Paulo Werneck: Lula precisa comprar a briga do livro

Setor tem sido essencial na crítica ao bolsonarismo, e livrarias de rua dão vida nova ao mercado editorial, segundo o editor; veja vídeo na íntegra

(Foto: Divulgação)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

OperaMundi - O editor, jornalista e tradutor literário Paulo Werneck defendeu no programa SUB40 desta quinta-feira (23/06), com apresentação de Breno Altman, que o próximo presidente do Brasil seja cobrado a comprar efetivamente a briga econômica do livro, abandonada nos últimos quatro anos pelo bolsonarismo.

“Espero um presidente que combata monopólios e não faça uma política de campeões nacionais, que favoreceria monopolistas. A Livraria Cultura, por exemplo, recebeu muita verba do BNDES, e não sei se foi uma política adequada. [...] Espero um presidente que vá a evento literário e a livrarias, não só simbolicamente, mas também do ponto de vista econômico”, disse, elogiando o exemplo de incentivo à leitura oferecido por Luiz Inácio Lula da Silva no período em que esteve preso.

continua após o anúncio

Para Werneck, que desde 2017 é editor da revista literária Quatro Cinco Um, o livro se tornou no atual momento do país um espaço importante de formulação de respostas e de crítica ao bolsonarismo. “Foi um movimento cultural de resposta, à altura daquilo que, na Alemanha, aconteceu com o nazismo”, compara. 

Segundo o entrevistado, a guerra cultural instalada por Bolsonaro tem por objetivo atacar a universidade, criminalizar a atividade intelectual, perseguir artistas e todo o financiamento cultural: “não só a Flip (Feira Literária de Paraty) teve as verbas cortadas, mas também a Flup (Festival Literário das Periferias), que ganhou um prêmio de melhor festival do mundo”.

continua após o anúncio

Mesmo nesse ambiente hostil, a cena de livrarias de rua tem soprado ares de novidade e vitalidade para o setor, na opinião do editor. Especificamente na cidade de São Paulo, ele menciona as livrarias Gato Sem Rabo, Megafauna, Mandarina, Livraria da Tarde e Monstra, que classifica como patrimônio cultural que deveria ser objeto de políticas públicas.

"As que dão mais certo são as que se especializam de alguma forma. A Gato sem Rabo tem uma curadoria só de mulheres. Só entra livro de mulher e é um sucesso total, embaixo do Minhocão, um lugar inóspito onde dificilmente uma livraria comercial abriria uma loja”, exemplifica.

continua após o anúncio

O jornalista, que foi curador da Flip entre 2018 e 2020, convoca, para além das políticas públicas, a responsabilização privada pelo fomento à leitura: “a gente cobra do Estado, mas grande parte da responsabilidade é dos entes privados. As empresas deveriam fazer clubes internos de livro, comprar a causa da leitura internamente, dar livro para funcionários”. 

Werneck trabalha atualmente na construção do Arranjo Produtivo Local do Livro em São Paulo, com o objetivo de reunir empresas editoriais em torno da resolução de problemas em comum. É defensor, por exemplo, de uma política de preço único definido em capa para novos livros, como estratégia para fortalecer a bibliodiversidade, em detrimento das políticas de campeões nacionais e internacionais. 

continua após o anúncio

“Proibir desconto parece dirigismo cultural, mas na verdade impede que o grande livreiro compre muitos livros e negocie descontos mais altos com as editoras. A livraria da esquina não consegue oferecer o mesmo desconto”, afirma.

Editor de uma revista de papel no ocaso do jornalismo em formatos físicos, Werneck desdenha da ideia de que o livro físico possa acabar ou perder seu status histórico. “O livro alimenta Netflix, podcast, noticiário político. Sua força como objeto cultural às vezes fica escondida, mas não está perdida”, argumenta. “O papel está acabando? Ouço falar isso, mas vejo livros por todos os lados.”

continua após o anúncio

A transferência de formato, em especial no âmbito da educação, lhe parece improvável e indesejável: “vamos mandar tablets para as escolas? O custo é alto, quebra. Não dá para substituir por nada a experiência sensível de uma criança mexer com um livro, com ilustrações, cores, cheiros”.

A revista Quatro Cinco Um, segundo seu editor, foi batizada em reverência ao romance distópico Farhenheit 451 (1953), do escritor norte-americano Ray Bradbury: “ele imagina um mundo em que o livro é proibido e queimado por polícia  bombeiros. Até parecia exagerado, mas infelizmente nosso nome tão literário e metafórico ganhou uma realidade muito forte”. 

continua após o anúncio

Werneck sintetiza o papel crucial da leitura na sociedade, inclusive como ferramenta inibidora de obscurantismos como os que tomam hoje o Brasil: “não é um hobby ou uma coisa que sai de moda. É uma habilidade mínima para você ser um sujeito na vida moderna”.

Assista:

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247