Juca Kfouri: há 40 anos, Itália vencia o Brasil e derrotava o futebol dos sonhos na Copa

Jornalista esportivo diz que no dia 5 de julho de 1982 italianos foram melhores que brasileiros, que até então faziam uma campanha excepcional

(Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)


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Opera Mundi - O jornalista esportivo Juca Kfouri declarou, no programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta terça-feira (05/07), que sofre até hoje com a partida entre o Brasil e a Itália, no Estado de Sarriá, em Barcelona, durante a Copa do Mundo da Espanha em 5 de julho de 1982. O evento que ficou conhecido como "Tragédia de Sarriá" terminou com a vitória dos italianos por 3 a 2, desclassificando o Brasil do campeonato.

"Ali tinha mais do que futebol. Tinha um Brasil que a gente estava reconstruindo, como vamos ter que reconstruir com mais dificuldade ainda a partir de outubro e de janeiro do ano que vem”, avalia.

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Para Kfouri, naquele dia os italianos foram melhores que os brasileiros com seu “futebol dos sonhos”, que até então faziam uma campanha excepcional. “Quem se der ao trabalho de ver os 90 minutos desse jogo, que está no YouTube, verá que no todo a Itália jogou melhor que o Brasil”, afirma, acrescentando ter sido um "jogo magnífico", estando "à altura do que foi Brasil e Inglaterra na Copa de 1970". "O que deu errado naquela tarde foi que a Itália jogou demais, estava encantada”, declara. 

O jornalista aponta que por isso algumas críticas no pós jogo foram injustas, com doses de racismo estrutural atrás da responsabilização do jogador Toninho Cerezo pela derrota. “Ele fica com a culpa do segundo gol do Paolo Rossi, porque erra o passe, o que é uma injustiça. Tinham que pegar o jogador negro da seleção como o responsável pela derrota”, diz. 

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Ele observa que, num tempo em que os jogadores da seleção brasileira atuavam efetivamente em times do Brasil, a escalação do técnico Telê Santana incluía os maiores ídolos do Internacional (Falcão), do Corinthians (Sócrates) e do Flamengo (Zico) e o segundo maior ídolo do Atlético Mineiro (Toninho Cerezo). "Fora Falcão, que já estava no Roma, todos jogavam no Brasil. Hoje, só Everton, que é terceiro goleiro, e Guilherme Arena, que talvez vá, talvez não vá como lateral-esquerdo reserva”, compara.

Kfouri contextualiza o ambiente que cercou a Copa da Espanha, quando ele atuava como diretor da revista esportiva Placar: “1982 nasce com o trauma da morte de Elis Regina nas circunstâncias em que se deu, e íamos ter eleições para governador depois de 17 anos. Tínhamos um clima já de final de ditadura, da distensão lenta e gradual, e uma efervescência libertária no Brasil”. 

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Ele lembra ainda que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) era o conservador Giulite Coutinho mas independente em termos financeiros, diferentemente dos que o antecederam e de todos que o sucederam.

No jogo anterior à desclassificação, contra a Argentina, o Brasil venceu por 3 a 1 e Maradona foi expulso de campo. Kfouri classifica essa como uma das grandes partidas a que assistiu na vida: “A Argentina era a última campeã do mundo, com aquele jogador que aparecia como um fenômeno (Maradona), e o Brasil dá um baile. Quando acabou esse jogo, não havia dúvida no mundo de que o Brasil ia ser campeão. Era o futebol dos sonhos, os jornais espanhóis chamavam de futebol de outro planeta”.

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Em conversa com o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, os jornalistas discutiram o trio de "desgraças esportivas" vividas pelo Brasil, ao qual Altman acrescenta a derrota de 2 a 1 para o Uruguai na Copa de 1950, no Brasil, e os 7 a 1 da Alemanha em Belo Horizonte em 2014. 

Para Kfouri, a mais traumática delas foi a derrota de 1950: “Aquilo acabou degenerando no complexo de vira-latas de Nelson Rodrigues, na sensação de que éramos um povo incapaz, que não podíamos nem ganhar uma Copa feita em casa dependendo de um empate e saindo na frente, ou seja, que éramos um fracasso”. 

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Na mais recente Copa de 2014, Kfouri diz não ter conseguido sequer sentir tristeza: “Fiquei perplexo com o que estava acontecendo e convencido de que aquilo era um aborto da natureza. Até nas redes antissociais, aquilo virou meme em cinco minutos. Não teve o pranto de 1950, nem o de 1982”.

A derrota para a Itália funcionou como um divisor de águas que colocaria em xeque o “futebol-raiz” ou “futebol-arte” então praticado pelos jogadores brasileiros. "Colocou-se a partir dali a questão do futebol-força contra o futebol-arte, do ‘resultadismo’ contra o desempenho", opina. 

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Perguntado pelo jornalista Fábio Altman, atual editor da revista Placar, se a história do futebol teria sido outra caso o Brasil tivesse ganhado o jogo no Sarriá, ele disse que sim. "Acho que o futebol teria tomado um outro rumo, como teria tomado se a Holanda tivesse vencido a Alemanha em 1974. O time da Holanda era um balé", comenta.

A Copa de 2014 no Brasil é exemplo, na opinião do jornalista, de que futebol e política ocupam lugares separados, que não devem ser confundidos: “Dilma Rousseff foi vaiada de maneira covarde e cafajeste na abertura, era a presidenta no 7 a 1, e foi reeleita em seguida, três meses depois. Não existe a relação eleitoreira que as pessoas querem fazer”.

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Pelo mesmo motivo, ele afirma que não deixa de torcer pela seleção brasileira em nenhuma circunstância, já que as eventuais vitórias são do Brasil, e não dos governos de cada ocasião. “É por isso que fui contra mudar as cores da seleção. Se apropriaram das cores da camisa da seleção brasileira? Tomemos ela de volta. O verde-amarelo não é deles”, finaliza.

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