Milton Temer: fundamental agora é a responsabilidade social, não a fiscal
Fundador do Psol defende independência do partido no governo Lula para liderar esquerda combativa no Congresso e na sociedade
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Opera Mundi - Tenente-coronel da Marinha cassado pela ditadura de 1964 e um dos fundadores do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), em 2003, o político e jornalista Milton Temer defende que seu partido não ocupe cargos no novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com o propósito de se manter combativo na luta anticapitalista no Congresso Nacional e na sociedade brasileira.
“É fundamental que haja uma manifestação independente, até para tensionar para que se concretize aquilo que Lula colocou no seu discurso: fundamental agora é a responsabilidade social, e não a fiscal”, afirmou o ex-deputado no programa 20 MINUTOS desta quinta-feira (17/11), com Breno Altman. “Isso teria nosso apoio independente, de maneira muito mais ostensiva e eficaz”, completa.
Crítico a posições econômicas mais à direita que percebe até dentro de seu partido, Temer cita o correligionário Guilherme Boulos, integrante da equipe de transição de Lula, para defender a manutenção de distância do próximo governo: “não é para fazer oposição sectária. É porque a melhor forma do Psol defender o governo Lula é mantendo sua independência. Um Boulos independente dando uma declaração pró-Lula é muito mais importante que um Boulos na transição ou no governo”.
Afirmando compreender a posição delicada de Lula em relação à formação de maioria no Congresso e em negociações com o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, ele descreve uma vantagem do petista de 2022 em relação ao de 2002.
“Lula fez agora, em condições muito piores, um discurso muito mais avançado que o que fez na entrada de 2002. Tomara que isso represente uma disposição de luta para a formação de uma base social consistente, que não fique em casa esperando as decisões de Lula”, disse.
O ex-petista faz objeção, ainda assim, às tratativas do governo de transição no parlamento: “fazer um acordo com Arthur Lira para ter a PEC da transição é dar queijo para o rato, sem colocar armadilha”.
A partir de sua experiência como militar, Temer afirma que, em 2002, o PT encontrou um estado de espírito antiliberal dentro das Forças Armadas, proporcionado pela pauperização da instituição durante os governos de Fernando Henrique Cardoso. Lula, em seu ponto de vista, deixou escapar a oportunidade.
Altman perguntou se Lula deveria seguir o exemplo do presidente colombiano Gustavo Petro ao enviar generais do país à reserva. “Não tem que fazer limpa, é só seguir a ordem natural das coisas. A lógica das Forças Armadas pressupõe a reforma compulsória, não tem sentido generais da ativa continuarem como tal nos Ministérios. Lula precisa provocar esse movimento. Se não provocar, vai ter contra ele o espírito conspiratório permanente contra qualquer transformação qualitativa na ordem social e econômica”, responde.
Capitalismo atual
Temer admite a grande dianteira atual do capitalismo e de tendências neofascistas em relação aos ideais de esquerda radical e revolucionária, e encontra demonstração disso no segundo turno das eleições deste ano. “Esperávamos uma distância muito maior entre Lula e Bolsonaro. Por que dá quase meio a meio? Porque hoje existe uma base social ganha pelo sistema capitalista. A burguesia tem uma tradição de controle do poder que nós das classes revolucionárias não temos”, avalia.
Em sua avaliação, a parcela reacionária da sociedade, que se mantinha como uma maioria silenciosa até as movimentações pelo golpe de 2016, continuará forte mesmo com a saída de Jair Bolsonaro da Presidência.
“A maior parte dos que estão na base bolsonarista é de pessoas alienadas. Quando o assalariado defende o fim da seguridade social, é porque é desinformado e absolutamente desligado da realidade”, interpreta Temer, para quem a esquerda terá, no próximo período, a tarefa de conscientizar um número crescente de pessoas e provocar mobilização popular em sentido oposto à da extrema direita.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247