Marcelo Ridenti: EUA e URSS travaram guerra fria cultural entre capitalismo e comunismo

Marcelo Ridenti
Marcelo Ridenti (Foto: Reprodução)


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Por Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - O professor titular de sociologia da Unicamp Marcelo Ridenti explicou no programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (10/10), com o jornalista Breno Altman, o conceito de guerra fria cultural. 

Ridenti utilizou o termo para ampliar ao campo simbólico da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética e os conflitos no mundo pós-Segunda Guerra Mundial, na disputa entre os modos de vida capitalista e comunista. “No campo simbólico, e essa é a ideia da guerra fria cultural, as guerras não se travam só com armas, mas também na disputa simbólica, para ganhar corações e mentes de um lado ou de outro”, afirma.

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Para o sociólogo, no momento atual do Brasil e do mundo, a eficácia da extrema direita reside em catalisar ódios e ressentimentos contra injustiças que são reais e concretas. Nesse contexto, a esquerda, que tradicionalmente criticava o sistema capitalista e a democracia burguesa, é forçada a defender essas instituições ao ver aproximar-se a barbárie de um mundo de destruição e sem cultura. 

“A extrema direita está aproveitando em todo o mundo o lado antissistêmico. Temos que entender que esse mundo consegue espaço porque está conseguindo catalisar ou agrupar o ódio que as pessoas têm de uma sociedade que, no fundo, é injusta. A esquerda não está sabendo levar isso para um sentido de transformação, de ampliação democrática socializante, e está perdendo para essas falsas ilusões”, argumenta.

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Em O Segredo das Senhoras Americanas: Intelectuais, internacionalização e financiamento na guerra fria cultural (ed. Unesp), Ridenti trata da internacionalização cultural comunista e de como pensadores latino-americanos, como o chileno Pablo Neruda e o brasileiro Jorge Amado, fizeram parte desse processo.

No pós-Segunda Guerra Mundial, intelectuais e artistas participaram da guerra fria cultural internacional através do Congresso Mundial da Paz, pelo lado comunista, e do Congresso pela Liberdade da Cultura, pelo lado capitalista, idealizado em reação ao primeiro. 

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“Picasso ganhou status de artista pop por intermédio das pombinhas da paz que desenhou ao longo do tempo, enquanto tiveram vigência esses congressos pela paz mundial”, documenta o escritor. “A palavra paz não atraía só comunistas, mas todo um campo, inclusive religioso, que não queria saber mais de guerra", disse.

Ridenti traça um paralelo do atual jogo político brasileiro com o momento anterior à Guerra Fria, da frente aliada criada contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial. 

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Para ele, pode-se falar em guerra fria cultural na atual disputa eleitoral brasileira, quando o adversário passa a ser compreendido como inimigo. “Às vezes é tênue a linha do que é uma disputa democrática de convencimento e uma guerra cultural. Nas duas campanhas presidenciais se veem alguns setores culturais sendo disputados de lado a lado, e felizmente a maior parte está do lado da candidatura democrática de Lula", afirmou.

Questionado por Altman se existe o “marxismo cultural" tão apregoado pela propaganda de extrema direita, o sociólogo responde: “essa é uma pecha que Olavo de Carvalho inventou. É uma construção ideológica da direita, mas que tem algum fundamento, porque o marxismo tem uma produção cultural muito expressiva. Isso não significa que existe um chamado marxismo cultural, que instrumentaliza as pessoas para uma política formulada pelos marxistas maus que querem acabar com a ideia de Deus. Isso é uma imensa bobagem”. 

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Em especial a partir do desmonte da União Soviética, a esquerda abriu mão progressivamente de direcionar o movimento político e cultural, segundo Ridenti, abrindo caminho para o avanço da direita.

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