Leonardo Boff: Teologia da Libertação é o futuro da Igreja Católica

Para teólogo, papa Francisco professa fé libertadora e Lula deve radicalizar políticas sociais; assista

Leonardo Boff
Leonardo Boff (Foto: Flickr/ Cadu Bazilevski)


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Por Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - O teólogo Leonardo Boff afirmou no programa 20 MINUTOS ENTREVISTA com Breno Altman desta sexta-feira (10/06) que o Papa Francisco mantém viva a Teologia da Libertação e que o movimento social, do qual é figura de referência, representa o futuro da Igreja Católica.

“O Papa Francisco vai criar uma nova genealogia de papas que vêm das periferias do mundo. Nós somos maioria, 24% dos católicos estão na Europa e 62% na América Latina”, argumentou o escritor, defendendo que "temos maioria e podemos reivindicar um papa que represente uma igreja viva, não mais colonial como a europeia".

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Para Boff, o modelo de religião criado no mundo rico está decadente, já que, de acordo com ele, "como decadente são toda a Europa e o Ocidente, e junto vai aquele tipo de igreja imperial, que assume o poder como centro”. Submetido em 1984 a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé (ex-Santo Ofício), o religioso foi condenado ao chamado "silêncio obsequioso" e foi deposto de todas as suas funções religiosas. 

O ex-frei franciscano falou da centralidade da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base na formação do Partido dos Trabalhadores (PT) e de organizações sociais como o Movimento Sem Terra (MST). Boff defende a ligação entre a religião e a política, aquela que trata do bem comum e da qual todos deveriam participar, inclusive padres e bispos. 

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“A fé ajuda a ter boas opções e sempre se perguntar em que medida entram as grandes maiorias e os pobres em cada projeto político”, disse. O teólogo apontou que por trás de projetos que debatem a economia do país está a "elite do atraso interessada em fazer grandes fortunas à revelia e às custas dos pobres e da natureza".

Boff defende o rompimento com antigos tabus e dogmas católicos impostos de cima para baixo, sempre a partir do princípio de que a igreja tem o dever de estar próxima ao povo, e não encastelada: “a igreja tem que se entender como um corpo dentro da sociedade entre outros grupos e organizações. Que tenha os dogmas dela, tudo bem. O que ela não pode é impor a todo mundo sua visão. Tem que se compor com os demais”. 

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Consequentemente, o catolicismo não deveria interferir em questões de liberdade individual, “desde que não implique opressão do outro”.

Futuro do Brasil

O teólogo espera do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem visitou na prisão, uma aproximação íntima com os valores caros à Teologia da Libertação num eventual próximo mandato. “Ele me disse que chegar de novo à Presidência é a última chance de sua vida em fazer uma grande revolução, e que vai fazer. Fará um discurso político para manter a unidade nacional, mas a prática vai ser radical a favor dos pobres, oprimidos, indígenas, mulheres, LGBTs e todos os que são violados diuturnamente”, narra. 

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Por outro lado, Boff se opõe frontalmente ao presidente Jair Bolsonaro, a quem só se refere como “o inominável”. A postura religiosa do direitista é um dos alvos de sua crítica.

“O inominável manipula a fé, comete continuamente um pecado contra o Segundo Mandamento, que é usar o santo nome de Deus em vão. No coração dele não tem Deus, tem ódio, desprezo, falta de cuidado da saúde do povo, maldade. É um homem submisso, refém do impulso de morte e não de vida", afirmou.

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O único mérito de Bolsonaro, diz, seria o fato de ter aberto as portas de uma dimensão da sociedade que é raivosa como ele e odeia covardemente os pobres e as minorias. “Eles, que eram invisíveis, agora se tornaram visíveis, violentos. Desse lado não está Deus, está Moloch, que exigia o sacrifício diário de uma criança”, comparou.

1984: processo no Vaticano

Boff contou durante a entrevista detalhes sobre o processo que enfrentou no Vaticano em 1984, liderado pelo cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI. Descreveu a pompa das vestes do cardeal, o ambiente soturno em que se defrontaram e o ato de censura por trás do silêncio obsequioso: “eles chamam de diálogo, mas é interrogatório mesmo. Galileu Galilei foi trazido de maca porque estava quase morrendo e interrogado”. 

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Sobre a contiguidade entre a Inquisição e a Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, afirma que o nome foi trocado, mas edifício e a mentalidade são os mesmos: "só não queimam porque têm vergonha. Mas queimam intelectualmente”. 

Boff lembrou o apoio dos cardeais brasileiros Paulo Evaristo Arns e Aloísio Lorcheider no processo e afirmou que ambos foram castigados e colocados à margem pelo Vaticano a partir do episódio. Segundo ele, Arns disse pessoalmente a João Paulo II que o papa fez a Boff o mesmo que os militares brasileiros faziam com seus opositores. 

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“Roma nunca esquece nada, Roma cobra tudo, Roma nunca perdoa”, sintetiza, em referência ao setor que ele classifica como triunfalista e, portanto, vergonhoso. As queixas contra a Teologia da Libertação, segundo ele, partia dos bispos mais reacionários e de empresários “catolicões” ligados a tradição, família e propriedade.

O julgamento de 1985, paradoxalmente, deu visibilidade e prestígio à teoria da libertação. “Hoje, graças a Deus, a Teologia da Libertação foi tão forte que conseguiu chegar no centro de Roma com um papa, Francisco, que se define como teólogo da Libertação e se reconciliou com todos nós que fomos condenados", disse.

Em comentário sobre o avanço das religiões neopentecostais, criticou setores que encurtam a mensagem religiosa, reduzindo-a somente à prosperidade. Ele projeta o advento de uma nova religião, nem católica nem evangélica: “Sou da opinião que o futuro da igreja no Brasil e na América Latina não será católico. Será um sincretismo das muitas tradições - a europeia católica, a luterana, os pentecostais, as religiões afro e indígenas. Estamos fazendo uma síntese", declarou Boff.

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