Manuela d’Ávila: esquerda precisa se reconectar com a vida cotidiana do povo urgentemente

Para ex-deputada, setores progressistas negligenciam solidariedade no combate à fome e deixam espaço aberto para extrema direita; assista na íntegra

Manuela D´Ávila
Manuela D´Ávila (Foto: flickr/PCdoBnaCamara)


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Por Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - A ex-deputada federal pelo Rio Grande do Sul, Manuela d’Ávila, afirmou, no programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (06/07), que setores progressistas brasileiros se afastaram da esfera pública tanto no mundo virtual como no real e, portanto, se desconectaram da vida cotidiana da maioria do povo.

"Muitos de nós resistimos a iniciativas de solidariedade prática, como quem diz que é assistencialismo, mas são espaços de articulação de saídas para o dia a dia do povo”, disse a ex-parlamentar filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), defendendo uma adoção imediata de ações emergenciais para o combate à fome na base da população brasileira.

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Para d'Ávila, o período da pandemia evidenciou ainda mais essa ausência de articulação e de atuação prática. “Como não tivemos um grito unificado em defesa das cozinhas das escolas públicas abertas produzindo alimento para o povo? Não tem explicação para isso”, diz, acrescentando que tais espaços vagos, como já vinha acontecendo, acabaram preenchidos por comunidades de base como as reunidas em torno de igrejas evangélicas.

A partir da institucionalização que acomodou os governos progressistas de 2003 a 2016, argumenta a comunista, a extrema direita avançou sobre os espaços deixados vagos e continuará forte quaisquer que sejam os resultados eleitorais de 2022. 

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Em sua avaliação, o bolsonarismo está bem organizado e terá entre 15% e 25% do Congresso Nacional. Nesse sentido, ela ainda faz um alerta para uma das consequências graves do processo de afastamento entre governos progressistas e a massa da população. “Só vamos ter a interrupção do bolsonarismo porque Lula resgatou seus direitos políticos e, no alto de seus 76 anos, topou disputar a eleição. Se não fosse ele, nós não teríamos força para derrotar esse grupo”, opina.  

Manuela, que foi candidata a vice-presidenta da República em 2018 na chapa de Fernando Haddad, identifica os “feixes de luz” que despontaram na “escuridão severa” pós-2014: estão representados pela juventude que se manteve na rua, pelas mulheres mobilizadas a partir da construção do golpe contra Dilma Rousseff e pelos negros e negras que constituem a base trabalhadora do país e se expressam em bancadas antirracistas em diversas instâncias legislativas. 

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Quanto à questão religiosa, D’Ávila combate a ideia de um “sujeito universal” evangélico, difundida habitualmente à esquerda, e diz não reconhecer uniformidade na população neopentecostal. “Na primeira vez que fui a um templo desses, o que me impactou foi a autoestima das mulheres negras superexploradas no trabalho, vítimas de violência, que chegam ali e celebram, cantam, se arrumam”, declara. De modo análogo, ela questiona a uniformização corrente da “classe operária” ou “classe trabalhadora” na compreensão da desigualdade brasileira.

A ex-deputada, que se afirma marxista, rejeita a avaliação de que suas posições políticas sejam “identitaristas”: “quem são os trabalhadores mais explorados do nosso país? Falar em negros e negras é falar de trabalho precarizado”. A rejeição ao “identitarismo" seria então, segundo ela, a reafirmação de uma determinada identidade, do homem branco em posição de poder. 

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"Não sei que sujeito universal é esse que fica revoltado quando falo que existe uma estrutura de poder que privilegia determinadas pessoas em determinadas posições”, afirma.

Entre esses elementos concretos, cita a diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras em cargos e posições iguais, a população carcerária majoritariamente negra, a ausência de pensadores negros na bibliografia acadêmica nacional e o próprio passado brasileiro. 

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"Tivemos cinco milhões dos 10 milhões de mulheres e homens escravizados na África. Se nós, marxistas, não colocarmos isso no centro da nossa formação estamos olhando para o lugar errado. Tem a ver com certo tipo de pensamento muito eurocentrado, que desconecta o debate da nossa realidade concreta”, argumenta.

Esse conjunto de dados tem implicação direta no dia a dia político, em sua avaliação: "Tem servido apenas para não percebermos o que o povo já percebeu, que sua representação política precisa ser mais plural e estar mais conectada com a classe trabalhadora. E, surpresa, a classe trabalhadora no Brasil tem negros e tem mulheres, e isso não é sobre identidade, é sobre desigualdade. Vocês acharam que estavam na Suécia e não estão”. 

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Manuela d’Ávila explica também as razões pelas quais tende a não participar da disputa eleitoral neste ano, ligadas à necessidade de buscar a unidade política mais ampla possível para derrotar o bolsonarismo no Brasil e no Rio Grande do Sul. Em seu estado natal, o objetivo da “reconstrução de relação” seria evitar o que aconteceu nas duas eleições mais recentes, quando o segundo turno foi ocupado por uma alternativa de extrema direita e outra da direita neoliberal. 

Mas também contempla na decisão o que outros chamariam de “identitarismo" e ela entende como fator primordial para o avanço progressista: “Minhas candidatas a deputada federal e estadual vêm da bancada antirracista de Porto Alegre. Não é valorizar identidade em detrimento de projeto político. A esquerda tem que enfrentar a desigualdade, e no Brasil igualdade sem recorte de raça e de gênero não existe”. 

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