Júlio Cezar Andrade: “racismo na infância causa efeitos psicossociais, como baixa autoestima e negação da identidade”

Covereador e assistente social considera que discutir o racismo na infância é falar sobre os filhos e filhas da classe trabalhadora, os que mais sofrem os impactos; assista

Júlio Cezar Andrade
Júlio Cezar Andrade (Foto: Quilombo Periférico/PSOL)


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247 - À medida em que os debates em torno do preconceito racial se ampliam, mais percebe-se que as consequências do racismo na vida de suas vítimas se enumeram. Uma das fases mais traumáticas desse processo é a infância, onde a criança está construindo a sua identidade e carece de referências socioculturais para fortalecê-la. Assistente social e pós-graduado em Direito da criança e do adolescente, Júlio Cezar Andrade, que é covereador da mandata coletiva Quilombo Periférico pelo PSOL em São Paulo, diz que “antes de falarmos sobre racismo na infância, precisamos entender que o racismo é, de forma objetiva e concreta, todo ato, ação e atitude violenta, constrangedora e vexatória, que tem por objetivo manter uma hierarquização de uma raça sobre a outra. O racismo sofrido na infância afeta as demais fases sociais da nossa vida, causando efeitos psicossociais como a baixa autoestima e a negação da sua identidade étnica, uma vez que a criança vítima de racismo não vai querer se reconhecer como preta”.

Júlio Cezar, que também é Babalorixá da casa Ilê Asè Ayedum, chama a atenção para o racismo sofrido pela criança já no seu processo de gestação, quando a mulher preta não recebe os devidos cuidados no processo gestacional. “O racismo na vida dessa criança já começa quando a sua mãe, uma mulher preta, sofre violência obstétrica antes de tê-la. Falar sobre esse tema, é falar da violência presente e institucionalizada nas relações sociais e falar da necessidade de nós compreendermos, aprendermos e denunciarmos as práticas de racismo na infância. Outro efeito psicossocial do racismo na infância, é o sentimento de angústia e de revolta experimentado ao mesmo tempo pela criança, o que gera dificuldades de relacionamento e queda do seu rendimento escolar. E muitas de nossas crianças sofrem racismo nos lugares de convivência familiar, comunitária e nos espaços de atendimento público. Consequências do racismo estrutural, que afeta a dimensão social e econômica das famílias negras, e, consequentemente, o direito de alimentação e nutrição dessas crianças”.

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O covereador evoca o pacto narcísico da branquitude, que nega a existência de um racismo institucional na sociedade, o que mascara o racismo sofrido por crianças e adolescentes pretos no Brasil. “É uma negação estratégica que visa esconder a existência do racismo no espaço social. Por exemplo, quantas crianças negras estão em processo de adoção no Brasil há muitos anos? Tem crianças que teve o poder familiar destituído e permanecem no serviço de acolhimento mais do que os dois anos previstos na lei. Estamos falando de crianças que são inadotáveis, porque o quesito raça/cor, é, por vezes, um elemento que a s famílias exigem no processo de escolha no cadastro de adoção. “Júlio Cezar Andrade lembrou um episódio ocorrido em 2019, quando a Comissão da Infância e Juventude da OAB-MT, juntamente com o Pantanal Shopping, organizou um desfile de crianças negras para que famílias pudessem escolhê-las para adoção. “Quem não se lembra daquele absurdo que colocou crianças negras em um determinado traje, desfilando numa passarela para famílias escolherem qual delas seria adotada? Isso é uma reprodução do projeto e do pensamento colonial.”

Para o especialista em direito da criança e do adolescente, o combate ao racismo na infância passa pelo combate objetivo e estratégico ao pensamento colonial ainda presente nas relações sociais. “Além da reprodução hierarquizada nas relações sociais, no Brasil ainda temos a questão do fenótipo. Ou seja, quanto mais retinta essa criança for, mais a expressão desse racismo estrutural e institucional ela irá sofrer nessas relações. ” Outra questão abordada por Júlio, é o comportamento social de jovens pretos que sofreram racismo na infância. O assistente social explica que “o racismo produz muitas dores e cada ser humano, ao mesmo tempo que é múltiplo, ele é único, peculiar e tem subjetividades. Precisamos entender que o racismo causa impactos no comportamento dessas crianças em outras fases de suas vidas. É o reflexo da violência por elas sofrida”. Ele também falou sobre a candidatura da mandata Quilombo Periférico a uma vaga na ALESP. “Nós já conquistamos um mandato na vereança e estamos ampliando o nosso projeto pleiteando uma cadeira na ALESP. Porque, sem estarmos disputando e ocupando os espaços de poder para os nossos e pelos nossos, nós seremos cada vez mais atropelados”.

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