Krenak denuncia crime e garimpo no coração do território ianomâmi: “eles não têm mais uma casa para onde ir”
Líder indígena lamentou relatos de horror nas terras ianomâmi: "ataques armados, incêndio das habitações, assalto nas trilhas dos indígenas, estupro e violência contra as mulheres"
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Por Regina Zappa, 247 - O ambientalista, filósofo, poeta, escritor e uma das maiores lideranças indígenas no Brasil, Aílton Krenak, afirmou à TV 247 que a situação na Terra Indígena Ianomâmi é agora muito mais grave porque, além dos ataques e destruição de sempre, o crime e o garimpo chegaram ao coração do território. Com um agravante, diz ele: “não são apenas os garimpeiros, como historicamente acontecia. Agora tem o braço do crime organizado atuando ao lado deles e contaminando a vida política da região. Uma parte do território brasileiro já está sendo tomada por organizações criminosas, que destroem a floresta e ameaçam o povo ianomâmi”.
Em conversa no Távola, da TV 247, Krenak se mostrou indignado e preocupado com a situação: “estamos nos acostumando com a violência generalizada, que muitas vezes parte dos próprios agentes do Estado, como foi no governo passado, com militares e civis, com ministro mandando abrir a porteira. A fronteira norte da Amazônia, a partir do Vale do Javari, encostando na Venezuela e Colômbia já está dominada por criminosos".
Em junho passado, Krenak esteve nas terras ianomâmi, convidado por Davi Ianomâmi, e se reuniu em assembleia com líderes de diversas aldeias. “Cada um relatava o que estava acontecendo em suas áreas. Era um horror o que relatavam. Ataque armado nas aldeias, incêndio das habitações, ataque nas roças, assalto nas trilhas dos indígenas, estupro, violência contra as mulheres", declarou.
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Para Krenak, é provável que entre 20 e 30% de toda a população ianomâmi, que agora está sob os cuidados das agências do governo brasileiro, esteja doente e possa estar experimentando uma espécie de pandemia, sendo que alguns grupos podem se extinguir: "existe uma variação linguística e quando um grupo específico sofre um dano desses, ele pode desaparecer".
Krenak afirma que, para além da ajuda emergencial que agora se faz urgente, é preciso fazer uso de toda tecnologia existente para “curar” a região: "para que o povo possa se reerguer é preciso usar tecnologia, meios e conhecimento para abordar todas as áreas que estão contaminadas com mercúrio para, por exemplo, demarcar as áreas com veneno nas águas e fazer todas as ações de controle desse contágio. É preciso, depois, evitar que os ianomâmi voltem para esses locais contaminados. Eles não têm como saber para onde escorre o veneno que atinge as águas, as plantas e os animais".
Segundo ele, “não dá para achar que vão resolver o quadro de saúde deles e devolvê-los para casa. Eles não têm uma casa para ir agora.”
Krenak falou da importância do governo brasileiro recorrer às novas relações com a Europa ou Estados Unidos para ajudar a ir a campo, detectar o material, ver a gravidade desse contágio e a possibilidade de ele se disseminar depois da retirada do garimpo.
“Vivo perto do Rio Doce, contaminado pelo rompimento da barragem. Vamos ficar mais de 10 anos sem poder usar o rio. Os Krenak daqui da beira do Rio Doce compartilham agora da mesma desgraça dos ianomâmi. Não se pode mergulhar, beber ou pescar nessas águas. É uma situação gravíssima. Como uma desgraça nuclear", lamentou.
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“Do ponto de vista ambiental, estamos em uma desgraça total. O Brasil é agora o hotpoint da tragédia ambiental. Todos, incluindo ONU, deviam ser convocados a botar o que eles sabem na mesa. No sentido global, estamos instalados numa espécie de caos. Todo consumo, o modo de habitar nossas cidades, a produção de energia, de alimento são uma peste".
Krenak acha que é preciso envolver a OMS (Organização Mundial da Saúde) na questão brasileira: “uma economia rendida pelo neoliberalismo mata rios e florestas porque quer ganhar dinheiro, mas sabemos que tem outra maneira até de ganhar dinheiro, sem destruir tudo. Só um burro destrói tudo. É como a história da galinha dos ovos de ouro; destruir a floresta no momento em que ela é um ativo planetário é uma burrice. Não é que os europeus subitamente estejam preocupados com os ianomâmi. Estão preocupados com o pulmão do mundo. Os rios e a floresta amazônica prestam um serviço ambiental.”
“Na Amazonia, estão em condição de conservação 120 milhões de áreas de floresta que são áreas indígenas, reservas extrativistas, etc... São habitantes que não destroem a floresta ao viver lá dentro", acrescentou.
Krenak também reagiu aos comentários do governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas): “só um negacionista estúpido como o governador de Roraima pode dizer que os indígenas vivem feito bicho no mato".
O ambientalista rechaçou também a declaração do ex-deputado Aldo Rebelo (PDT) de que os próprios indígenas, ou muitos deles, participariam do garimpo: "o comentário de Aldo Rebelo sobre índios trabalhando em garimpo é irresponsável. Só falta dizer que os indígenas estão convidando garimpeiros para montar garimpos nas suas terras. Aldo Rebelo odeia o povo indígena, ele é um mentiroso, escrevia coluna no jornal contra a Marina Silva".
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