Brasil com propostas de ruptura, com propostas de transformações culturais da sociedade brasileira”, acrescentou.

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Safatle enfatizou ainda a dificuldade da esquerda em lidar com críticas vindas de seu próprio campo, o que empobrece o debate e dificulta o avanço de propostas inovadoras.

“Acho uma coisa que empobrece porque se eu fosse de direita começasse a fazer crítica, o pessoal da esquerda ouvia e dira que tem que compor. Agora quando vem da esquerda trata como se fosse uma traição”, disse. 

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Para o professor, o país caminha para o mesmo impasse histórico. “Há uma tendência a repetir o mesmo tipo de estratégia que foi feita nos primeiro e segundos mandatos de Lula e Dilma em que chegou ao impasse. E isso é uma coisa que não diz respeito só ao núcleo político é uma problema da história brasileira. É muito mais grave. As forças progressistas nacionais estão vinculadas há um tipo de dinâmica, desde o PTB, do getulismo e do trabalhismo. É uma dinâmica muito parecida e a gente tem uma dificuldade estrutural e crônica no país de entender certas situações nas quais é absolutamente fundamental e decisivo que você consiga acelerar o processo da imaginação social”, frisou.

O filósofo alerta que, atualmente, a política mundial tem se movido em direção aos extremos, com a extrema direita liderando essa configuração. Para a esquerda, é essencial colocar pautas de forma mais evidente e contundente, a fim de contrabalançar essa dinâmica e aplicar uma política efetivamente de interesse da classe trabalhadora.

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“A política mundial foi para os extremos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Só que quem se configurou como extremo primeiramente foi extrema direita. A esquerda não conseguiu se configurar como extremo. A extrema direita vai puxando todo mundo para a direita. Então, o discurso da esquerda vai mudando, vai indo para o centro e precisa de uma outra força para puxar de volta. Para conseguir até balancear a dinâmica porque senão cada vez menos você consegue você consegue aplicar uma política efetivamente de interesse da classe trabalhadora. E cada vez mais ela vai ficar frustrada e perceber que não está sendo contemplada da maneira como deveria’, explica.

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