Vladimir Safatle: “A política mundial tem se movido em direção aos extremos, com a extrema direita liderando”
Segundo o filósofo e professor, o Brasil caminha para mais um impasse histórico e a falta de proposições e reatividade limitavam a atuação da esquerda
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
247 - O programa Brasil Agora, da TV 247, entrevistou o filósofo e escritor Vladimir Safatle, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), sobre os 10 anos das manifestações de junho 2013, que marcaram um momento da história do Brasil.
Safatle, que é um dos autores que colabora com o livro “Junho de 2013: a rebelião fantasma”, organizado por Maria Caramez Carlotto e Breno Altman e lançado pela Editora Boitempo, ressalta que esses protestos estavam ligados a um certo esgotamento das perspectivas de mudança na sociedade brasileira, que haviam sido ensinados pelos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).
"Uma das grandes características de 2013 é o fato de que vimos uma imensa tristeza popular vinculada a um certo esgotamento do horizonte de modificações da sociedade brasileira que tinha sido produzida pelos dois governadores do PT. É como se o processo de desenvolvimento nacional tivesse batido no teto", aponta o professor.
O filósofo destaca que muitas pessoas tentaram interpretar os eventos de 2013 como revoltas sem propostas concretas e horizontes definidos, utilizando uma visão, que segundo ele, desqualifica o poder das sublevações populares. No entanto, ele ressalta que essas manifestações foram marcadas por uma sequência de demandas claras, como a melhoria da educação, do sistema de saúde e do transporte público.
Safatle argumenta que os manifestantes perceberam os limites do horizonte de desenvolvimento brasileiro e a necessidade de promover mudanças de políticas e rupturas institucionais. No entanto, essas demandas não foram devidamente integradas pela esquerda nacional, que se mantiveram em uma posição reativa ao invés de propor um novo horizonte de ação.
“Então, a esquerda nacional passou esses 10 anos numa posição muito reativa porque ela precisava reconfigurar seu horizonte de ações e de proposições”, destacou. “A extrema direita conseguiu se colocar como uma força insurrecional no Brasil com propostas de ruptura, com propostas de transformações culturais da sociedade brasileira”, acrescentou.
Safatle enfatizou ainda a dificuldade da esquerda em lidar com críticas vindas de seu próprio campo, o que empobrece o debate e dificulta o avanço de propostas inovadoras.
“Acho uma coisa que empobrece porque se eu fosse de direita começasse a fazer crítica, o pessoal da esquerda ouvia e dira que tem que compor. Agora quando vem da esquerda trata como se fosse uma traição”, disse.
Para o professor, o país caminha para o mesmo impasse histórico. “Há uma tendência a repetir o mesmo tipo de estratégia que foi feita nos primeiro e segundos mandatos de Lula e Dilma em que chegou ao impasse. E isso é uma coisa que não diz respeito só ao núcleo político é uma problema da história brasileira. É muito mais grave. As forças progressistas nacionais estão vinculadas há um tipo de dinâmica, desde o PTB, do getulismo e do trabalhismo. É uma dinâmica muito parecida e a gente tem uma dificuldade estrutural e crônica no país de entender certas situações nas quais é absolutamente fundamental e decisivo que você consiga acelerar o processo da imaginação social”, frisou.
O filósofo alerta que, atualmente, a política mundial tem se movido em direção aos extremos, com a extrema direita liderando essa configuração. Para a esquerda, é essencial colocar pautas de forma mais evidente e contundente, a fim de contrabalançar essa dinâmica e aplicar uma política efetivamente de interesse da classe trabalhadora.
“A política mundial foi para os extremos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Só que quem se configurou como extremo primeiramente foi extrema direita. A esquerda não conseguiu se configurar como extremo. A extrema direita vai puxando todo mundo para a direita. Então, o discurso da esquerda vai mudando, vai indo para o centro e precisa de uma outra força para puxar de volta. Para conseguir até balancear a dinâmica porque senão cada vez menos você consegue você consegue aplicar uma política efetivamente de interesse da classe trabalhadora. E cada vez mais ela vai ficar frustrada e perceber que não está sendo contemplada da maneira como deveria’, explica.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247