Paulo Roberto Pires: bolsonarismo cresceu com conivência dos intelectuais adversativos

Jornalista vê colaboracionismo em evitar termo 'fascismo', apontando ser legítimo sentir raiva pelo ocorrido nos últimos anos

(Foto: Reprodução | Reuters)


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Opera Mundi - O jornalista Paulo Roberto Pires esteve no 20 MINUTOS desta quarta-feira (03/08) e conversou com o diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, sobre a conivência de intelectuais brasileiros no processo de ascensão neofascista que levou à eleição de Jair Bolsonaro. 

Isso ocorreu, segundo ele, por conta dos "intelectuais adversativos", como denomina na coletânea de crônicas jornalísticas Diante do Fascismo - Crônicas de um País à Beira do Abismo (ed. Tinta da China), recém-lançada. "Boa parte das pessoas que têm voz pública desistiu de chamar as coisas pelo nome, de fazer nexo entre palavra e coisa”, critica. 

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Pelo uso do termo “mas”, o intelectual adversativo procura minimizar a gravidade de atos que ilustram a escalada fascista, de acordo com Pires: “o bolsonarista deu tiro numa festa de aniversário, dizem ‘houve isso, mas crime de ódio não é exatamente isso’. Um douto teórico adversativo acaba se encontrando com o general Hamilton Mourão, que disse que é um crime de bêbado. Uma adversativa é douta, a outra é tosca”.

Por diversionismo, o debate se restringe aos significados das palavras, e não aos atos.

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Em uma das crônicas de Diante do Fascismo, Pires remete à escritora feminista nova-iorquina Audre Lorde e traça distinções entre os sentimentos de ódio e raiva, para ele válidas para as eleições que se aproximam. 

"Raiva é o motor da insurreição. Quem não está com raiva está morto. O ódio nos trouxe até aqui, talvez a raiva possa nos tirar. Não é o ódio ao líder fascista, é a raiva pelo que nos infringiu e a vontade de mudar isso votando”, afirma.

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Ainda num espectro negacionista, materializa-se a figura frequentemente apelidada de “isentão”, em operação sob diversas faces desde o golpe de Estado em Dilma Rousseff.

Ele critica opinião difundida no articulismo político de que a carta em defesa do Estado Democrático de Direito em circulação seria manobra em favor do candidato Luiz Inácio Lula da Silva: “Você pode não querer assinar a carta, mas dizer que é uma peça de propaganda eleitoral define bem o seu lugar no mundo”.

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Neofascismo no Brasil

O jornalista remonta uma possível origem do neofascismo brasileiro à opção institucional de não punir os torturadores da ditadura civil-militar de 1964. Vem daí um dos pontos de choque em sua compreensão sobre o fenômeno que se desenrola desde 2016.

"Nesses últimos seis anos, a coisa que mais me apavorou foi Bolsonaro dedicando o voto pelo impeachment de Dilma àquele torturador canalha que não vou falar o nome. Pode-se argumentar que Bolsonaro fez coisas muito piores depois, mas do ponto de vista simbólico isso quer dizer muita coisa", declarou.

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O título, aliás, Diante do Fascismo reproduz o nome de um artigo publicado na extinta revista Época, dias antes à eleição de Bolsonaro, em 2018. Pires afirma que foi demitido na segunda-feira seguinte. Tratava-se de uma constatação inspirada pelo livro então recém-lançado Como Funciona o Fascismo, do filósofo norte-americano Jason Stanley. 

"Aquele livrinho lista 10 características do neofascismo, e todas elas pareciam o programa de governo de Bolsonaro”, relembra, ressaltando a confirmação do que dizia nestes quase quatro anos de bolsonarismo: “me dei ao trabalho de retomar o livro no ano passado e verifiquei que todos os 10 preceitos foram absolutamente cumpridos”.

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