Sabrina Fernandes: esquerda erra ao subestimar o inimigo

Socióloga critica militância que ridiculariza figuras como Damares Alves e avalia que nova onda progressista na América Latina é mais frágil que a primeira

Sabrina Fernandes
Sabrina Fernandes (Foto: Reprodução/YouTube)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Opera Mundi - A doutora em Sociologia Sabrina Fernandes criticou, no programa 20 MINUTOS desta quarta-feira (12/10), com Breno Altman, a militância de esquerda que subestima e ridiculariza políticos da extrema direita, ao mesmo tempo que revela dificuldades em dialogar com setores indecisos sobre o voto de 30 de outubro, como por exemplo o das mulheres evangélicas. 

“Damares Alves é espertíssima. Um problema da esquerda que ficou muito evidente nos últimos anos é subestimar nosso inimigo. É muito fácil dizer que nosso inimigo é burro, vulgar, não sabe o que faz. Eles sabem muito bem o que estão fazendo”, opina.

continua após o anúncio

Militante marxista e ecossocialista empenhada na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, ela observa que mulheres evangélicas conservadoras não têm total identificação com o machismo e a grosseria de Jair Bolsonaro, mas tampouco se identificam com a militância feminista de padrão neoliberal, que tende a rotulá-las como intelectualmente inferiores.

“Elas estão no meio do caminho. Aí vem o apelo da guerra espiritual, que pega essas pessoas e joga novamente ao voto em Bolsonaro”, analisa. Fernandes critica vícios da esquerda em falar mais que escutar e ensinar mais que aprender: “A gente precisa aprender a conversar, senão vai acabar alienando mais ainda quem queremos trazer para nosso lado”. 

continua após o anúncio

Idealizadora e apresentadora do canal Tese Onze, no YouTube, a socióloga deposita esperanças em que Lula reconstrua pontes para a integração latino-americana, inclusive como meio de proteção aos governos que caracteriza como parte da “nova onda rosa” no continente. 

“A nova fase é muito frágil. A gente chega com menos força do que na primeira vez, agora já existe uma extrema direita mais consolidada”, adverte. A integração latino-americana seria uma alternativa à dominação imperialista de Estados Unidos e Canadá: “Lula chegando pode ser uma boa ponte, como Gustavo Petro já está sendo na Colômbia. Nossas lutas são muito mais parecidas, nossos inimigos são comuns”. 

continua após o anúncio

Fernandes credita ao velho antipetismo a descarga de votos úteis em Bolsonaro no primeiro turno: “Uma das maiores instituições do Brasil chama-se antipetismo. É um fenômeno montado pela direita, que institui pânicos morais ao redor do PT, se baseia no medo e constrói um monstro a partir daí”.

Ela discorda, mais uma vez, de quem subestima o bolsonarismo: “Não acredito em classificar o governo Bolsonaro como incompetente. Eles entregaram muito do que prometeram. Mas tiveram muitos erros táticos pela vulgaridade da figura central e dos filhos, que são detestáveis”. 

continua após o anúncio

A formação da frente ampla em torno de Lula foi importante para desmontar o antipetismo mais leve, mas não suficiente para neutralizar o antipetismo em si, avalia. A estratégia proposta pela neo-aliada Simone Tebet, do MDB, de substituir nas ruas as cores vermelhas pelo branco da paz, significaria um esvaziamento de símbolos caros à esquerda. 

“Tebet tem que baixar um pouquinho a bola, porque o PT é o maior partido de esquerda do Brasil. O MDB é o maior partido do Brasil, mas é também o maior partido fisiologista do Brasil”, critica. “Não faz o menor sentido a militância organizada abrir mão dos símbolos mais básicos e dar impressão de que estamos com medo”, completa.

continua após o anúncio

A socióloga defende que a esquerda não deve recorrer ao modo bolsonarista de criar e disseminar fake news, sobretudo junto à população religiosa: “O pai da mentira é o diabo. Dá a impressão de que estamos desesperados. Não podemos nos comportar como desesperados, porque estamos ganhando”.  

Em contraponto aos pânicos morais semeados pelo bolsonarismo, receita o restabelecimento da verdade e da memória: “A pedofilia e o abuso sexual infantil me preocupam tanto quanto a qualquer pessoa conservadora. Não preciso de fake news, posso falar que pegamos esses casos com creche, escola equipada, professor bem pago. Temos história para contar sobre isso”. 

continua após o anúncio

Embora classifique a esquerda revolucionária brasileira como “marginal" e “minúscula" no atual momento histórico, a militante dispõe-se a manter erguidas as bandeiras do socialismo e do comunismo, em contraponto à hegemonia da esquerda liberal. 

“É nosso imperativo, porque o capitalismo está num processo de destruição da possibilidade de vida. É possível negociar com o capitalismo somente até certo ponto”, argumenta, avaliando que a perspectiva socialista não está no horizonte brasileiro próximo. “O prazo de validade do capitalismo está aí, e acaba sendo um problema nosso também. Precisamos jogar o capitalismo fora antes que ele nos carregue junto.”

continua após o anúncio

Fernandes brinca com o pânico moral introduzido pela direita em torno do termo “comunismo”: “Cresci ouvindo Silas Malafaia toda semana. Tem salvação, a criança pode crescer ouvindo Malafaia e depois virar comunista”. 

Retorna à Revolução Russa ao afirmar que seu apoio a Lula significa a busca de uma mínima estabilidade pré-revolucionária: “A organização vem antes, é preciso ter lastro. Para chegar a 1917, houve 1905. Precisamos de uma política de paz, pão e terra. Ela pode produzir uma estabilidade que temos a obrigação de politizar”. 

Sabrina Fernandes delega essa tarefa de construção não a Lula, mas à base social que se coloca à esquerda na sociedade: “Lula não pretende uma revolução socialista. Não vou cobrar isso dele, mas vou cobrar da gente. É importante que as pessoas se encontrem coletivamente”. 

Cabe a essa militância pressionar à esquerda um eventual terceiro governo: “Lula já falou abertamente que a questão climática não pode ser secundária. Engulo Geraldo Alckmin a seco, mas Lula me lava a alma quando fala isso. Não é só o bolsonarismo, a esquerda também é péssima na pauta climática. Lula, se quiser, pode ser chave nisso, e espero que ele queira”.

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247